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Estado de Minas

Especialistas comentam tremor de terra que assustou BH e outras partes do Brasil

Terremoto profundo no território da Bolívia repercute em vários estados brasileiros. Na capital mineira, prédio do Barro Preto foi evacuado, situação que se repetiu em maior escala em locais como Brasília e São Paulo


postado em 03/04/2018 06:00 / atualizado em 03/04/2018 07:30

Em Brasília, vários prédios foram esvaziados em diversos setores (foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Press)
Em Brasília, vários prédios foram esvaziados em diversos setores (foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Press)


Eram 10h40 quando o prédio de 10 andares, no Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, começou a tremer. Simultaneamente, abalos eram sentidos em Araxá, no Alto Paranaíba, e Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Além de Minas Gerais, tremores foram registrados em Brasília, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. No mesmo momento, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) registrava um terremoto na Bolívia de 6,7 graus na Escala Richter, magnitude suficiente para causar sérios danos. Apesar dos reflexos e do susto, especialista garante que o fenômeno não tem força para provocar destruição no Brasil.

Em BH, depois do susto e do esvaziamento, o prédio que fica na Rua dos Timbiras, atrás do Hospital Vera Cruz, foi vistoriado e nenhum risco foi apontado. Os moradores, que haviam deixado os apartamentos assim que perceberam que algo estava errado, foram autorizados a entrar no edifício logo em seguida. Os tremores foram sentidos a partir do sexto andar.

Abalos pegaram de surpresa também frequentadores e trabalhadores de Centro Comercial Domingos Zema, na Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Araxá. Os bombeiros esvaziaram o imóvel, que não teve a estrutura comprometida. O quinto andar foi o mais atingido, com registro de deslocamento de mesas e cadeiras.

O sargento Rodrigo Pereira Borges, do Corpo de Bombeiros da cidade, disse que, no momento do tremor, por alguns segundos pessoas que estavam nos andares mais altos ficaram muito assustadas ao sentir a vibração do prédio e o balançar de janelas e vidraças. Apesar do medo, não houve pânico e todos desceram usando os elevadores. O prédio permaneceu vazio por cerca de uma hora, sendo autorizado o retorno dos trabalhadores imediatamente depois do término da vistoria pelos bombeiros. Em Uberlândia, um edifício pertencente ao Grupo Algar também foi esvaziado por precaução, depois que os trabalhadores que estavam na estrutura sentiram tremores.

Edifício de BH onde moradores sentiram abalo foi vistoriado e liberado(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Edifício de BH onde moradores sentiram abalo foi vistoriado e liberado (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Os tremores foram reflexo de terremoto que atingiu a região de Carandayti, no Sul da Bolívia, a 1.119 quilômetros de La Paz, a 557 quilômetros de profundidade, ontem de manhã, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). No Brasil, foram sentidos em outros três estados e no Distrito Federal. Em Brasília, pessoas foram retiradas de prédios em diferentes áreas da capital, como o Setor Bancário Sul, o Setor Comercial Sul e o Setor de Indústrias Gráficas. Tremores foram sentidos também em São Paulo, onde bombeiros foram chamados em várias partes da capital paulista.

Centenas de pessoas que trabalham em prédios altos da Avenida Paulista, um dos pontos mais elevados de São Paulo, puderam sentir a vibração das ondas emitidas pelo tremor. Prédios inteiros foram evacuados e uma pequena multidão se aglomerou nas ruas. Quem sentiu o abalo, especialmente em edifícios mais altos, relatou que a movimentação durou cerca de 30 segundos. A terra também tremeu no interior do Brasil e em estados do Sul do Brasil e até no Chile.

“O que ocorreu na Bolívia foi um terremoto com epicentro de grande profundidade. Um abalo nessas condições pode ser sentido em locais distantes, como ocorreu em diversas cidades brasileiras. Mas não há motivo para maiores preocupações. Ainda que as pessoas fiquem assustadas, um terremoto desses na Bolívia ou outro país da América do Sul não tem força para causar danos no Brasil”, assegurou o professor Lucas Vieira Barros, pesquisador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB). Ele explicou que os tremores sentidos no território brasileiro, na verdade, foram réplicas do terremoto no país vizinho.

Vieira Barros disse que é normal que o fenômeno seja percebido com mais intensidade em andares mais altos dos prédios, mas também sem motivo de apreensão ou riscos de provocar rachaduras nas construções. Segundo o especialista, o caso de ontem causou surpresa pelos seus efeitos. “Fiquei surpreso que esse terremoto, com essa magnitude, que não é das maiores, tenha produzido efeitos tão intensos no Brasil. Acho que vamos necessitar de mais estudos sobre isso”, afirmou, embora dissesse que, de fato, os terremotos com epicentros em alta profundidade são sentidos em longas distâncias. 



MENOS INTENSO
Outro sismólogo do Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília (UnB), Juracir Carvalho, afirma que é impossível prever esse tipo de fenômeno. Por isso, há sempre possibilidade de novas ocorrências. Ele ressalta que o Brasil não costuma ser atingido por tremores muito fortes, como os que afetam outros países. Isso ocorre pelo fato de o país estar no centro da Placa Sul-Americana, com até 200 quilômetros de espessura. As principais regiões afetadas são aquelas localizadas próximas das bordas das placas tectônicas.

Assim, os terremotos que chegam ao país são menos intensos. O de ontem, por exemplo, alcançou magnitude 6,7 na Bolívia, mas chegou ao Brasil com intensidade bem menor, por volta de 4. “Não foi a primeira vez nem será a última”, ressalta Carvalho. “Há uma crença de que o Brasil não pode ter terremotos, mas eles já ocorreram. Só não foram tão intensos quanto os que chegam em outros países”, acrescenta.

Duas horas depois do registro do tremor, a Defesa Civil do Distrito Federal enviou por SMS um alerta aos brasileiros. O informe esclareceu que o risco de desastre era pequeno e recomendou normalidade em relação ao evento. Juracir Carvalho explica que o terremoto de ontem foi causado pelo choque das placas tectônicas do Pacífico e Sul-Americana. “A Placa do Pacífico se chocou com a Placa Sul-Americana e, como não podem ocupar o mesmo espaço, a do Pacífico entrou debaixo da Sul-Americana. Com isso, a ponta da placa ‘mergulhou’ para dentro do manto do planeta, e causou o tremor na superfície”, informou. 


Para terremotos, magnitudes de até 5 são consideradas fracas. De 5 a 6, o tremor tem nível intermediário. Entre 6 e 9 são considerados fortes. Acima de 10 são fenômenos extremos. Segundo Carvalho, o Brasil já recebeu 22 eventos naturais independentes com magnitude cinco, e dois com magnitudes 6 e 6,2. “Mesmo com essas escalas bem definidas, a sismologia não consegue ser completamente exata. Abalos com sismos menores que 5 (graus) já deixaram cidades com muitos danos físicos”, acrescentou o especialista. Ele lembrou o evento de 2007, em Itacarambi, no Norte de Minas, quando foi registrado um terremoto de 4,9 graus. Na época, uma criança morreu soterrada, sendo, até hoje, o único óbito registrado no Brasil em decorrência de um tremor de terra.

 

O fenômeno que abalou o país


(foto: Samarone Xavier/Esp. EM - 9/12/07)
(foto: Samarone Xavier/Esp. EM - 9/12/07)


Há pouco mais de 10 anos, um tremor de terra pela primeira vez provocava morte no país e abalava também as estruturas da sismologia brasileira. Em 9 de dezembro de 2007, o fenômeno de 4,9 graus na Escola Richter que praticamente devastou a comunidade rural de Caraíbas, no município de Itacarambi, Região Norte de Minas, matou Jessiquele Oliveira Silva, então com 5 anos, que dormia em casa com a família quando as paredes vieram abaixo. Outras seis pessoas ficaram feridas. Das 77 casas da localidade seis ficaram completamente destruídas e as demais tiveram as estruturas abaladas. Todas as famílias tiveram de ser removidas para a área urbana, a 30 quilômetros, onde passaram a morar em um conjunto habitacional construído pelo governo do estado.


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