Jornal Estado de Minas

'Foi na raça', diz professor ao irmão sobre dias em que ficou perdido no Pico da Bandeira


“Foi na raça”. Foi com essa frase que o professor Antônio Teodoro Dutra Júnior, de 43 anos, resumiu para o irmão os cinco dias que ficou perdido no Parque Nacional do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com Espírito Santo. De acordo com Aldrin Teodoro Dutra, o homem está bem e passa por exames no hospital. Para sobreviver no Pico da Bandeira, o educador contou que contou com barras de cereal para matar a fome e ganhar forças.

O professor desapareceu no sábado quando fazia uma trilha junto com um grupo da Igreja Presbiteriana. Ele foi encontrado no início da tarde desta quinta-feira por militares do Espírito Santo. “Já encontrei com ele. Está bem, graças a Deus. Passou por procedimento médicos e sem nenhum problema.
O médico pediu um raio x do pé porque estava inchado, provavelmente, por causa de uma torção. Mas só isso mesmo e um soro para hidratar”, afirmou Aldrin.

Segundo ele, o irmão afirmou que os cinco dias sozinho na mata foram bastante difíceis. “Disse apenas que foi na raça. Sabia que estava só e que poderia contar apenas consigo mesmo”, contou o irmão. “No domingo, por volta das 9h, 10h, um horário que ele chutou, pois não tinha relógio, meu irmão contou que notou que já estava f... Literalmente. Não tinha muito o que fazer.
Teve que se virar com barras de cereal e foi comendo. Bom que ele tem uma saúde boa. Ele acabou emagrecendo”, brincou.

Os nove anos que passou na Força Aérea Brasileira (FAB) de Lagoa Santa ajudaram o professor na luta pela sobrevivência. Ele foi encontrado por militares do estado capixaba no início da tarde desta quinta-feira. Sem nenhum ferimento aparente, ele não precisou ser amparado e saiu andando junto com a equipe de resgate. (Veja abaixo o depoimento dado aos militares pelo professor)



Segundo o Corpo de Bombeiros, Antônio foi visto próximo a um restaurante em Ibitirama, no Espírito Santo. Ele conversou com os militares do estado capixaba e até posou para fotos. Aldrin afirmou que a família ficou aliviada. “Agora ficou bom, antes estava muito difícil.
Ontem (quarta-feira), já tinha dado uma renovada muito grande quando foram localizados alguns objetos dele, pano e garrafa de água. Era um local de trilha que ninguém tinha sido procurado por ali, então imaginava muito que era ele. Graças a Deus nossos pensamentos se confirmaram”.

Aldrin agradeceu a ajuda de amigos e a força dada por várias pessoas nas redes sociais. “Muito bom a solidariedade e mobilização. Quando não está perto da pessoa, ficamos desesperados. É muito bom para a família saber que importam. Hoje conseguimos reencontrar nosso irmão. É uma dor muito grande para quem procura uma pessoa desaparecida e não encontra”, desabafou.



O sumiço

Antônio, também conhecido por "Rosca", sumiu no sábado, quando escalava o Pico da Bandeira, na companhia de um amigo. Ele estava com um grupo de 38 pessoas de uma excursão da Igreja Presbiteriana.
Durante o trajeto, Rosca se distanciou e não foi visto mais. A última conversa dele antes do desaparecimento foi com Leonardo, um amigo. O contato ocorreu às 3h30 de domingo.

De acordo com os bombeiros, o amigo do professor contou que pequenos grupos formados pelos caminhantes haviam parado para descansar e comentaram sobre a dificuldade da trilha, por causa do frio, do barro e o cansaço das pessoas. Somente três das 38 pessoas que faziam o trajeto conseguiram chegar ao cume do Pico da Bandeira.

As buscas por Antônio, que nasceu na cidade mineira de Manhuaçu, na Zona da Mata, e mora em Ouro Preto, na Região Central do estado, começaram no domingo, com militares dos bombeiros do Espírito Santo e Minas, além de funcionários do parque. Cães farejadores e até um helicóptero têm sido usados na varredura, mas não foram encontradas pistas do professor, que estava agasalhado e com suprimentos. As temperaturas na região chegaram a ficar abaixo de zero.

RB

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