Laboratório que fabrica vacinas contra a febre amarela opera no limite

Surto obriga linha de produção de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz a operar no limite da capacidade. Total de doses entregue em dois meses, 21 milhões, supera volume de remessas de um ano inteiro

Valquiria Lopes
Instituição assegura que não faltarão doses para a população, mas para isso conta com surto sob controle - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press
O surto de febre amarela, que bate recordes de vítimas em Minas Gerais e deixa todo o país em alerta, exigiu um esforço que levou o laboratório Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a chegar ao limite da produção de vacinas, suspender a exportação do produto e a superar, em pouco mais de dois meses, toda a entrega de doses normalmente feita em um ano ao Ministério da Saúde. Nos 12 meses de 2015, a instituição entregou 19,1 milhões de doses. Em 2016, 16,3 milhões. Já de dezembro do ano passado a 8 de fevereiro deste ano, foram liberadas 21 milhões de vacinas. A fundação sustenta que, apesar da situação adversa, não haverá desabastecimento. Mas, para isso, aposta no controle dos casos.


O vice-diretor de Produção de Bio-Manguinhos, Antônio Barbosa, explica que, desde dezembro, quando se teve notícia dos primeiros casos da virose, a instituição começou a estocar mais doses da vacina. Em janeiro, a produção mensal, que era de 2 a 3 milhões de doses/mês, saltou para até 9 milhões, o que representa a capacidade máxima do laboratório. “A produção varia de acordo com a demanda do programa nacional de imunização, mas em geral é de 22 milhões a 30 milhões de doses por ano.

E, de dezembro para cá, num período de pouco mais de dois meses, entregamos ao ministério o que normalmente é entregue em um ano inteiro. Essa produção é espantosa. Passamos a trabalhar sábados, domingos... É um trabalho de sete dias por semana, 24 horas por dia”, afirma o vice-diretor.

Outra medida que o laboratório precisou adotar para reforçar a produção da vacina da febre amarela foi alterar o planejamento em relação a outros imunizantes. “Alteramos o plano-mestre e postergamos a entrega da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). Em vez de entrar em produção em fevereiro, ela vai entrar em abril”, explica o vice-diretor. Porém, Antônio Barbosa afirma que a mudança no calendário não trará prejuízo à população, já que há estoque do produto no Ministério da Saúde. “Essa linha de produção (da tríplice viral) é compartilhada. Quando voltarmos a produzi-la, serão duas linhas de produção: a dela e a da febre amarela, que praticamente não para.” O imunizante contra a febre amarela é produzido em duas etapas e leva cerca de 80 dias para ficar pronto.

Apesar dos altos números de doses, a atual produção e distribuição da vacina não é recorde em Bio-Manguinhos, segundo Antônio Barbosa, diante do grande número de casos em outros grandes surtos já registrados no Brasil, a exemplo do ocorrido em 2009. O laboratório sempre exporta o que é excedente da demanda nacional. “Nossa prioridade é atender ao programa nacional de imunização e ao Sistema Único de Saúde. Se não sobrar nenhuma dose, não exportamos, e é o que tem ocorrido no momento. Não estamos vendendo para o exterior desde novembro”, explica.
As remessas para outros países representam entre 20% e 30% da produção nacional. Em situações epidêmicas, como ocorreu na África, em 2015, o laboratório chega a fazer doações.

Em Minas Gerais, a febre amarela já tem 995 casos notificados, com 76 mortes confirmadas e 93 sob investigação. Apesar da procura que lota postos de saúde em cidades como Belo Horizonte, o vice-diretor acredita que a produção atual de vacinas está alinhada com a demanda do ministério, e crê que, além de o surto de febre amarela silvestre estar chegando ao fim, a doença não vai se espalhar para outras áreas no país, nem se urbanizar. “A febre amarela silvestre sempre existiu. A chance de uma pessoa doente ser picada por um mosquito Aedes aegypti na cidade e transmitir a doença existe, mas é pequena. Nós, da Fundação Oswaldo Cruz, não acreditamos na urbanização da doença. E defendemos que as pessoas se vacinem, paulatinamente, com responsabilidade e seguindo o calendário de vacinação e a recomendação das áreas endêmicas”, afirmou.
- Foto: Arte EM

Mais R$ 8,9 mi para Minas


Minas Gerais vai receber mais recursos para intensificar as ações de imunização da população contra a febre amarela. O Ministério da Saúde publica hoje, no Diário Oficial da União, portaria autorizando a liberação de R$ 8,9 milhões para o estado, informou ontem, por meio de nota, o senador Aécio Neves (PSDB), que se reuniu com o ministro Ricardo de Barros e prefeitos mineiros para discutir o surto no estado. Os novos recursos se somam aos R$ 7,4 milhões já autorizados na quarta-feira para cobrir despesas hospitalares e ambulatoriais.


.