Jornal Estado de Minas

Calor e baixa umidade do ar em Minas favorecem propagação de incêndios

Calor, secura e fogo: a combinação perigosa volta a deixar Minas Gerais em alerta máximo. Níveis de umidade bem próximos aos de deserto e temperaturas típicas do fim do inverno voltam a desafiar bombeiros no quesito incêndios florestais. Ontem, o Parque Estadual Serra Verde, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, pegou fogo pela terceira vez em menos de uma semana. A corporação garante estar preparada para enfrentar a temporada de chamas em áreas de mata, tendo como um dos instrumentos a educação ambiental. Mesmo assim, o estado entra em meados de agosto com números preocupantes. Ontem, a umidade relativa do ar em Belo Horizonte ficou em 15%, o que é considerado estado de alerta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A capital viveu ainda um dia mais compatível com o verão, com termômetros marcando 32,1 graus.

No Parque Estadual Serra Verde, as causas do terceiro incêndio em menos de sete dias ainda estão sendo apuradas. O fogo foi detectado ontem por bombeiros e brigadistas que estavam em treinamento na unidade, e contaram com um helicóptero do Previncêndio para o combate às chamas.
O Corpo de Bombeiros registrou, de janeiro a junho, 3.425 ocorrências de incêndios florestais nos seis primeiros meses do ano – média de 19 por dia. Ano passado, no mesmo período, houve 4.325 (média diária de 24).

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o estado teve desde janeiro 600 hectares de área queimada dentro de unidades de conservação. Ano passado, somente em agosto foram 4.244 hectares. O tenente Warley de Paula Vieira Barbosa, do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres, considera as precipitações tardias (choveu em pleno inverno este ano) e o trabalho de prevenção feito pelos bombeiros, principalmente em relação ao patrulhamento e à vigilância nas áreas de conservação, os principais fatores para explicar a redução.

Bombeiros da área administrativa também estão sendo treinados para o combate a incêndios e ficam de sobreaviso em caso de ocorrências. “Isso garante que, quando acionadas, as equipes sejam empenhadas mais rapidamente”, afirma. Os militares têm se concentrado também na questão ambiental, com palestras em escolas para turmas dos ensinos infantil e médio. “Queremos sensibilizar crianças e adolescentes, apresentando os riscos de um incêndio, desde a extinção de flora e fauna até os bens que podem ser atingidos”, explica.

Para o tenente, o maior desafio ainda é a conscientização sobre as consequências: “É muito difícil fazer as pessoas entenderem que pôr fogo em vez de fazer a limpeza do terreno ou jogar ponta de cigarro às margens da rodovia pode causar danos”.

Diretor da Associação dos Servidores do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar de Minas Gerais (Ascobom) e antigo coordenador da equipe responsável pelo Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na Grande BH, o capitão da reserva Cléber Ribeiro de Carvalho considera uma evolução o apoio à educação ambiental e vê como positivo o trabalho do Batalhão de Emergências Ambientais. “Fogo zero é impossível. Mesmo porque até pouco tempo atrás não tínhamos os focos que surgiram em função de descargas atmosféricas que não são seguidas de precipitações. Já ocorreu no Rola-Moça, no Caraça e tem ocorrido na Serra do Cipó e na Canastra”, conta. Para ele, a formação dos novos militares, que contempla treinamento de combate a incêndios, também é um passo à frente. “Está bom, mas pode melhorar, desde que o governo libere mais recursos para o aumento do efetivo e aquisição de equipamentos.”

Brigadista contratado pela Semad, Geraldo dos Santos Dias integra uma equipe de nove pessoas. Artista de vocação e talento, Geraldo Beija-Flor, como é conhecido, se interessou pelas questões ambientais em 2006, quando cantava para turistas no Parque Nacional Chapada dos Guimarães (MT). Mineiro da Serra do Cipó, ele já trabalhou na conservação de parques também via Ibama e Instituto Chico Mendes (ICMBio).

Atualmente, seu ponto de atuação é o Parque do Rola-Moça, que conta com uma base dos bombeiros, uma brigada voluntária e outra de profissionais que trabalham por força de contrato. Para ele também, a conscientização por meio da educação é a grande arma no combate ao fogo em áreas de mata.

Geraldo Beija-Flor, que faz faculdade de geografia para trabalhar como concursado nos parques estaduais, sugere que o serviço de brigadista seja implantado em tempo integral, e não apenas durante os quatro meses críticos de seca. “Atuamos na prevenção, no cuidado com o parque, recebendo turistas, fazemos rondas, socorremos animais e fazemos um trabalho de fiscalização, ações que podem e devem ser feitas ao longo de todo o ano para sensibilizar a população”, afirma.

 

 

Temperatura recorde


A estação que foi considerada a mais fria em décadas teve, pelo segundo dia consecutivo, um dia de verão ontem em Minas. A capital registrou ontem a maior marca deste inverno: 32,1 graus medidos na Pampulha. Mas, o calor deve dar uma trégua nos próximos dias. A partir de hoje, o vento muda de direção por causa de um sistema de alta pressão que está próximo ao litoral Sudeste, segundo o meteorologista Cleber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “Os ventos gelados e mais úmidos vão dar uma aliviada neste calorão”, diz. O alívio deve ser sentido na Zona da Mata, Campo das Vertentes e Região Metropolitana. Cidades do Triângulo Mineiro e das regiões Norte e Noroeste vão continuar com altas temperaturas.

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