Jornal Estado de Minas

Conheça quatro mulheres que fazem da igualdade uma profissão


Hoje é Dia Internacional da Mulher e, para celebrar a data, nada melhor do que mostrar que cada vez mais elas assumem os próprios desafios e apoiam outras para que também os superem.

Foi assim que o Estado de Minas chegou a histórias como a da arquiteta que ajuda mães de família a construir suas moradias, da psicóloga empenhada em dar suporte a mulheres negras, da médica que vai além do consultório e se preocupa em apoiar integralmente suas pacientes, e da educadora que abre os braços e o coração para acolher vítimas de violência doméstica.

De forma individual ou coletiva, elas não apenas ajudam, como conscientizam essas mulheres a combater o machismo e a fortalecer a luta por emancipação de gênero.

Mais de 100 anos depois da data do 8 de março ser instituída como dia de luta e reflexão quanto à necessidade de superar uma cultura que privilegia um sexo e oprime outro, são indiscutíveis as conquistas obtidas por movimentos feministas ao longo do tempo. Mas também é inegável que ainda há muito a avançar, como constatam as próprias ativistas da causa feminina. Leia abaixo testemunhos sobre como elas vêm enfrentando um desafio que se renova a cada dia. 

 


Construção da igualdade

“Hoje é um dia de luta. É um dia que representa todo o avanço que nós, mulheres, conseguimos em busca da igualdade de direitos. Não existe essa questão da mulher querer ser igual ao homem, a gente só quer uma sociedade justa e que ninguém precise ter medo de ser mulher”, avalia a arquiteta Carina Guedes, de 33 anos.



Tendo experiência no ramo de construção civil, área predominantemente dominada por homens, ela sentiu a necessidade de usar seu conhecimento para incluir mulheres comuns nesse espaço.

Com o objetivo de ensiná-las a medir, desenhar, projetar, planejar suas casas e a executar serviços da construção, Carina criou o projeto Arquitetura da Periferia. “Apesar de a mulher ser quem faz a manutenção da casa, na hora de construir ela costuma não ter espaço para decidir. O projeto quer mudar isso. Assim, elas vão adquirindo esse conhecimento e se sentem capazes de discutir com quem quer que seja”, explicou.

Se o objetivo inicial era dar moradia, o projeto foi expandido para melhoria da autoestima da mulher que, por conta do conhecimento, não se sentem mais dependentes dos homens.


Batalha à flor da pele

O recorte da luta assume um tom ainda mais desafiador quando se trata da realidade da mulher negra.

A psicóloga Laila Resende, de 33, que tem o trabalho desenvolvido com foco na saúde mental dessas mulheres, levanta algumas reflexões. “Ser mulher negra é mais desafiador.

Enquanto as mulheres brancas estão lutando contra tipos de opressão como machismo e misoginia, nós ainda temos que combater racismo. É precisar lutar, no mínimo, duas vezes mais”, afirma Laila.

Mudar um cenário que vai além da luta por direitos considerados comuns ao público feminino impõe desafios. “Meu trabalho dá suporte à saúde mental das mulheres negras, diante desse quadro apresentado de racismo, machismo e misoginia. Contra essa combinação, é difícil manter uma saúde mental muito equilibrada sozinha” acrescentou.

Segundo dados de estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a mortalidade de mulheres negras aumentou em 22% entre 2005 e 2015, chegando à taxa de 5,2 mortes para cada 100 mil mulheres negras.


Resgatar e proteger

Criar uma rede de atendimento à mulher é fundamental não apenas para o melhor acompanhamento das vítimas de agressões, mas também pelo papel na prevenção da violência contra a mulher.

E é nesse campo que atua a Casa Tina Martins. “A casa surge no dia 8 de março de 2016, fruto da indignação de várias mulheres que revindicavam políticas públicas que combatessem a violência de forma efetiva. Somos o quinto país que mais mata mulheres no mundo”, contextualiza Indira Xavier, de 33, professora e coordenadora do coletivo.



A educadora chama atenção para a importância de se acolher mulheres em situação de violência doméstica e oferecer suporte para que essas vítimas não só saiam da situação de risco como se reestruturem para uma nova etapa na vida. “A violência é uma construção social. Os homens não nascem violentos, eles são construídos assim. Se a gente pode aprender a ser violento e machista, a gente aprende a deixar de ser violento e machista”, defende.

E completa: "Quando um menino começa a implicar com a colega de sala, com puxões de cabelo, é comum as pessoas dizerem 'olha, ele gosta dela'. Ou seja, desde pequenos, somos educados a associar o amor a gestos violentos."

 

Consciência morro acima

A vulnerabilidade social e a falta de acesso à informação motivaram a médica de família e comunidade Júlia Rocha a ultrapassar os limites de atuação como agente de saúde e a assumir um papel de acolhedora de mulheres. “Por ser médica, tenho a oportunidade de transitar por diversas classes sociais. Sempre atendi pessoas com grau de vulnerabilidade social altíssimo, o que me deu a consciência de que existe um feminismo da classe média que não chega às comunidades carentes e favelas”, avalia.

Em sua missão, ela acredita que o exercício da empatia é fundamental. “Nossos ouvidos têm que estar abertos para outros discursos.

Às vezes a gente fica sentada confortavelmente atrás da tela de um computador, julgando, criminalizando mulheres que não tiveram as mesmas oportunidades que nós”, explica.

 

Com mais de 150 mil seguidores no Facebook, a médica usa de sua influência digital para conversar com leitoras e compartilhar histórias sobre cenas presenciadas na saúde, que mostram como as mulheres estão expostas ao machismo no dia a dia.


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