Corrida para fugir da febre amarela

Isabella Souto

O medo de contrair a febre amarela levou ontem milhares de pessoas para cinco postos de saúde em bairros de Contagem e Betim – ambos na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Durante todo o dia, longas filas foram formadas, levando moradores a esperar até quase três horas para receber o medicamento. O plantão para aplicar as vacinas foi determinado pelas prefeituras depois de os dois municípios registrarem, cada um, a morte de um macaco contaminado pela doença.  A informação foi divulgada na quinta-feira pela Secretaria de Estado de Saúde. Com 68 mortes confirmadas em Minas até sexta-feira, a febre amarela silvestre é provocada por vírus transmitido por meio da picada dos mosquitos Haemagogus ou Sabethes, que vivem em áreas de matas. A morte de macacos é um sinal de alerta para a circulação do vírus.

Na semana passada a Prefeitura de Contagem recebeu 50 mil doses da vacina contra a febre amarela. Ontem, ela foi aplicada em três postos na região do Petrolândia e um no Centro. A expectativa era aplicar pelo menos 4,5 mil injeções. A dona de casa Tatiane Moreira, de 34 anos, tomou a primeira dose em 2013, e ontem, ela enfrentou mais de duas horas na fila para garantir o reforço contra a doença.
“Onde eu moro tem muita área verde, e macacos. Estamos todos preocupados”, afirmou ela, que foi ao posto com o marido e a filha.

A também dona de casa Aparecida Tereza da Silva, de 42 anos, tomou apenas ontem a primeira dose da vacina. “Nunca me preocupei com a febre amarela. Mas agora, com esse caso do macaco, fiquei com medo”, justificou. Os três filhos dela, no entanto, têm o cartão de vacina em dia e já estão imunizados. Assim como eles, várias pessoas que não precisam mais tomar o medicamento – pois já tomaram duas doses – foram para o posto no Centro de Contagem – o que acabou gerando ainda mais fila.

Para minimizar o problema, a diretora de distrito da Secretaria Municipal de Saúde, Francine Ana Lima, passou boa parte do tempo na fila verificando os cartões de vacinação. “Antes era de 10 em 10 anos, e quem já tomou duas doses não precisa mais se vacinar”, alerta ela, que repetiu a orientação várias vezes ao longo da fila que dobrava o quarteirão na avenida Bernardo Monteiro. Segundo Francine, somente no posto do Centro foram disponibilizadas 1,5 mil doses, mas com a possibilidade de novas remessas em caso de necessidade.

Em Betim, a vacinação ocorreu em apenas um posto no Bairro Petrovale, região onde o macaco foi encontrado e se tornou área de maior atenção pela Vigilância Sanitária. A educadora infantil Joana D’Arc, de 40 anos, tomou a primeira dose da vacina contra a febre amarela em 2001 e esqueceu do reforço em 2011 – até então as aplicações eram feitas a cada 10 anos. Ontem, ela foi garantir a segundo dose. “Não estou neurótica, mas depois da morte do macaco fiquei preocupada”, disse. Foram aplicadas 588 doses ao longo do dia. A imunização continua durante a semana, nas 25 unidades básicas de saúde que têm sala de vacinação, das 7h às 18h.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, até sexta-feira, Minas Gerais já tinha 68 mortes confirmadas por febre amarela, num total de 163 óbitos suspeitos.
São 987 casos notificados, sendo que 57 foram descartados, 198 confirmados e 732 seguem em investigação.

BELO HORIZONTE Também na capital mineira foi confirmada a morte de macaco por febre amarela e recomendação é de que a população se vacine nos 150 postos de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal, mais 400 mil doses foram recebidas na semana passada, totalizando 680 mil à disposição da população. Desde o início do ano, 253.304 pessoas se vacinaram em BH. Nem na capital, nem nas outras cidades da região metropolitana ainda não foi registrado caso de febre amarela humana.

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