Delegado: vídeo não indica crimes relatados por mãe na 381; advogado mantém denúncia

Policial diz que imagens de câmeras de parada de ônibus onde mãe teria sofrido injúria racial por ser negra e ter filha branca não apontam ocorrência de crime. Advogado da mulher reafirma que ela foi vítima da racismo no banheiro do estabelecimento

João Henrique do Vale Cristiane Silva

Análises iniciais da Polícia Civil sobre imagens de câmeras de segurança de uma parada de ônibus na BR-381 em Perdões, no Centro-Oeste de Minas, não identificaram crimes contra a mãe de 22 anos que relatou ter sido vítima de injúria racial por ser negra e ter a filha de pele branca.

Jamille Edaes sustentou que as agressões, atribuídas a funcionários do local, aconteceram no banheiro. O delegado adjunto de Lavras, Ailton Pereira, responsável pelo caso, afirmou que os vídeos não mostram que ela tenha entrado no banheiro e indicam que a jovem apenas lanchou e voltou para o coletivo em que viajava. Já os advogados de Jamille afirmam que ela usou o sanitário para trocar as fraldas da criança.

O inquérito foi aberto depois que a mulher procurou a delegacia para denunciar o caso. Ela relatou que estava na parada de ônibus com a filha quando foi vítima de injúria racial. Segundo a jovem, funcionários questionaram de quem era a criança. Mesmo afirmando que era a mãe, Jamille Edaes diz que funcionários não acreditaram, por ela ser negra e a filha ser de pele branca. Comentou, ainda, que uma mulher com uniforme da lanchonete chegou a tomar a garota de seu colo e entregá-la a uma terceira pessoa.
Ela conta que teve de mostrar documentos comprovando o grau de parentesco com a criança.

O delegado Aílton Pereira disse, após analisar imagens das câmeras de segurança, que a mulher não entrou em nenhum momento no banheiro, onde ela relatou que a situação teria ocorrido. “As imagens são nítidas. Ela desce do ônibus com a criança, volta para pegar o suco, compra o salgado, paga e depois volta para o veículo. Fica o tempo inteiro no celular, enquanto a menina fica correndo de um lado para o outro. Pelo vídeo, não aconteceu nada”, afirma o delegado. Segundo ele, funcionários do ponto de parada foram ouvidos e também contradisseram as acusações da mãe. “Vamos ouvi-la nos próximos dias, por carta precatória ou vamos enviar uma equipe até Betim para colher o depoimento dela”, completou.

O advogado Marcelo Machado, que defende Jamille, sustenta que a cliente entrou no banheiro e sofreu injúria racial. “O que é fato é que ela entrou no posto e foi abordada por um funcionário já questionando sobre a mãe da menina. Depois, outro funcionário chegou e perguntou sobre a mãe da criança e ela respondeu que era ela. Quando foi pagar a conta, um terceiro funcionário questionou sobre a menina. Momento em que foi ao banheiro trocar a fralda da garota, quando foi abordada pela servidora que estava lá dentro.
A mulher pegou a criança e estava entregando a uma terceira pessoa, quando ela interveio. Nesse momento, mostrou os documentos e a terceira pessoa também alegou que não era a mãe da menina”, disse o defensor.

O advogado informou que vai aguardar o fim das investigações para tomar as medidas judiciais necessárias. “Primeiro vamos esclarecer a investigação no tocante a esses fatos da injúria racial. E tão logo isso ocorra vamos tomar as medidas possíveis na área cível para que ela seja ressarcida”, comentou.

Filmagem

O gerente de Marketing do posto às margens da BR-381 onde teria ocorrido o episódio, Emílio Vasconcelos, afirmou que não foi constatado nenhum fato estranho no estabelecimento. “Se houvesse, seria de fácil identificação, porque são 70 funcionários no turno, a cada metro quadrado tem um. E as câmeras olham tudo”, disse. “Ela comprou, rodou um pouco dentro (da loja); não entrou no banheiro. O circuito dela todinho, desde que saiu do ônibus, passou pelo parquinho, foi ao self-service, passou no caixa, voltou para pegar um suco – a menina brinca com ela ao longo da lojinha – e ela saiu no caixa novamente, pagou, entrou no ônibus e foi embora.
Isso durou entre 15 a 20 minutos.”

A empresa de ônibus em que a jovem viajava também negou ter ciência de qualquer incidente. “A empresa só tomou conhecimento dos fatos pelas redes sociais. Em conversa com o motorista, ele informou que não houve nenhuma anormalidade em toda a viagem, inclusive nas paradas. Por fim, reafirmamos nosso compromisso de prestar um excelente atendimento e um serviço com a qualidade exigida por nossos clientes”, comunicou a companhia.

 

(RG) 

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