Jornal Estado de Minas

Rua que desabou em bairro de BH há dois anos ainda está à espera de conserto

Uma série de adiamentos da administração municipal, falta de projeto e de recursos para execução da obra resultaram em um lamentável descaso para comerciantes e moradores do Sagrada Família, além de motoristas que trafegam pelo bairro da Região Leste de Belo Horizonte. Ontem, a interdição da Rua Genoveva de Souza, importante via de escoamento de veículos rumo ao Centro e ao Vetor Norte da capital, completou dois anos. O fechamento, em 2015, ocorreu por causa de um abatimento no asfalto, com abertura de cratera e trincas no piso, em um ponto onde há um barranco em um dos lados da via. Por causa do fechamento, são muitos os problemas no trecho, que fica entre as ruas Jacques Luciano e Silvestre Ferraz. Além do trânsito interditado, com desvio que dificulta a acessibilidade no bairro, há reclamações sobre falta de segurança no local, onde vêm sendo registrados assaltos e uso frequente de drogas. Hoje, a partir das 9h, haverá manifestação no local para cobrar o conserto definitivo da via.


A obra, orçada em R$ 1,8 milhão, chegou a ser prometida inclusive pela gestão passada. Durante o período eleitoral, em visita à Genoveva de Souza, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) disse que resolveria o problema. Novamente a intervenção foi anunciada para 2017, mas segundo o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão, ainda não há recurso aprovado.
“Já tem projeto e estamos em fase de viabilização de recurso. Ainda não entrou em fase de licitação, mas está pronta para ser licitada. Provavelmente começa no ano que vem”, informou o secretário, sem detalhar melhor o prazo. Josué reconhece que a chegada da temporada chuvosa pode piorar a situação no local.

De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), responsável pela obra, o projeto consiste no tratamento do talude vizinho ao abatimento, com construção de muro de arrimo para estabilizar a encosta. O órgão ainda informou que foi feito um trabalho de sondagem de solo mais aprofundada na Rua Genoveva de Souza e que a licitação das obras está prevista para ocorrer ainda este ano. “A rua sofreu um processo de erosão muito forte e não sabemos se uma construção ao lado contribuiu para solapar o solo ou se o problema ocorreu em função de alguma rede de distribuição de água”, informou o secretário Josué Valadão.

A Rua Genoveva de Souza é uma via de mão única que funciona como saída do bairro para motoristas que seguem no sentido das avenidas Silviano Brandão, Cristiano Machado e José Cândido da Silveira, passando pela Rua Conselheiro Lafaiete. Tem ainda importante papel de escoamento do fluxo em dias de jogos na Arena Independência, quando cerca de 20 mil torcedores vão ao estádio.
“Mas desde o fechamento, quem frequenta a região precisa usar desvios, que dificultam o acesso e confundem motoristas, pois não há nem mesmo sinalização indicativa de outras rotas”, afirma o diretor de relações institucionais da Associação dos Amigos e Moradores do Entorno do Estádio Independência, Adelmo Gabriel Marques. Segundo o diretor, várias tentativas já foram feitas junto ao poder público para realização da obra, sem resposta.

PREJUÍZOS Assim como ele, moradores e comerciantes cobram solução rápida para o problema. Um deles, o empresário Alex Mota, de 37 anos, sentiu o peso da interdição no bolso. Apesar de ter feito um plano de negócio antes de abrir um restaurante e um empório na Genoveva de Souza, ele foi surpreendido pelo fechamento da via dois meses após montar o negócio. “Fiz o investimento levando em conta as características do ponto. Mas o movimento caiu bruscamente, porque, sem o fluxo de carros, a rua ficou morta do ponto de vista comercial. Logo em seguida tive que suspender o almoço durante os dias da semana e passei a servi-lo só no sábado e domingo, mantendo o horário noturno de quarta a sábado. Reduzi o número de funcionários pela metade e tive 40% de perdas nas vendas”, lamenta Alex.
Para ele, é um descaso manter fechada uma rua tão importante para o bairro, como é a Geno veva. “Ainda mais porque esta é uma obra pequena, frente a outras de infraestrutura que são feitas na cidade”, disse.

O também empresário Rodrigo Giovanni mora em frente ao ponto onde a cratera se formou na via e convive diariamente com os transtornos. “São vários. A rua perdeu o movimento, o que abriu espaço para a ocorrência de crimes, uso de drogas, assaltos. Usuários do transporte coletivo também perderam com a retirada do ponto de ônibus e comerciantes sentiram as perdas”, afirma. Rodrigo também mantém uma empresa de aluguel de artigos para festa no local e disse que cogitou muitas vezes encerrar as atividades. “Tive um baque financeiro absurdo, porque a empresa perdeu toda a visibilidade. Há até quem ache que já está fechada”, disse. Ele afirmou ainda que chegar em casa virou um suplício, porque o desvio prolonga o percurso de poucos metros em vários quarteirões.

MEMÓRIA
Passado trágico

Conhecido no passado como “Buracão”, o trecho da Rua Genoveva de Souza onde o asfalto afundou já foi cenário de tragédias. Era um quarteirão inteiro sem asfalto ou calçamento, com enorme cratera no meio, no alto de um barranco.
Ali existiu uma pedreira, que empregou muita gente nos primeiros anos do bairro. O negócio foi embora, os riscos ficaram. Na época das chuvas, tudo piorava com a lama e os deslizamentos. Foi lá que uma família de cinco pessoas foi soterrada na década de 1980. Após grande mobilização da comunidade, foi construído pela Sudecap um arrimo, que resolveu o problema. Entretanto com a implementação do novo plano de mobilidade urbana no Bairro Sagrada Família, motivado principalmente pela reinauguração da Arena Independência, a rua passou a ser a única via paralela a Rua Pitangui de mão única para quem trafega do Horto até a Av. Silviano Brandão e alguns afirmam que o afundamento da pista foi provocado pela trânsito pesado,  acrescido devido ao trajeto de linha de ônibus do bairro, informa Adelmo Gabriel Marques, da Associação dos Amigos do Estádio Independência (AAMEIA).
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