Fim do cartão de desconto do metrô divide opiniões entre usuários

CBTU alega problemas nas tarjas magnéticas e extingue bilhetes com 10 viagens, que eram vendidos ao custo de nove passagens. Não haverá outra forma de promoção, afirma empresa

Valquiria Lopes

Entre janeiro e abril de 2017 foram vendidos 59.820 bilhetes múltiplos de 10 - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que não será mais realizada a venda dos bilhetes múltiplos de 10 nas estações da Grande Belo Horizonte. A opção, que dava a possibilidade de o usuário comprar 10 bilhetes pelo custo de nove (atualmente R$ 16,20), foi extinta. Agora, o usuário poderá adquirir apenas bilhetes unitários, por R$ 1,80. E não haverá desconto, mesmo que compre 10 unidades desse bilhete de uma única vez, confirmou da CBTU, por meio de sua assessoria de imprensa.

A compra de passagens com desconto é comum em estações de metrô de todo o Brasil e do mundo, mas foi cancelada desde segunda-feira. De acordo com a CBTU, a decisão foi tomada para evitar transtornos aos usuários, tendo em vista o que considerou a alta incidência de queima na tarja magnética ocasionada por má conservação e desgaste dos tíquetes, quando comprados em maior número e, consequentemente, a retenção desses bilhetes nas catracas das estações.

O fiscal de loja Athaniel Alves de Oliveira, de 21 anos, criticou o fim do bilhete com desconto. “Pra mim, vai ser horrível. Pego metro todos os dias e o desconto era um benefício que tínhamos por utilizá-lo. O valor vai fazer diferença no final do mês.
Não tem como parar de usar o metrô por causa disso, mas acho muito ruim”, afirmou o jovem, que foi pego de surpresa com a novidade divulgada pela CBTU. Sobre o erro na leitura do bilhete na catraca, ele ponderou que aconteceu com ele apenas uma vez: “De tantas vezes que uso o bilhete, ocorreu apenas uma vez. Nunca vi retenção nas catracas por conta disso. O meu problema foi resolvido na hora, com a devolução do número de bilhetes no cartão”, lembrou Athaniel.

A vendedora Ronilda Moreira, de 43, que também utiliza o bilhete, contou que também não percebeu problemas relacionados à queima na tarja magnética do cartão. Mas, ao contrário de Athaniel, ela não se abalou com fim do bilhete. “Eu gosto muito, mas o metrô é o meio de transporte mais barato de Belo Horizonte. Por isso, não vejo um grande prejuízo para o usuário”, afirmou a vendedora. 

ESPECIALISTA
Mas, sobre a perda do desconto, o engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho garante que a mudança é negativa para o passageiro. “O usuário sai perdendo. E ponto final. Porque perde o desconto de 10% que era visto como incentivo para uso do metrô”, afirma. Ele diz ainda que a alteração é uma clara medida de política tarifária da CBTU que, por sua vez, tem o direito de acabar com o que até então era tido como uma “promoção” no momento da compra. “Isso não significa que o passageiro vá ser lesado. O que ocorre é que com essa nova forma de venda, os 10 bilhetes voltam a custar o preço normal”, explica.

O especialista ainda avalia que, assim como funciona o mercado, onde quanto maior o preço, menor é a demanda, a CBTU deve sofrer um impacto negativo.
“O número de viagens pode diminuir, ainda que essa queda seja pouco significativa. Apesar disso, o metrô continua sendo um meio de transporte vantajoso frente ao ônibus, por exemplo, já que tem tarifas mais baixas que os coletivos”, afirma Silvestre.

Entre janeiro e abril de 2017 foram vendidos 59.820 bilhetes múltiplos de 10. Cerca de 9 mil destes, o que representa 15% do total, apresentaram problemas na tarja magnética e precisaram ser trocados ou foram devolvidos, de acordo com nota divulgada pela CBTU. Ainda de acordo com a companhia, os usuários que garantiram os bilhetes múltiplos de 10 até 1º de maio poderão usá-los até o final dos créditos.

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