Jornal Estado de Minas

Chapada celebra Santana e renova a esperança de ter de volta imagem sacra

Do século 18, a imagem da mãe de Nossa Senhora está sob guarda do Museu de Arte Sacra de Mariana - Foto: Prefeitura de Ouro Preto/DivulgaçãoHá dois anos, os moradores do distrito de Chapada, em Ouro Preto, na Região Central, não podem seguir em procissão a imagem original da padroeira Santana, mãe de Nossa Senhora, cuja data foi celebrada na quarta-feira e tem programação até domingo no distrito e em várias cidades de Minas. Atribuída a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), de memória reverenciada em 2017 pelos 280 anos de seu nascimento, a peça do século 18 foi substituída por uma réplica, segundo o pároco Antônio Jésus Vieira. Diante da situação que entristece a comunidade, a Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto está em busca de recursos para restaurar o tesouro barroco e dotar a capela de segurança suficiente para abrigar, em definitivo, o bem, sob guarda do Museu de Arte Sacra, no município vizinho de Mariana, sede da arquidiocese.

“Vamos procurar os recursos necessários via Lei de Incentivo, já que a imagem de Santana é importante para a comunidade, para nosso patrimônio e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”, afirma o secretário municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, Zaqueu Astoni Moreira. Conforme os documentos, o objeto sacro foi tombado pela autarquia federal em 1987, enquanto a construção, em 2005, pelo município.


Até domingo, moradores e visitantes poderão participar da festa de Santana, uma tradição no distrito de Chapada.  Amanhã à noite haverá missa e carreata e no domingo, dia da festa, missa solene às 12h, seguindo-se a procissão (às 13h).

HISTÓRIA Quem chega ao distrito de Chapada pode ler no frontispício, sobre a porta principal da igreja, a data 1883, gravada em pedra-sabão. Pesquisa do professor de história da arte e iconografia Alex Bohrer, autor do livro Igrejas e Capelas – Ouro Preto, a A Capela de Santana tem arquitetura simples, com uma pequena nave, uma capela-mor e telhado de duas águas. Escreveu o especialista: “Chama atenção na fachada principal a torre sineira desprendida da edificação, à direita, com telhadinho piramidal, e a curiosíssima portada em pedra-sabão. Mesclando concepções populares, técnicas e simbologia religiosa, esta portada, executada em 1883, é fruto da fé de esmoleres.

Totalmente afastado – temporal e espacialmente – das fachadas rococós e mais ‘livre’ dos cânones europeus de arquitetura e ornamentação, o artista desta portada pôde conceber uma obra original em sua essência”.

A pesquisa mostra ainda que a capela é “herdeira da primeira arquitetura religiosa implantada pelos exploradores pioneiros, remanescente importante do patrimônio histórico edificado do atual município de Ouro Preto”. E mais: “Antigas estradas ou vias de acesso à sede colonial mineira cruzavam estas paragens. O lugarejo se encontra a poucos quilômetros de algumas dessas estradas principais, cujo entroncamento dava início aos afamados caminho novo e caminho velho, pontos de convergência das estradas reais em Minas. Nas proximidades da Chapada ainda existem vestígios desses caminhos, com algumas pontes e outros vestígios”.

ESMOLERES A inscrição central tem gravado, em latim, Anno 1883 por as Santana esmolas– o que diz respeito à ação dos esmoleres, pessoas que saíam, com oratório, pedindo donativos para construção de igrejas. Mais abaixo, em meio a ornatos variados, se encontra uma lança circundada, pelo lado direito, por um cálice, e, pelo lado esquerdo, por um coração. A simbologia é clara e não demanda maior erudição: o cálice representa o sangue de Cristo, a lança significa a traspassação, que fez o sangue jorrar na cruz, e o coração, ferido aqui por um cutelo, representa o martírio”.

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