Corpo de taxista que morreu atingido por árvore durante a chuva em BH é liberado

João Henrique do Vale Gustavo Werneck Cristiane Silva

postado em 03/10/2017 06:00 / atualizado em 03/10/2017 08:53

Queda de árvore provoca a morte de uma pessoa na Rua TimbirasGladyston Rodrigues/EM/D.A. Press — Queda de árvore provoca a morte de uma pessoa na Rua Timbiras (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press )

No primeiro dia de temporal em Belo Horizonte, apenas 10 minutos de chuva foram suficientes para matar uma pessoa, derrubar árvores, tornar o trânsito ainda mais caótico e causar prejuízos em vários bairros. O acidente ocorreu na Rua Timbiras, entre a Avenida João Pinheiro e Rua da Bahia, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul. Por volta das 14h30, uma palmeira trigêmea – uma raiz com três troncos – com 20 metros de altura caiu sobre um táxi, modelo Toyota Etios, matando o motorista Fábio Teixeira Magestes, de 35 anos, casado, pai de dois filhos. Nesta manhã, José Francisco de Souza, amigo do taxista, confirmou que o corpo já foi levado para Abre Campo e deve ser sepultado em um povoado da região. No entanto, ainda não há informações sobre a data e horário da cerimônia.

A morte de Fábio já foi oficializada como a primeira do período chuvoso 2017/2018 no boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). O boletim foi publicado hoje.

Duas pessoas, identificadas como B.W.O.S e F.S.S, que estavam em outro carro, um Voyage preto, ficaram levemente feridas e dispensaram atendimento. Outro táxi também foi atingido pelo poste, que caiu após a queda da árvore. R.T.C. Estava em um Fiat Idea quando foi surpreendido, mas também não ficou ferido. Uma equipe do Corpo de Bombeiros esteve no local, assim como peritos da Polícia Civil e unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que não foi necessária, já que Fábio morreu dentro do carro.

“Era um cara muito bacana, prestativo, coração bom. A gente fica emocionado, porque não esperava”. Esse é o relato de José Francisco, de 65, que também é taxista. Ele lamentou a morte do companheiro com quem jogava bola aos finais de semana e contou que a vítima trabalhava havia aproximadamente cinco anos como condutor de táxi. “Eu estava em um ponto junto com um parente dele, no Barroca, na Região Oeste de Belo Horizonte, que olhou na Internet e viu que Fábio era a vítima”, completou. Ele foi até o local para dar apoio a familiares e amigos da vítima. Assim como ele, o cunhado e a mulher do taxista fizeram o reconhecimento do corpo. Visivelmente abalados, os parentes não quiseram falar com a imprensa. O amigo contou que o taxista nasceu na cidade Abre Campo, a 216 quilômetros de Belo Horizonte, na Região da Zona da Mata.

TENTATIVA DE SOCORRO “O chão até tremeu. Fez um forte barulho”, contou João Batista, de 30, uma das testemunhas da tragédia. Ele estava passando pela Avenida João Pinheiro quando foi surpreendido pela queda da árvore sobre o carro. “Estava subindo a Timbiras. Chovia muito. Teve rajada forte, que torceu a árvore. A primeira palmeira da direita caiu sobre o carro e atingiu as outras árvores. Teve um barulho muito forte, o carro abaixou e o pessoal saiu do prédio correndo”, afirmou Warley Eduardo, 42. A situação assustou e mobilizou quem passava pelo local. Populares tentaram retirar os galhos da árvore para salvar Fábio.

O pintor Edmilson Perez, de 40, trabalha em um prédio em frente ao local onde ocorreu a tragédia. De imediato, ele se mobilizou com mais 30 pessoas para tentar socorrer o taxista. “Depois do barulho, saímos para tentar ajudar. Vimos os carros entre muitas folhas e os faróis piscando. Pegamos facões e começamos a cortar. Mas, era perigoso, porque a fiação estava energizada e a chuva ainda muito forte. Um colega tentou quebrar o vidro e se machucou. Fizemos tudo o que podíamos”, contou. Edmilson disse que Fábio não respondia aos chamados.

A mulher da vítima, o taxista Fábio Magestes, se desperou ao chegar ao local da tragédia(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press) — A mulher da vítima, o taxista Fábio Magestes, se desperou ao chegar ao local da tragédia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

MEDO ANTIGO Moradores da região afirmam que já haviam pedido o corte dessa palmeira e atentavam para o perigo. “São quatro árvores deste lado da Timbiras. Quando chove, você vê que está balançando. Saiu com a raiz toda. Nada segura no chão. Já conversamos com a Prefeitura para retirar essas árvores”, afirmou João Cléber, de 49, síndico do prédio Donato da Fonseca, localizado próximo ao local do incidente. Moradores da região temem que outras árvores da via também caiam devido aos ventos e, diante do perigo, cobraram vistorias na área. Para o amigo do taxista, José Francisco de Souza, acidentes como o que matou o colega podem ocorrer em outros pontos de BH. “Uma árvore desse porte e sem raiz. Imagina se o sinal está fechado”, comentou.

Segundo o tenente Wanderson Mendonça, do Corpo de Bombeiros, esse trabalho é de responsabilidade da prefeitura. “A parte de vistoria nas árvores fica a cargo da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, uma vez que essa parte de árvores plantadas em passeios de vias públicas é de responsabilidade da administração municipal”, comentou. De acordo com o Corpo de Bombeiros, foram recebidas, até as 16h15, 53 chamadas referentes a árvores. As ocorrências são de plantas caídas ou com risco de queda, árvores tombadas em muros, entre outros. As chamadas foram nos bairros Sagrada Família, Horto, Prado, Funcionários, Barro Preto, Anchieta, entre outros.

Sobre a queda das árvores, o A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) informou que o evento meteorológico tinha sido previamente alertado pela Defesa Civil. “Várias árvores foram atingidas por ventos superiores a 60km/h ocasionando a queda de diferentes espécies e locais na cidade. Na Regional Centro-Sul, foram registradas chuvas de 14,4 mm em apenas 10 minutos”, informou. A PBH informou, por meio de nota, que com base em vistoria realizada por técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a árvore que caiu “se encontrava saudável, sem nenhum sintoma que levasse à indicação de sua supressão.”

A queda de árvores mata 2% das vítimas de chuvas todos os anos, aponta o trabalho “Prevenção de óbitos decorrentes das chuvas pelo CBMMG: Análise do período chuvoso em Minas Gerais e Belo Horizonte”, produzido pelo major do Corpo de Bombeiros Anderson Passos, em 2010. As mortes decorrentes de soterramentos de residências por escorregamento de encostas são as mais frequentes, representando 38% do total. Os soterramentos estão associados à construção irregular de moradias em encostas. No total, 27 ocorrências foram antedidas ontem pela corporação, sendo “tricas e infiltrações” (6), “risco de queda de árvore” (3), “queda de árvore” (3), “destelhamento” (2) “tricas” (2) entre outras.