Ele sonhava viver 200 anos, dizia não ter medo do passar do tempo e, com sabedoria, garantia que tristeza faz mal à saúde. Mas os planos – e a travessia – de Genildo Castro, conhecido popularmente como Gegê, foram interrompidos na terça-feira, perto de completar 61 anos, em Pirapora, no Norte de Minas, onde morava “desde que se entendia por gente”. Na manhã de ontem, o corpo do homem, natural de Juazeiro (BA), foi enterrado em Pirapora, no cemitério velho do Bairro Santo Antônio, deixando grande saudade nos familiares e amigos.
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Em entrevista ao EM, ele contou: “Na época, eu trabalhava como cabeleireiro e maquiador no Hotel Canoeiros, em Pirapora. Como o cabelo da Bruna tinha que ficar muito curtinho para fazer o papel e ficar parecida com um rapaz, ela era obrigada a cortá-lo de três em três dias. Houve um problema na equipe, o cabeleireiro voltou para o Rio de Janeiro e eu assumi as tesouras.” Como se tratava de uma produção ambientada em lugares de muita poeira, ele ainda fazia a maquiagem na atriz, deixando a pele branquinha, com as cores da terra.
Sempre de bom humor e mantendo distância do “diabo, na rua, no meio do redemoinho”, como escreveu Guimarães Rosa sobre os embates do jagunço Riobaldo com o demo, Genildo contava sua história sem fazer drama. Aos 28, descobriu-se soropositivo, embora, conforme afirmou ao EM, tivesse uma a carga viral “indetectável”. Segundo amigos, Gegê enfrentara um quadro de depressão muito forte, iniciado quando no ano passado, quando perdeu o emprego. “Estava de cama havia muito tempo”, lamentou.
PALESTRAS A experiência diária no Programa de DST/Aids levou Genildo a várias regiões do país para fazer palestras sobre as doenças sexualmente transmissíveis. “Falo em todo tipo de ambiente e tenho uma linguagem específica para cada público, de funcionários de empresas a estudantes. Mas gosto mesmo é da minha terra, Pirapora”, contou aos repórteres com um sorriso de quem vai e volta das viagens com alegria. O assunto não o intimidava. Espírita, esbanjava tranquilidade: “Contei muito com o apoio da minha família e decidi não me entregar ao sofrimento, muito menos me tornar um suicida. Vivi uma fase muito turbulenta, encarei com coragem e estou aqui feliz da vida. Logo depois que descobri ser soropositivo, escrevi e encenei o monólogo O quarto escuro, procurando exorcizar todos esses fantasmas.