Campanha busca arrecadar fundos para Casa de Acolhida Padre Eustáquio

Instituição, que fica na Pampulha, oferece escola e uma variedade de serviços a crianças e adolescentes com câncer

Junia Oliveira
Crianças e mães na Cape: atendidos têm acesso a escola, serviço psicológico, de assistência social, nutrição, fisioterapia e acupuntura - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS
Doses de alegria, injeções de ânimo e muitos, muitos sorrisos. Afinal, ali, o objetivo é tratar a vida, deixando para quem é de direito a tarefa de cuidar da doença. Com essa receita, crianças e adolescentes de diversas partes de Minas Gerais e também de outros estados têm o incentivo para enfrentar a luta contra o câncer e enfermidades hematológicas na Casa de Acolhida Padre Eustáquio (Cape), localizada na Pampulha, em Belo Horizonte. Alegria é a palavra-chave e contagia voluntários, pacientes, familiares e parceiros. Para arrecadar fundos para a instituição, uma rede de cinema lançou campanha com uma identidade que é a cara da iniciativa: a felicidade.


Na Cape, tudo é colorido. Personagens do imaginário infantil estão por toda parte. Clássicos da literatura infantojuvenil enchem a biblioteca. O espaço foi fundado há pouco mais de três anos, resultado de, literalmente, um sonho que se tornou realidade.

O idealizador do projeto é José Marcílio de Moura Nunes, filho de uma das chefs mais renomadas de Minas Gerais, a dona Lucinha, proprietária do restaurante homônimo na Região Centro-Sul da capital. Ele teve um sonho no qual o beato Padre Eustáquio lhe pedia para cuidar de crianças com câncer. José Marcílio não pestanejou. Foi à Santa Casa, ao Hospital das Clínicas, da Baleia e identificou um índice alto de óbitos em função do diagnóstico e do abandono do tratamento. Nessa mistura de fé e solidariedade nasceu a casa, que começou totalmente mantida por ele e, hoje, vive de doações.

Os atendidos na Cape têm acesso a serviço psicológico, de assistência social, nutrição, fisioterapia e acupuntura. Mesmo em tratamento, ninguém fica sem estudar. O espaço disponibiliza uma escola reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Prefeitura de BH. “O câncer tem uma média de tratamento de dois a cinco anos e, por isso, atinge não só o paciente, mas toda a família. A doença pode levar ao desemprego, pois a mãe, às vezes, tem que abandonar o trabalho para cuidar do filho. Em muitos casos, leva também ao divórcio, enfim, abala toda a estrutura das famílias. Buscamos apoiá-las, para darem continuidade ao tratamento até a cura da criança”, afirma a superintendente da casa, Mônica Araújo. Outro ponto forte da equipe é o fortalecimento da fé, independente da religião. “Acreditamos que a fé tem um fator grande no percentual de cura”, explica.

Mesmo diante de tanto esforço, perdas são inerentes.
Em três anos, 136 crianças foram acolhidas, mas 17 não venceram a batalha contra o câncer. Hoje, 119 estão na luta pela vida. De maneira geral, uma das causas de mortalidade, segundo Mônica, é a dificuldade de acesso ao diagnóstico precoce e o abandono ao tratamento. Vários fatores influenciam. “As crianças mantêm a essência de brincar. Os pais pensam que está tudo bem, deixam de levar a uma rádio ou quimioterapia em função dos outros filhos, e acaba havendo esse índice elevado por causa da desistência. Por isso, oferecemos esse suporte: para continuarem”, diz. Pensando nisso, a equipe intervém diante de qualquer problema familiar, fazendo acompanhamento integral de toda família para que haja a possibilidade física e emocional de se chegar à cura do paciente.

kit sorriso Nos cinemas da rede Cineart, está à venda na bomboniere o Kit Sorriso – refrigerantes e um balde de pipoca com o desenho de vários sorrisos. Parte da renda da comercialização do produto vai para a Cape. A ideia dessa parceria, uma das mais recentes, é vender sorrisos para arrecadar recursos em prol da casa.
A gerente de marketing do Cineart, Marina Rossi, diz que o desenho do kit foi feito com o intuito de os clientes conhecerem, entenderem o trabalho e ajudarem a instituição. Em menos de 10 dias, o primeiro lote do produto estava esgotado. As crianças que estão em melhores condições de saúde e podem sair da Cape são convidadas para ir ao cinema em sessão especial, com horário exclusivo e todas as condições – do ar-condicionado ao pessoal – a postos para atendê-las. “A Cape é nosso parceiro vitalício. Estamos contando com a forma de ajudar dentro e fora do cinema. As crianças são uma gracinha. E são felizes, o que dá muita vontade de ajudar”, conta.

Mônica Araújo lembra que a solidariedade tem um significado especial em todo esse trabalho: “Não estamos aqui para tratar a doença. O que vale é a vida. Não tratamos ninguém como coitados.Todos estão vivos e faremos o possível para que esses momentos sejam os melhores. Acreditamos sempre que existe um futuro. Todos os atendimentos e atividades estão buscando para as famílias um futuro melhor”.

A Cape busca apoio de várias empresas e de pessoas físicas. Quem quiser ajudar pode programar doações por cartão de crédito mensal e também por boleto ou depósito bancário. Mais informações no (31) 3401-8000 ou 98896-5593 (WhatsApp) e pelo site cape-mg.org.br.

'Buscamos apoiar as famílias para darem continuidade ao tratamento até a cura da criança', diz Mônica Araújo, superintendente da casa - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS
Governo reforça importância do diagnóstico precoce


O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) lançaram, este ano, documento inédito na tentativa de detectar o quanto antes o câncer em crianças e adolescentes. O protocolo de diagnóstico precoce do câncer pediátrico tem o objetivo de auxiliar profissionais da saúde a conduzir casos suspeitos e confirmados dentro de uma linha de cuidado, com definição de fluxos e ações desde a atenção básica até a assistência de alta complexidade. De acordo com a pasta, a doença nos pequenos tem crescimento rápido, por isso, é importante o diagnóstico precoce e o ágil encaminhamento para início de tratamento.

O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco Figueiredo, informou que, em muitos casos, a dificuldade de suspeita e de diagnóstico do câncer nas crianças e nos adolescentes é o fato dos sinais e sintomas serem comuns a outras doenças. Isso faz com que as famílias recorram à assistência médica várias vezes, e o paciente pode ser diagnosticado já com doença avançada.

Entre os sintomas de câncer em crianças estão: palidez, hematomas, sangramento, dor óssea, perda de peso inexplicada, caroços ou inchaços, alterações oculares, inchaço abdominal, dores de cabeça persistente, vômitos e dor em membro, inchaço sem trauma. Dados do Inca mostram que a mortalidade por câncer entre crianças e adolescentes no Brasil está estável, sendo, atualmente, a primeira causa de morte por doença na faixa etária de 1 a 19 anos.

Os tipos de cânceres infantojuvenis mais comuns são as leucemias, seguidos dos linfomas (gânglios linfáticos) e dos tumores do sistema nervoso central (conhecidos como cerebrais). O número de óbitos por câncer nessa faixa etária é menor apenas do que o de causas externas, como os acidentes e violência. No Brasil, o câncer infantojuvenil responde por 3% de todos os tipos de câncer, o que leva à estimativa de que tenha ocorrido, no ano passado, aproximadamente 12,6 mil casos novos de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos de idade.

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