A Polícia Civil fechou ontem o que considera ser a maior fábrica de linha chilena para pipas e papagaios de Belo Horizonte. Depois de intensificar investigações a partir de junho, quando uma criança de 4 anos morreu por causa da linha em Ibirité (Grande BH), a polícia descobriu que Vanessa de Fátima Teodoro Neto, de 43 anos, produzia o material cortante no terraço da casa dela, no Bairro Vista Alegre (Região Oeste da capital). Com ela, foram apreendidos 74 frascos de cerol, pó químico de mistura de vidro, 11 máquinas e 50 mil metros de linha chilena. Presa em flagrante, Vanessa foi solta após pagar fiança.
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Guarda Municipal faz blitz educativa contra o uso de cerol nas pipas em BH Em campanha para evitar acidentes, crianças aprendem a fazer pipa sem cerol em BH Jovem tem corte profundo na garganta por linha de cerol na Região Norte de BHMenino de cinco anos é morto por linha de pipa com cerol em IbiritéLinhas com cerol já levaram 25 pessoas ao Pronto-Socorro de BH neste anoA polícia sustenta que a fábrica de Vanessa abastecia o comércio em toda a capital, sobretudo na no Hipercentro. “Ela é a distribuidora. As pessoas que tinham interesse em vender em menores comércio ou em bancas compravam dela. Vanessa produzia há cerca de três anos e não tinha passagem pela polícia”, disse Rodrigo Damiano. Para ter ideia do lucro, o menor carretel vendido por Vanessa, com 400 metros, custava entre R$ 20 e R$ 30. Já o maior, com 12 mil metros, era vendido a quase R$ 400. Segundo a polícia, o total de recursos movimentos pela fábrica só será possível de calcular após perícia contábil nas anotações apreendidas.
Vanessa foi presa por crime contra as relações de consumo, cuja pena é de detenção de dois a cinco anos ou multa.
RISCOS A Lei Estadual 14.349/2003 proíbe, em todo território mineiro, o uso de cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas para recreação ou com finalidade publicitária. A multa é de R$ 100 por cada conjunto de material apreendido. Belo Horizonte também conta com lei a respeito (7189/96), que proíbe o comércio e o uso do cerol. O estabelecimento que vender o produto estará sujeito a advertência, multa e até cassação do alvará de localização e funcionamento. Em caso de morte ou lesão de terceiros, o infrator também pode ser responsabilizado.
Mesmo com as leis, o cerol e a linha chilena continuam a fazer vítimas. Segundo dados da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), 38 pessoas foram vítimas do cerol ou linha chilena em 2015 e 33 em 2016. Em 2017, até junho, foram mais 16 ocorrências – sendo 10 em junho. Segundo o soldado do Corpo de Bombeiros Gláuber Fraga, o número aumenta no período de férias. “As crianças saem da escola e vão soltar papagaio. Em agosto, o problema se agrava por causa dos ventos fortes que favorecem acidentes”, disse. Motociclistas são os mais vulneráveis por causa da alta velocidade com que circulam.
As linhas cortantes também podem provocar curto-circuito nas redes elétricas e dar choque nas pessoas que tiverem contato. Segundo Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), de janeiro a abril, foram registradas 663 ocorrências de interrupção no fornecimento de energia elétrica provocadas por linhas com cerol. Estima-se que 240 mil consumidores tenham sido afetados.