Ações contra a febre amarela ajudaram a evitar outras doenças em Minas

Passada a pior fase da enfermidade no estado, com recorde de casos no país, prefeituras ainda administram impactos financeiros e constatam que combate ao Aedes aegypti freou avanço de outras viroses

Junia Oliveira Valquiria Lopes
Agentes de saúde aplicam fumacê em casas na zona rural de Ladainha, no Vale do Mucuri, que teve a maior quantidade de casos no estado e precisou lançar mão de recursos próprios para enfrentar emergência - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS - 15/01/2017
Um aprendizado dolorido para a saúde pública. Depois do surto de febre amarela que deixou Minas Gerais em destaque no país, ao liderar o ranking dos estados com o maior número de casos, restam para os municípios as lições da prevenção. Alguns aguardam ainda repasse de recursos para pagar gastos no combate à doença. Com o trauma ainda recente, cidades do interior que estiveram na rota do vírus apontam as ações de prevenção contra o mosquito Aedes aegypti, para evitar a reurbanização da febre amarela, como fator decisivo para afastar do caminho também a dengue, chikungunya e zika, outras enfermidades que podem ser transmitidas pelo mosquito.


O surto de febre amarela em Minas teve início em 4 de janeiro, quando foi notificado o primeiro caso da doença. Com baixa cobertura vacinal entre a população, em torno de apenas 50%, o estado registrou 1.139 notificações e teve confirmação para 427, segundo último balanço da Secretaria de Estado da Saúde (SES), de 26 de abril. Por causa do alto grau de letalidade, a doença infecciosa febril aguda e de rápida evolução matou 151 pessoas. Outros 54 óbitos continuam sob investigação. Durante todo o período do surto houve uma corrida aos postos de saúde para vacinação em diversas regiões do estado, com destaque para as áreas de maior incidência de casos.

Atualmente, a SES confirma que a doença está controlada no estado e, com isso, resta aos municípios contabilizar os gastos e avaliar quais foram as lições do problema.

Em Malacacheta, nos vales do Jequitinhonha/Mucuri, o início do surto foi para lá de conturbado. Para dar conta da emergência, foi preciso mexer nos cofres do município em momento inicial, para montar equipes e resolver o problema de uma frota sucateada de veículos, que precisava chegar à zona rural. Hoje tudo foi normalizado, segundo o secretário municipal de Saúde, Marcus Vinícius Esteves Silva. A fase agora é de monitorar de perto a situação. “Estamos voltando às casas para ver se todo mundo está vacinado, mas a cobertura vacinal passou de 90%”, afirma.

VIGILÂNCIA A Superintendência Regional de Saúde de Coronel Fabriciano, que compreende 35 municípios, continua fazendo uma varredura em toda a zona rural para atualizar ou distribuir cartões de vacinas a moradores e trabalhadores dessas áreas. São alvo também da busca ativa das equipes de saúde da família pessoas que passam fins de semana em sítios e fazendas e os outros dias na cidade.

Em Caratinga, no Vale do Rio Doce, o secretário municipal de Saúde, Giovanni Corrêa da Silva, diz que, no fim das contas, um surto evitou outro. Por causa das ações para combater a febre amarela, a anunciada epidemia de dengue, zika e chikungunya, que era esperada para março, abril e maio, não teve vez. “A ação foi tão eficaz que nossos níveis hoje estão baixíssimos, um dos mais baixos de todos os tempos”, destaca. Enquanto no ano passado a cidade registrou mais de 600 casos de chikungunya, este ano 31 pessoas foram contaminadas.

Para ele, é o resultado das ações de combate ao Aedes, também vetor da febre amarela, entre elas a aplicação de fumacê nas zonas rural e urbana. Havia temor em todos os municípios atingidos de que a febre silvestre se tornasse urbana. Segundo o secretário, o inseticida só será usado novamente se houver necessidade, mas a população está sendo conclamada a não baixar a guarda, por meio de campanhas publicitárias e informações divulgadas via imprensa. “As visitas domiciliares continuam sendo feitas e refeitas. É importante a população contribuir para não haver criadouros do mosquito.”

De acordo com Giovanni Corrêa, 90% da população foi vacinada (82 mil, do total de 91,5 mil habitantes).
Os 10% restantes não podiam ser imunizados ou já tinham tomado a vacina. “A intenção é manter o pique para evitar o que ocorreu. É uma lição histórica para o estado e para o Brasil”, afirma.

Fila para vacina: como a imunização era baixa entre habitantes de todo o estado, campanha teve que ser feita às pressas - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS - 15/01/2017
ESPERA Cidade com o maior número de mortos em decorrência da febre amarela (21) e a maior quantidade de casos confirmados (50), Ladainha, no Vale do Jequitinhonha, aguarda resposta sobre pedidos de ajuda financeira. Segundo o prefeito, Walid Edir de Oliveira (PSDB), foram gastos entre R$ 280 mil e R$ 300 mil no combate, tirados do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Isso afeta todo o mecanismo da saúde”, afirma. A vizinha Poté passa pelo mesmo problema e aguarda pelo menos R$ 100 mil. “Tiramos dinheiro de uma saúde já debilitada para combater uma doença que nos pegou de surpresa”, diz o prefeito da cidade, Gildésio Sampaio (PRB).

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde informou ter liberado cerca de R$ 10,9 milhões para os municípios que foram acometidos pela surto de febre amarela pertencentes às regiões de saúde de Coronel Fabriciano, Governador Valadares e Manhumirim. A verba teve como objetivo o apoio diagnóstico assistencial e laboratorial, assistência farmacêutica e qualificação da informação de doenças classificadas como emergências em saúde pública, bem como para ações de vigilância e controle das viroses transmitidas pelo Aedes aegypti. A secretaria informou também ter feito ações de vigilância, controle, prevenção e mobilização social (via campanha publicitária), que custaram em torno de R$ 2 milhões. Outro montante de recursos foi investido em ações da Diretoria Hospitalar e em vacinação.

Para o enfrentamento da doença, a SES informa que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente a vacina, por meio do Calendário Nacional de Vacinação, nas unidades básicas de saúde, principalmente para as pessoas que moram ou vão viajar para área rural, silvestre ou de mata.
Explicou ainda que são feitas ações educativas, de mobilização social, para eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti em municípios infestados, visando evitar a reurbanização da febre amarela. E que tem mantido o apoio aos municípios na investigação dos casos e nas ações de mobilização, controle e vacinação, já intensificadas por ocasião do surto. O monitoramento continua também para notificação e investigação (em até 24 horas) de todos os casos humanos suspeitos, incluindo aqueles de doenças febris ictéricas e/ou hemorrágicas, óbitos por causa desconhecida e mortes de primatas.

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