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Estado de Minas

Conheça mães com histórias marcadas por coragem e persistência

No dia dedicado a elas, histórias de perseverança e superação de quatro mineiras surgem como um presente para milhares de mulheres que enfrentam as dores e recompensas da maternidade


postado em 13/05/2018 06:00 / atualizado em 13/05/2018 08:22

Aline Costa, com João Vítor e Maria Clara, que nasceu desafiando prognóstico médico: 'Foi um milagre'(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Aline Costa, com João Vítor e Maria Clara, que nasceu desafiando prognóstico médico: 'Foi um milagre' (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Esta reportagem poderia se chamar também “mães da persistência” e, acima de tudo, da coragem. A paciência do título fortalece a ideia de que tudo tem seu tempo; a persistência traduz a luta contra os reveses da vida; e a coragem, de forma ampla, na acepção da palavra que demonstra força e amor superlativos. Neste domingo tão especial para as famílias, mineiras que conhecem bem cada uma dessas características revelam suas histórias particulares sobre a maternidade e, depois de enfrentar provações impostas pela vida, se mostram tranquilas ao lado dos filhos, embora os olhos brilhem pela emoção e o coração dispare na sintonia da felicidade ao abraçá-los.

Com um sorriso sereno, a recepcionista Cristiane Cássia dos Santos celebra pela primeira vez a data no papel de protagonista. Há dois meses e meio nasceu Maria Júlia, depois de duas gestações interrompidas. Na primeira, ela sofreu um aborto espontâneo; na segunda, perdeu o bebê uma semana antes de ele vir ao mundo. “Agora, posso dizer, com orgulho, que sou mãe. Enfrentei frustrações, medos e angústias, mas valeu a pena”, afirma a moradora de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Em Jaboticatubas, a 62 quilômetros da capital, o destino surpreendeu a professora Aline Torres Costa. Em 2004, dois anos antes de se casar, ela recebeu de um médico a sentença de que não poderia ter filhos. Não entrou em desespero e, com o marido, decidiu adotar um menino, João Vítor, hoje com 14. Mas não é que em 2012, sem qualquer tratamento de fertilização, Aline ficou grávida de Maria Clara? “Foi um milagre de Deus. Eu participava de um grupo de orações quando uma pessoa me disse que o antigo sonho de ter uma menina seria realizado. E aconteceu.”

Silmara Silva com Jeferson e Matheus, que comemoram aniversário hoje: 'A saúde é o maior presente'(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Silmara Silva com Jeferson e Matheus, que comemoram aniversário hoje: 'A saúde é o maior presente' (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Já para a cabeleireira Silmara Silva, que vive em Ribeirão das Neves, na Grande BH, o domingo é de festa em dose dupla. Mãe dos gêmeos Jeferson e Matheus, ela celebra ao lado do marido os 8 anos dos meninos. “O maior presente é para mim: a saúde dos dois”, ressalta Silmara, explicando que ambos tiveram leucemia, passaram quatro anos fazendo quimioterapia e terminaram o tratamento. “Não foi a doença que me pôs mais forte. Foram eles que me deixaram mais forte”, diz a mamãe, com o rosto colado nos garotões, que só discordam na hora do futebol: um é Cruzeiro, o outro, Atlético. A mamãe coruja, sábia como ela só, prefere não se manifestar.

Cristiane celebra a data após duas gestações interrompidas: depois de frustrações e medo, o orgulho de ser mãe(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Cristiane celebra a data após duas gestações interrompidas: depois de frustrações e medo, o orgulho de ser mãe (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Bem longe dessa família, em Ibiaí, Norte de Minas, outra mãe conhece bem a dureza da luta contra a leucemia e a satisfação de sentir que está vencendo a batalha. Mas, no caso da dona de casa e ex-agente de saúde Amanda Cristina Dayrel, de 28, a alegria veio foi em dose tripla. Ela é mãe do menino Vithor Dayrel, de 9 anos, diagnosticado com a doença aos 5. Pensando em salvá-lo, ela engravidou, na esperança de coletar células-tronco do cordão umbilical do bebê para, se necessário, fazer um transplante de medula, pois mais ninguém da família era compatível. Da gravidez nasceram os gêmeos Maria Alice e Miguel, hoje com 6 meses. Mas o casal não foi a única bênção embalada por Amanda: como o mais velho respondeu bem ao tratamento quimioterápico, não houve nem mesmo a necessidade de transplante. Hoje, Vithor, que tanto pedia um irmãozinho, ganhou dois de presente. Além da saúde de volta.

Cristiane, Aline, Silmara, Amanda – e como elas muitas outras mães-coragem Minas, Brasil e mundo afora – trazem hoje para milhares de mulheres que enfrentam as dores da maternidade exemplos de superação e uma mensagem em comum: ser mãe é, acima de tudo, jamais perder a esperança.


"As mães nunca devem desistir. Coloquem tudo nas mãos de Deus. Também deem muito amor e carinho a seus filhos, que eles passam a se sentir mais fortes"

Amanda Cristina Dayrel



O renascimento da esperança


O quintal da casa, no Bairro Severina, em Ribeirão das Neves, já está arrumado para a festinha de aniversário dos gêmeos Jeferson e Matheus, que completam hoje 8 anos. O pai, José Cosme Mendes, marceneiro, caprichou nas tintas e recriou, na parede, o duelo do Galo e da Raposa, times do coração dos meninos. Mais do que satisfeita está a mãe, Silmara Silva, cabeleireira, que além de ganhar muitos beijinhos pela data, tem a oportunidade de celebrar em dose dupla. “É a primeira vez isso ocorre, o aniversário deles no Dia das Mães”, afirma.

Tanta alegria premia o fim de um longo período de apreensão, de noites sem dormir e atenção redobrada para cuidar dos gêmeos univitelinos, que passaram por um longo tratamento no Ambulatório de Oncologia da Santa Casa de Belo Horizonte. “Durante esse período, muitas vezes tivemos que juntar nossos cacos para continuar levando adiante, com muita força e fé”, lembra Silmara, evangélica, que diz respeitar a religião do marido, com quem está casada há 18 anos. “Sou católico, sou devoto de Nossa Senhora Aparecida”, diz o marceneiro, apontando a imagem da padroeira do Brasil no alto de um armário.

Silmara com os gêmeos que superaram doença e festejam o aniversário pela primeira vez no Dia das Mães: 'Muitas vezes tivemos que juntar nossos cacos(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Silmara com os gêmeos que superaram doença e festejam o aniversário pela primeira vez no Dia das Mães: 'Muitas vezes tivemos que juntar nossos cacos (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Matheus e Jeferson, garotões fortes com cabelos muito pretos, nasceram 10 anos depois do casamento de José Cosme e Silmara. “Fiz tratamento para engravidar durante seis anos, por ter ovário policístico e problemas hormonais. Não deu certo. Depois, precisei de outra dose de paciência, principalmente porque havia muita pressão para que adotássemos uma criança. Curiosamente, quando essa pressão aumentou, eu já estava grávida e não sabia.”

MUDANÇAS Os bebês nasceram saudáveis, mas quando Jeferson estava com 2 anos e 8 meses, em janeiro de 2013, foi diagnosticado com leucemia. “Fomos avisados de que poderia ocorrer o mesmo ao Matheus. E passou um ano e meio, até que, em julho de 2014, ele também foi diagnosticado com a doença”, diz Silmara. Dedicado em tempo integral aos filhos, o casal enfrentou dificuldades financeiras, contou com a ajuda de familiares, desativou o salão de beleza e, sem plano de saúde, partiu em busca de hospitais públicos. Agora, com o fim do tratamento, a família se refaz, e dá graças a Deus por não precisar pagar aluguel.

Com os olhos brilhando, Silmara afirma que os meninos são o seu bem mais precioso. “Outro dia encontrei um bilhete deles: ‘Mamãe, eu te amo. Obrigado por cuidar de mim’.” Os dois assinaram, e a cabeleireira crê piamente que só sendo mãe para entender exatamente o que significa cada letra naquele papel.

Três vezes felicidade


Amanda e a alegria em dose tripla: um casal de gêmeos e o mais velho saudável(foto: Fundação Sara/Divulgação)
Amanda e a alegria em dose tripla: um casal de gêmeos e o mais velho saudável (foto: Fundação Sara/Divulgação)
Também mãe de gêmeos, também apresentada de forma dolorosa à luta contra a leucemia, a ex-agente de saúde Amanda Cristina Dayrel ainda vai precisar esperar muito até que Alice e Miguel, de 6 meses, aprendam a rabiscar os primeiros bilhetes. Mas os pequenos já escreveram a palavra felicidade em definitivo na vida da família, moradora de Ibiaí, Norte de Minas.

Amanda planejou ter mais um filho como alternativa de tratamento para o mais velho, Vhitor, diagnosticado com leucemia, já que não havia ninguém na família compatível para um possível transplante de medula. Vieram dois.

“A gente que é mãe tenta o impossível. Vendo meu filho naquela situação difícil, não pensei duas vezes”, afirma Amanda, ao relembrar como decidiu pela gravidez quando viu o quadro de Vithor se agravar. Com a chegada dos gêmeos, foram colhidas células-tronco do cordão umbilical dos bebês e o material foi armazenado em um laboratório, mas não chegou a ser usado.

O motivo: Vithor respondeu bem ao tratamento quimioterápico, sem necessidade do transplante. Hoje o menino não encara mais o sofrimento da quimioterapia, fazendo revisões médicas a cada dois meses. “Ele está muito bem. Só não podemos falar que está curado porque em caso de leucemia é preciso esperar pelo menos 10 anos de acompanhamento do paciente para falar em cura”, afirma a médica oncologista pediatra Rosimeire Afonso Mota, que cuida do caso na Santa Casa de Montes Claros.

 

Mas, antes de tanta felicidade, a família enfrentou dias sombrios, especialmente a mãe. “Eu não acreditava que o caso do meu filho era leucemia. Quando recebi o diagnóstico, para mim o chão acabou. Saí desesperada pelo corredor do hospital, chorando”, relata a dona de casa. Para cuidar da criança, ainda em 2014 Amanda teve que abandonar o serviço na Prefeitura de Ibiaí. Sempre contou com o apoio do marido, o produtor rural Hercílio Fonseca Magalhães Filho, de 31.

A mãe conta que o menino, em tratamento, sempre “pedia um irmãozinho”. Essa vontade e a possibilidade de recorrer ao transplante de medula com o uso de células-tronco do cordão umbilical pesaram na decisão de tentar uma nova gravidez, mesmo enfrentando um momento tão difícil. “Amor de mãe é tudo. Não tenho palavras para descrever. Fiz tudo para o meu filho. Faço tudo por ele até hoje”, diz Amanda, que conta com o apoio da Fundação Sara, instituição que assiste crianças com câncer e seus familiares, com unidades em Montes Claros e em Belo Horizonte.

“Precisamos ter muita fé em Deus e segurança também”, diz a mãe de Vithor. Após a superação, ela deixa uma mensagem para outras mulheres que sofrem vendo os filhos enfrentar doenças graves. “As mães nunca devem desistir. Coloquem tudo nas mãos de Deus. Também deem muito amor e carinho a seus filhos, que eles passam a se sentir mais fortes”, receita.

 

Cristiane com Maria Júlia, que nasceu depois de duas gestações interrompidas: 'Aprendi que mães representam a fortaleza da superação'(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Cristiane com Maria Júlia, que nasceu depois de duas gestações interrompidas: 'Aprendi que mães representam a fortaleza da superação' (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
 

Força supera frustrações

 

Da varanda de casa, no Bairro Frimisa, em Santa Luzia, na Grande BH, Cristiane Cássia dos Santos, de 32 anos, pode observar o Rio das Velhas, as torres da igreja matriz, matas densas e, ao longe, a imponente Serra da Piedade. Mas, desde 19 de fevereiro, a recepcionista de uma clínica de estética, casada com Heloiso dos Santos, só tem olhos mesmo é para a pequena Maria Júlia. “Ser mãe é sentir um amor eterno e incondicional. Agradeço a Deus e às pessoas que intercederam pela minha vida e da minha filha.”

Os agradecimentos vêm do fundo do coração – isso dá para sentir, nitidamente, pelo tom da voz, pelo calor das palavras e pelo semblante sincero. Com a menina no colo na sala de jantar, Cristiane conta um pouco da história, que começou há quatro anos. Naquela época, grávida de oito semanas, ela sofreu um aborto espontâneo. Foi quando pela primeira vez viu descer sobre si a densa nuvem da frustração.

Determinada, Cristiane engravidou um ano depois. Novamente a gestação foi interrompida, desta vez de maneira ainda mais traumática: apenas uma semana antes de o bebê nascer. “O quarto da Isadora estava pronto, todo enfeitado, havia uma grande expectativa aqui em casa”, recorda-se. Porém, ao fazer um exame, viu os olhos do médico se encherem de lágrimas, ao mesmo tempo em que ouvia a voz dele sair embargada: a criança estava morta havia dois dias. O jeito então, era retirá-la do ventre, em parto induzido. O diagnóstico foi insuficiência placentária. “Fiquei muito triste. Mas também descobri como sou forte”, conta.

GRATIDÃO 
Maria Júlia abre os olhos, devagarinho, vai bocejando gostoso e a mãe a coloca no carrinho, num pequeno passeio pelo corredor externo da casa. “Aproveitei muitas roupas da Isadora, pois o enxoval dela estava completo”, conta a recepcionista, que escolheu o nome Maria em homenagem à mãe de Jesus e por ser muito católica. “Fui a Aparecida (SP) agradecer, fiz promessa. Aprendi que as mães representam a fortaleza da superação”, decreta.

Mas a última gestação, longe de ser tranquila, também foi envolta em sobressaltos, já que o médico alertou sobre os riscos, principalmente quanto a uma hemorragia na hora do parto. Com a força de uma leoa e a esperança plantada na alma, Cristiane viu florescer o sonho à medida que a barriga crescia. Não desistiu e chegou a tomar 320 injeções, uma por dia, de anticoagulante. “O apelido desse medicamento é ‘picadinha do amor’”, revela a mamãe.

Superados todos os temores, a menina veio ao mundo com 2,8 quilos, “cheia de saúde”, embora tenha um problema nos rins e precise de doses de antibióticos. “Ser mãe é ter paciência, persistência. Os filhos são um presente de Deus”, acredita a moradora de Santa Luzia, certa de que este domingo será inesquecível para toda a família.

 

Cada filho e cada sonho a seu tempo

 

A professora Aline Torres Costa, de 42 anos, nunca duvidou da sua vocação para ser mãe. Casada há 12 anos com o gerente de loja Carlos Batista Torres e vivendo em Jaboticatubas, na Grande BH, ela entrou na igreja, para dizer o “sim” avisada de que não poderia ter filhos. Dois anos antes, foi alertada pelo médico de que esse sonho deveria ser descartado, devido à possibilidade de hemorragia na hora do parto.

“Não fiquei para baixo com a notícia”, diz a professora. “Falei que adotaríamos uma criança, não haveria problema”, acrescenta o marido, na sala da casa com jardim e quintal, onde os filhos deixam as bicicletas. O escolhido foi João Vitor, então com 4 anos e agora com 14. “Ele passava pela loja, era muito agarrado comigo e resolvemos adotá-lo. Ele tem duas irmãs que já estavam com outras famílias”, recorda-se Carlos.

A vida seguia normal até que, em 2012, Aline começou a frequentar a Adoração do Santíssimo, na comunidade de Taquaraçu de Baixo, na zona rural de Santa Luzia, quase na divisa com Jaboticatubas. “Ia lá apenas para rezar, nunca fui pedir para ter um filho do meu ventre”, conta ela. No entanto, num dos encontros do grupo, uma pessoa chegou para ela e segredou: “O que você pediu, vai conseguir. Depende de você”. Naquele momento, recorda-se a professora, veio o sentimento de que poderia engravidar. Ouvindo a conversa, e toda sorridente, a mãe dela, Maria Expedita Torres Costa, revela, no pé do ouvido, que fez promessa para Nossa Senhora Aparecida. “E deu certo”, sorri.

PREPARADA Em encontro seguinte da Adoração do Santíssimo, a mesma pessoa que havia dado a boa nova continuou a conversa: “Você está preparada? Chegou a hora”. No mês seguinte, Aline ficou grávida e Maria Clara, batizada assim em homenagem a Nossa Senhora e a Santa Clara, já está com 5 anos. Esperta, a menina faz balé e já definiu a futura profissão: quer ser médica. “Meus dois filhos, João Vitor e Maria Clara, vieram pela vontade de Deus.”

Agora é preciso voltar um pouco no tempo para saber das reações. Como os familiares e amigos sabiam dos riscos da gravidez, o casal ouviu todo tipo de comentário. “Mas fiquei muito tranquila, pois nada é por acaso. Segui em frente e deu tudo certo, não tive o menor sangramento. E hoje vejo que, se pudesse ter filhos logo no início do casamento, não teria o João Vitor. Não o adotei por caridade, foi por amor”, afirma Aline.

Com os dois filhos, diz a professora, a vida ganhou um foco diferente. “É preciso também ter competência para educar e orientar as crianças”, ensina ela, certa de que filhos são divinos milagres da vida. 


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