Para se ter uma ideia, em uma das áreas onde a demanda tem sido menor que a oferta, a oftalmologia, sobraram 37,8% das 25.612 consultas oferecidas a pacientes diabéticos , nos primeiros 11 meses deste ano, para exames de fundoscopia (avaliação do fundo do olho). Pessoas que têm a doença devem fazer o controle anual da visão, pelo risco de desenvolverem retinopatia diabética, doença que evolui para cegueira, se não tratada. Mas, apenas 15.914 visitas ao especialista foram marcadas. Em relação às consultas para pacientes com retinopatia diabética, das 6.871 consultas oferecidas, apenas 2.660 foram marcadas pela população no mesmo período, o que representa 38,7% do total. Neste caso, a sobra foi ainda maior: 61,2% dos procedimentos ofertados não foram procurados pelos pacientes.
No programa do tabagismo, mais absenteísmo, segundo o secretário.
FALTA DE HÁBITO A falta de adesão se repete nas atividades das 71 Academias da Cidade espalhadas pelas regionais de BH. Nos espaços, são oferecidas aulas de ginástica com acompanhamento de profissionais de educação física. Mas, dos cerca de 19,9 mil usuários inscritos, apenas 16,9 mil estão ativos.
A explicação para a sobra de vagas, segundo a gerente Taciana Malheiros, está centrada em um fator cultural. Segundo ela, a população, de modo geral, não tem por hábito trabalhar o autocuidado. “A nossa cultura é voltada para o remédio, para os exames, a alta tecnologia e o tratamento de doenças e não a prevenção delas”, afirma. Taciana explica que reverter essa lógica envolve uma mudança de hábitos da população. “E essa é uma estratégia que vem sendo trabalhada fortemente pela saúde em BH nos últimos anos, especialmente pelo fortalecimento do modelo de atenção à saúde da família”, diz, citando que são 588 equipes presentes em todos os 150 centros de saúde da cidade.
Falhas na gestão
Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Saúde do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Gilmar de Assis, o absenteísmo está relacionado a fatores ligados à gestão do SUS. Um desses aspectos diz respeito ao Programa de Saúde da Família. O promotor explica que, apesar de Belo Horizonte ter uma das mais altas coberturas do programa, que chega a 86% da cidade, a iniciativa ainda pode estar falha no sentido de motivar a demanda.
Gilmar de Assis destaca também a portaria do Ministério da Saúde que permite que o agente comunitário de saúde (acs) atue no controle de endemias, o que “sobrecarrega o profissional”. Ele disse ainda que a busca ativa feita pelas equipes de PSF precisa da retaguarda de outros profissionais, como nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, nem sempre presentes nos centros de saúde. Esses especialistas integram as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família em BH.
O secretário de Saúde Fabiano Pimenta afirma que expandir o programa é um desafio. “Há uma cobertura importante. São 59 equipes que atendem a todos os centros. Tínhamos o planejamento para mais 23, o que não ocorreu por falta de orçamento do ministério”, explica. Sobre o uso dos agentes no controle de endemias, a gerente Taciana Malheiros defende que eles são capacitados para trabalhar de forma integrada.
Palavra de especialista
Fábio Guerra, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais
Prevenção emergente
Como o valor da prevenção vem sendo fortemente discutido nos últimos anos, com o entendimento de que ela é muito mais importante do que a atividade curativa, o paradigma de assistência de saúde já está mudando. Por muito tempo, a cultura foi a de trabalhar a doença, mas já vemos avanços estruturais, com o trabalho que é feito na atenção básica. Até mesmo os planos de saúde já perceberam a importância da prevenção e têm ações voltadas para essa prática. Mas essa mudança, bem como o aumento da adesão da sociedade a esse novo conceito, leva tempo. Do ponto de vista do gestor, é preciso também melhorar a estratégia para atrair essa população, com ações educativas, de mobilização, ampla divulgação e capacitação dos profissionais para um trabalho de quase convencimento das pessoas sobre a importância da prevenção..