Jornal Estado de Minas

Fogo em áreas de vegetação leva perigo aos combatentes

Pátio do Detran em Nova Lima atingido por incêndio que se suspeita ser criminoso: bombeiros estimam que cerca de mil veículos tenham sido destruídos pelas chamas - Foto: Túlio Santos/EM/DA PressCalor que pode atingir 200°C com a proximidade das chamas e a exposição ao Sol. Trabalho que pode durar até 12 horas em meio a fumaça e ventos fortes. O resultado dessa rotina de castigos e riscos a que estão submetidos bombeiros e brigadistas no combate a incêndios florestais podem ser problemas respiratórios, aumento da temperatura corporal e até queimaduras de segundo grau.

O trabalho é árduo e requer força e preparo, tanto físico quanto mental. Nesta época do ano, a mistura da baixa umidade e o forte calor complica ainda mais a situação dos bombeiros e brigadistas. “A temperatura mais elevada testa a resistência dos combatentes, que sofrem estresse térmico. A exposição a uma temperatura muito alta por um longo período aumenta a temperatura corporal, que, ao chegar a 39 graus, já representa risco”, explicou o tenente Pedro Aihara, da Assessoria de Comunicação Organizacional do Corpo de Bombeiros.

A exposição dos militares é ainda maior em incêndios florestais, pois eles não fazem o uso de equipamentos de segurança como ocorre quando atuam em ocorrências em áreas urbanas. “Não dá para usar os equipamentos.
Por isso, dependendo do local onde o combatente estiver, vai ficar exposto a uma temperatura de 80°C a 200°C. Isso pode acontecer em cerca de cinco minutos perto das chamas e já provoca queimaduras de segundo grau”, completou Aihara. “Além disso, as áreas atingidas são bem grandes. Os agentes ficam oito horas combatendo, até mais. Nessa situação, pensar que 99% das queimadas se devem a causa humanas é revoltante”, criticou.

A alta temperatura não é o único dificultador. Com a baixa umidade do ar, os combatentes estão sujeitos ao ressecamento das vias aéreas, problemas respiratórios e alérgicos, sinusites, rinites, e sangramentos nasais. “O terceiro e último complicador é o vento.
Especialmente nas regiões em que acontecem os incêndios florestais em serra, há mudança repentina dos ventos e a velocidade é muito grande. A fumaça é direcionada para onde estão os bombeiros, que sofrem risco de intoxicação por monóxido de carbono e podem acabar desmaiando”, completou o tenente.

Tempo seco ajuda Se depender das estatísticas dos últimos 30 dias, brigadistas e bombeiros terão trabalho pela frente. Segundo o diretor de Combate a incêndios Florestais da Secretaria de Meio Ambiente, Rodrigo Bueno Belo, a estiagem e a baixa umidade têm contribuído para o aumento das ocorrências, principalmente em agosto. Porém as queimadas estão fora das zonas críticas. “A gente tem algumas regiões muitos problemáticas, como a de Diamantina, o Vale do Jequitinhonha em geral e o extremo Norte, em que neste ano não temos grande incidência de focos. No Sul do estado também está tranquilo. Mas o que está realmente destoando são as ocorrências no Triângulo, Região Centro-Sul e região Metropolitana de BH”, disse Belo.

O diretor pede colaboração da população para evitar mais ocorrências. “Investimos na contratação de aviões e em outros recursos.
Mas se não houver mudança no cenário, ficamos cada vez mais limitados. Temos que entender que a população é a maior prejudicada. É o dinheiro dela sendo gasto e o meio ambiente, destruído”, completou.

Focos também na área urbana


O fogo que consome a vegetação em Minas Gerais também avança pela área urbana. Ontem, moradores da Região da Pampulha sofreram com as chamas que começaram em uma área de mata no Bairro Engenho Nogueira. As labaredas se aproximaram de casas e espalharam medo entre famílias. Já em Nova Lima, na Grande BH, um incêndio destruiu aproximadamente mil veículos em um pátio do Detran. O foco chegou a ameaçar moradias vizinhas.

No Bairro Engenho Nogueira, o medo começou ainda na madrugada de ontem, com a queimada que atingiu uma área verde perto do câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O fogo foi identificado por volta das 3h na Rua Desembargador Paula Mota, próximo ao número 1.083. Por causa da vegetação seca o incêndio se espalhou rapidamente e tomou grandes proporções.

Moradores de uma casa da região filmaram a aproximação das labaredas do imóvel. No vídeo, é possível ver as chamas próximas a um muro.
Os ventos fortes dificultaram os trabalhos dos bombeiros, que foram até a casa para evitar que fosse atingida.

A economista Maria Angélica Martins, de 45 anos, moradora do bairro, disse que uma rede de mobilização foi feita para que as crianças que estavam próximas ao incêndio ficassem protegidas da fumaça. “A rua inteira ficou mobilizada e os prédios foram evacuados. Alguns vizinhos, que moravam um pouco mais longe, ligaram oferecendo cuidados às crianças”, contou. “A minha casa está com cheiro de fumaça. Mesmo fechando as frestas das janelas”, concluiu.

O fogo se alastrou pela mata e chegou até o Bairro Castelo. Até o fechamento desta edição, os militares ainda trabalhavam para conter as chamas.

NOVA LIMA As causas do incêndio no pátio do Detran ainda serão investigadas, mas a suspeita é de que ele tenha sido criminoso. As chamas começaram por volta das 15h, no imóvel da Rua José Agostinho. “Vizinhos afirmaram que ouviram uma explosão e que depois avistaram dois focos. Mas não souberam precisar o que teria causado”, explicou o tenente André Vinte, do Corpo de Bombeiros que participou do combate.

Um grande aparato foi mobilizado para conter as chamas. Participaram dos trabalhos 10 militares dos bombeiros, 10 guardas civis, quatro policiais militares e funcionários da prefeitura.
A administração municipal também cedeu cinco caminhões-pipa e um de combate a incêndio..