Minas Gerais registra oito assaltos com reféns em sete dias

A concentração dos crimes no período mostra que, apesar de essa modalidade de crime estar em queda ainda aterroriza, e muito, os mineiros. Somente até maio, foram 131 ocorrências do gênero

João Henrique do Vale
Para o professor Robson Sávio, o pico de crimes da semana passada acende um alerta para uma possível mudança na tendência de queda - Foto: Marcos Vieira/EM/DA Press - 7/6/12
Trancados dentro de porta-malas de carros, em cárcere na própria casa ou até mesmo ameaçados em veículos abordados por criminosos. Moradores de Belo Horizonte e de outras seis cidades mineiras viveram momentos de terror e pânico na última semana, mantidas como reféns de assaltantes depois de serem rendidas. Levantamento do Estado de Minas mostra que foram registradas oito ocorrências do tipo no intervalo de sete dias. A concentração dos crimes no período mostra que, apesar de essa modalidade de crime estar em queda – o último balanço disponível mostra uma redução de 10,2% nos cinco primeiros meses do ano, em relação a igual período de 2016 –, ainda aterroriza, e muito, os mineiros. Somente até maio, foram 131 ocorrências do gênero.

Para a Polícia Militar (PM), o pico de crimes registrados na semana passada pode indicar uma migração momentânea dos bandidos de outras modalidades eventualmente mais atingidas pelo próprio trabalho da corporação. O chefe da sala de imprensa da corporação, major Flávio Santiago, destaca ainda outro ponto: a reincidência criminal. “Ocorre o empoderamento do infrator, que reiteradamente comete crime por causa do fenômeno da reincidência e da lei de execução penal, que permite ao indivíduo retornar rapidamente às ruas”, comenta.

O professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) e associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio, acredita que o número de casos não aponta, necessariamente, um aumento nesse tipo de crime. “Ainda não dá para falar em aumento.
Para isso, é preciso que a tendência siga crescendo em um período contínuo de ano. Os dados dessa semana mostram um pico de casos de assaltos com reféns. No entanto, o fato serve como uma luz de alerta para um futuro crescimento”, aponta.

Nos crimes da semana passada, os bandidos utilizaram diferentes estratégias para fazer reféns. Foram vítimas famílias, funcionários de empresas, gerentes de bancos e motoristas de aplicativos de carona. A primeira ocorrência foi em Varginha, na Região Sul de Minas Gerais. Criminosos armados invadiram uma casa no Bairro Vila Mendes e renderam uma família. Um casal e o filho, de 6 anos, foram amarrados pelos assaltantes. Os invasores fugiram levando dinheiro, aparelhos eletrônicos e outros pertences dos moradores. Na quinta-feira, um homem foi preso e um adolescente detido suspeitos do crime. Um terceiro ainda é procurado. Parte dos produtos levados foi recuperada.

A mesma estratégia foi usada em outro assalto, dessa vez em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Três homens armados fizeram cinco pessoas reféns durante três horas. Segundo relato de uma das vítimas, de 41, à Polícia Militar, por volta da 1h de quarta-feira ela foi ao banheiro da casa e se deparou com dois homens armados andando pelo imóvel.
A dupla rendeu e amarrou a mulher e outras quatro pessoas que estavam na residência: três homens, de 44, 23 e 22 anos, e uma outra mulher de 20, além de duas crianças. Foram levadas chaves de veículos, um computador, uma máquina fotográfica, dois drones profissionais, moedas de colecionador e joias.

Em Taquaraçu de Minas, na Região Central de Minas Gerais, duas pessoas foram feitas reféns em uma residência na quinta-feira. De acordo com a PM, os homens ficaram no imóvel por cerca de uma hora. Lá, onde também funciona um supermercado, pai e filho foram rendidos. Os criminosos levaram duas televisões, celulares, um carro e R$ 2 mil em dinheiro. Os homens fugiram no veículo roubado e foram localizados próximo a uma mata da cidade. Dois foram presos e um terceiro conseguiu fugir. Houve troca de tiros entre os policiais e os ladrões.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, dois motoristas parceiros da empresa Uber foram roubados e ficaram reféns de bandidos no fim da noite de quarta-feira em duas ocorrências diferentes. Nos dois casos, os condutores foram atender corridas solicitadas pelo aplicativo e acabaram vítimas dos crimes.

Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, dois homens provocaram terror em funcionários de uma funerária. Com máscaras e capacetes, a dupla invadiu o imóvel, localizado na Rua Hermes da Fonseca, no Centro da cidade, e rendeu dois homens, de 30 e 49 anos.
As vítimas foram amarradas e uma delas amordaçada. Os criminosos fugiram levando pouco mais de R$ 130 mil.

BANCOS No Sul de Minas, as quadrilhas utilizaram os reféns para assaltar agências bancárias. Um gerente foi rendido por cinco homens armados, segundo a PM, na estrada entre Alfenas e Divisa Nova. Eles seguiram até o banco, onde renderam o vigia, e obrigaram o bancário a abrir o cofre. A quadrilha fugiu levando dinheiro, o carro e celular do gerente, além da arma do segurança.

Em Fama, quatro criminosos renderam a família de um gerente e a mantive em cárcere durante a madrugada. Quando amanheceu, o grupo foi até uma agência bancária da cidade e o funcionário foi obrigado a abrir o cofre. Os criminosos fugiram levando o dinheiro antes de liberar as vítimas e ainda estão sendo procurados..