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Estado de Minas

Corte de árvores em risco de queda em BH divide especialistas

Espécimes poderiam ser salvos, segundo ecologista. 'Temos que ser realistas', discorda técnica da Prefeitura de BH


postado em 22/03/2017 06:00 / atualizado em 22/03/2017 07:22

Corte de árvore infestada pelo besouro na Serra: 370 espécimes foram identificados para poda ou supressão(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Corte de árvore infestada pelo besouro na Serra: 370 espécimes foram identificados para poda ou supressão (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Árvores sobre carros, galhos ameaçando fiação elétrica e o medo de algum exemplar atingir um pedestre escancaram a relação conflituosa entre esses dois seres vivos numa cidade grande como Belo Horizonte: elas e os humanos. Uma sucessão de eventos recentes envolvendo a queda de plantas de grande porte e a supressão de dezenas delas motivadas pela contaminação pela larva do besouro metálico faz da questão “cortá-las ou não cortá-las” uma discussão delicada.

Anteontem, uma árvore caiu em cima de três carros na Avenida do Contorno em frente ao número 5.628, próximo ao cruzamento com a Rua Professor Morais, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH. Quinta-feira à noite, a queda de um galho de árvore na Avenida Getúlio Vargas com Rua Piauí, no mesmo bairro, complicou o trânsito na região. No início do mês passado, uma castanheira de 10 metros de altura desmoronou na Rua Visconde do Rio das Velhas, no Bairro Vila Paris, também na Centro-Sul, e parte dos galhos perfurou as paredes, indo parar dentro do apartamento de um prédio.

Professor de Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Sérvio Pontes Ribeiro afirma que a supressão não pode ser indiscriminada e deve ser analisada caso a caso. Segundo ele, o grande gargalo que possibilita cortar árvores que poderiam ser salvas e deixar outras caírem tem a ver com a manutenção. “Se quisermos viver numa cidade que tenha um ecossistema, que não seja ilha asfáltica, pois não há sobrevivência possível assim, temos que florestar nosso ambiente e criar condições ecológicas de sobrevivência dentro e fora da cidade. Não há hipótese de existir uma cidade que não seja arborizada, mas, como tudo onde mora muita gente, é preciso investimento em manutenção”, diz.

Técnica da Gerência de Gestão Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Márcia Mourão rebate, afirmando que a manutenção é cotidiana e permanente. Ela diz que a tarefa do setor é preservar ao máximo possível as árvores, mas também prezar pela segurança nas pessoas, dos bens e de tudo mais que há na cidade. “São seres vivos que nascem, crescem, se desenvolvem e morrem. Podem cair em momentos inoportunos, causando acidentes às vezes graves. A missão é pela preservação. Mas, há momentos nos quais temos que ser realistas e pé no chão e partir para eliminação daquela árvore, já prevendo riscos que são iminentes”, destaca.

Árvores fragilizadas, sem sustentação pelo envelhecimento natural ou afetadas por doenças, ou ainda geradoras de problemas para outras são propensas à supressão. “E não se tratando de uma praga, pode ser reposta imediatamente”, explica Márcia. No caso da reposição daquelas afetadas pelo besouro, por exemplo, a orientação é de aguardar pelo menos seis meses para novo plantio, pois em grande parte delas o solo também está contaminando, podendo prejudicar as mudas.

Para Pontes, entretanto, a falta de equipes técnicas para cuidar da situação das árvores e monitorá-las leva a ações que deveriam ocorrer emergencialmente a se tornarem constantes. “Não se pode suprimir várias, por causa de algumas que caem”, ressalta. Ele destaca que falta investimento em recursos humanos e em insumos, ao citar que há apenas um caminhão para recolher restos de árvores na Região Centro-Sul. 

Para ele, a manutenção é fator decisivo até mesmo na questão do besouro metálico. Da família dos brocadores, esses insetos são atraídos pelo cheiro de compostos liberados por árvores que estão morrendo. “Normalmente, não atacam um tronco saudável. E mesmo que o bicho se instale numa árvore ainda viva, uma parte dela não está muito bem. Sendo assim, voltamos ao problema original. Onde está a manutenção dela? Não há recursos para isso. Então, todas as árvores serão cortadas?”, questiona. Márcia Mourão rebate o professor e nega falta de pessoal para manutenção, que afirma ser efetiva.

A infestação pelo besouro metálico foi detectada pela Cemig em agosto de 2016, quando uma árvore caiu e atingiu três postes no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul da capital mineira. As espécies atingidas são munguba e paineira. A Prefeitura de Belo Horizonte monitora 1,2 mil árvores espalhadas em toda a cidade. Os cortes das árvores infestadas começaram em fevereiro. Segundo a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), 370 espécimes foram identificados para poda ou supressão. Destas, 77 foram suprimidos e outros 293 ainda passarão por intervenção dos técnicos da prefeitura.


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