Jornal Estado de Minas

Três tipos de acidentes concentram ocorrências e dominam as 21 mortes no Anel Rodoviário

Conduta de motoqueiros de trafegar pelo corredor é decisiva para criar condições de acidentes. Deslocamento de ar quando passam veículos mais pesados contribui para o desequilíbrio desses condutores - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESSEnquanto a Prefeitura de Belo Horizonte reivindica na Justiça a gestão do Anel Rodoviário da capital e sustenta ser capaz de adotar ações para frear a mortandade nas pistas, levantamento feito pelo Estado de Minas indica que três tipos de desastres respondem por 100% dos acidentes fatais na rodovia. Se a Justiça deferir o pedido do município e retirar da União a administração da estrada, os órgãos que o prefeito Alexandre Kalil (PHS) pretende designar para atuar no trecho, como a BHTrans e a Guarda Municipal, terão que somar esforços com a Polícia Militar para evitar atropelamentos, batidas envolvendo motos e colisões com participação de caminhões ou causadas por eles.


Essas situações concentram todas as 21 mortes ocorridas no Anel neste ano, sendo que quase a metade das vítimas foram pedestres (veja quadro). Segundo o tenente Pedro Barreiros, que comanda o policiamento na estrada que corta a capital, para cada tipo dessas três ocorrências é possível levantar uma ação de imprudência na via, por onde passam 160 mil veículos diariamente. É preciso levar em conta também que contribuem para as tragédias as características de uma estrada ultrapassada, que tem tráfego pesado em meio à malha urbana e com vários pontos de estrangulamento.

De todas as mortes no Anel Rodoviário em 2017, 10 foram de pedestres atropelados, cinco de pessoas em motocicletas, duas de condutores de caminhões e quatro de ocupantes de carros de passeio. Todas essas quatro últimas também têm relação com veículos de carga, já que três são da família esmagada por um caminhão de minério em 6 de setembro, logo após a descida do Bairro Betânia, na Região Oeste de BH, e a quarta vítima foi o condutor de uma Fiorino que bateu na traseira de um caminhão.

Ao analisar as diferentes condutas imprudentes que levam às mortes, Pedro Barreiros lembra que muitos pedestres morrem cruzando o Anel pelo asfalto embaixo de passarelas, optando pelo menor tempo de travessia sem nenhuma segurança, diante da largura da rodovia e da velocidade dos veículos. “O problema é que atravessar uma via como o Anel Rodoviário não é como atravessar uma pista normal, pois o pedestre precisa cruzar três faixas de trânsito. Muitas vezes a pessoa atravessa a primeira e os acidentes acontecem na segunda ou na terceira”, afirma o tenente.

Outra situação que mostra imprudência é a conduta de motoqueiros que entram em alta velocidade nos corredores entre os automóveis. “Eles não ocupam uma faixa de rolamento e quando passam pelos corredores acabam surpreendidos pelo deslocamento de ar, principalmente com a passagem de veículos maiores, que é suficiente para derrubá-los”, acrescenta Barreiros.

Caminhões, que deveriam trafegar pela direita, respondem por grande parte das vítimas - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS
Em relação ao transporte de cargas, o tenente destaca que caminhoneiros muitas vezes negligenciam o uso do freio motor.
Em um trecho como a descida do Bairro Betânia, na Região Oeste, por exemplo, o policial afirma que, se o caminhão trafegasse pelos seis quilômetros de declive com o freio motor ligado, talvez nem fosse necessário usar a frenagem a pedal. “Mas, como essa medida aumenta o tempo de deslocamento e o consumo de combustível, muitos evitam usá-la”, diz.


A tragédia que vitimou a família do policial Dogmar Alves Monteiro, de 52 anos, foi provocada por um caminhão de minério que esmagou o carro. O investigador morreu no veículo, que se incendiou, com a mulher e o filho, um estudante de medicina de 21 anos do Centro Universitário UniBH. O desastre aconteceu em 6 de setembro. Segundo o motorista do caminhão, que está preso preventivamente, o pedal afundou e o freio não funcionou.

Essa última ocorrência fez o prefeito Alexandre Kalil acelerar os trâmites para tentar a municipalização do Anel. A Prefeitura de BH entrou com ação civil pública na Justiça Federal, reivindicando que o trecho de 26 quilômetros da via seja entregue à administração municipal. Além disso, encaminhou notícia-crime pedindo que o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) seja investigado pelo Ministério Público Federal por homicídio e lesão corporal culposos, prevaricação (não exercer funções de ofício) e pela contravenção penal de não sinalizar pontos de risco.

Questionado sobre o que a administração municipal poderia fazer caso assumisse o Anel Rodoviário, o prefeito afirmou que isso ainda seria estudado, mas garantiu que guardas municipais e a BHTrans poderiam desenvolver ações não para melhorar o trânsito, mas para salvar vidas, aumentando, por exemplo, a capacidade de fiscalização.

O tenente Barreiros garante que não falta fiscalização no Anel e acrescenta que a estrutura física ultrapassada aumenta o risco da imprudência na rodovia.
Por isso, o militar garante que só com obras de grande porte a situação tende a melhorar. “Não falta fiscalização. Nosso trabalho acontece dia e noite, e os infratores são multados de forma constante. É claro que nenhuma força pública tem condições de estar 24 horas por dia em todos os locais, mas a fiscalização da PM se faz presente nas pistas, com aumento dos flagrantes de infrações”, garante o militar.

 

Números de uma tragédia de rotina
Veja o detalhamento dos acidentes e vítimas no Anel Rodoviário em 2017*

21
mortos


Pedestres
10 atropelados

Em motos
4 pilotos
1 garupa

Envolvendo caminhões

2 caminhoneiros
2 motoristas de automóveis
2 passageiros de automóveis

481
acidentes com vítima

605
feridos

397
acidentes sem vítima

Fonte: Polícia Militar Rodoviária
*De janeiro a 10 de setembro

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