Belo Horizonte registra seis ataques a ônibus neste ano, 75% de 2016 inteiro

Em onda de ataques, três ônibus são incendiados em um dia em Belo Horizonte, dois deles em represália a uma ação da PM em Venda Nova. No ano, total de coletivos queimados chega a seis

João Henrique do Vale
Belo Horizonte vive uma onda de ataques a ônibus em 2017.
Três coletivos foram incendiados na madrugada e manhã de ontem – dois em Venda Nova e um no Barreiro –, o que elevou para seis o total de coletivos destruídos este ano. A estatística dos 34 dias de 2017 é alta: supera o número de casos do tipo registrados em 2010 e 2012 e se iguala a 2011 e 2013 (veja quadro). Diante da escalada de violência, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), ressalta que a depredação de um veículo prejudica, sobretudo, os usuários.


Dos três casos de ontem, dois têm relação, segundo a Polícia Militar: um no Bairro Serra Verde e outro no Minascaixa, em Venda Nova. O terceiro incêndio foi registrado na Região do Barreiro e, até o fechamento desta edição, a PM não tinha informações sobre as razões da depredação.

O primeiro ataque em Venda Nova ocorreu no início da manhã. Por volta das 6h14, um veículo da linha 641 (Estação Vilarinho/Serra Verde), que estava parado no ponto final, na Avenida Leontino Francisco Alves, foi invadido por duas pessoas. A cobradora informou que um deles pulou a catraca, foi para a parte traseira e começou a despejar um líquido no piso e nas poltronas. O outro criminoso ordenou que ela pegasse seus pertences pessoais e os do motorista e descesse do veículo.

Depois de atear fogo no ônibus, os dois bandidos fugiram em um carro. O Corpo de Bombeiros foi acionado e ajudou a conter as chamas.

Perto dali, enquanto policiais militares aguardavam os trabalhos da perícia, um novo ataque foi registrado, desta vez na Avenida Salamanca, no Bairro Minascaixa. Segundo o motorista, vários criminosos deram ordem para ele descer do ônibus e atearam fogo no veículo – os bombeiros também foram acionados para conter as chamas. Em buscas pelo bairro, policiais encontraram cinco pessoas com galões nas mãos. Cinco adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos, foram os primeiros apreendidos. Depois, a PM prendeu sob acusação de incendiar o ônibus Lincoln Alexander do Carmo, de 18, Hebert Pinheiro da Silva, de 19, e Nilson Miguel dos Santos Junior, de 31.

Segundo a PM, os detidos afirmaram na delegacia que os ataques estão relacionados com a morte de um colega, identificado como Emerson. O homem, que teria envolvimento com tráfico de drogas, foi morto durante operação da PM no Morro do Borel, em Venda Nova. Comerciantes também relataram que receberam ameaças para fechar as portas dos estabelecimentos.

BARREIRO Antes dos dois casos em Venda Nova, um ônibus foi incendiado por volta da 0h20 na Rua Elvira Vianna Doti, no Bairro Solar do Barreiro. O motorista do coletivo da linha 328B (Estação Barreiro/Cardoso B) contou à polícia que dois homens deram sinal para embarcar e, quando o veículo parou, o condutor notou que um deles havia tampado a cabeça e estava armado com uma pistola. Eles mandaram o condutor e os dois passageiros descerem e incendiaram o coletivo com um líquido inflamável. As causas do ataque ainda são investigadas.

Além de represálias por ações da PM, uma das principais razões para ataques a ônibus, pelo menos um veículo foi depredado em razão da tensão vivida em presídios do país. O motorista de um coletivo incendiado no Bairro Santa Terezinha (Pampulha) em 20 de janeiro disse à polícia que os autores do ataque disseram que a ação era um protesto por conta da situação das penitenciárias (veja linha do tempo com todos os casos de ônibus incendiados este ano).

Por meio de nota, o SetraBH ressaltou que, além do prejuízo financeiro para as empresas, usuários são prejudicados pela ação de vândalos.  “Os atos de vandalismo prejudicam os usuários das linhas com a redução forçada temporária de veículos em circulação. Nos cálculos do sindicato, um veículo queimado ou depredado deixa de atender, em média, a cerca de 500 usuários por dia útil”, sustenta a entidade em nota.


Por sua vez, o major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, atribui casos de depredação a “pessoas que não têm compromisso com a comunidade e que querem a balbúrdia e o distúrbio” e afirma que a corporação “tem orientado o policiamento para este tipo de fim e buscado a identificação dos infratores para tentar a prisão, como a que aconteceu (ontem) com oito detidos”. Santiago disse ainda que PM buscará ampliar trabalho de prevenção a esse tipo de crime, mas não especificou medidas.
- Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press - 17/1/17
LINHA DO TEMPO


Casos de ônibus incendiados este ano em BH

17 de janeiro   

Motorista é obrigado a descer de ônibus no Bairro Tupi (Região Norte) e veículo da linha 1509 (Califórnia/Tupi) é queimado por criminosos por volta das 4h40.


17 de janeiro   

Coletivo da linha 9801 (Santa Cruz/Saudade) é incendiado por volta das 22h20 no Bairro Cachoeirinha, Região Nordeste

 

20 de janeiro   

Criminosos atearam fogo em ônibus no Bairro Santa Terezinha, na Pampulha. Segundo o motorista, vândalos disseram que ataque era protesto por causa da tensão vivida em presídios doBrasil.


3 de fevereiro   

Pouco depois da meia-noite, um coletivo foi atacado no Bairro Solar do Barreiro. O coletivo fazia a linha 328B (Estação Barreiro/Cardoso B).


3 de fevereiro   

Por volta das 6h15, um veículo da linha 641 (Estação Vilarinho/Serra Verde) foi invadido por dois homens que mandaram a cobradora descer e atearam fogo no ônibus. Eles fugiram em um carro


3 de fevereiro   

No fim da manhã, criminosos atacaram outro ônibus na Avenida Salamanca, no Bairro Minascaixa. Oito pessoas foram detidas, entre elas cinco adolescentes.

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