Jornal Estado de Minas

Chuva acima da média deixa Belo Horizonte em alerta para evitar danos

Na Avenida Vilarinho, motoristas de pelo menos sete carros foram surpreendidos pela enxurrada, fruto de temporal de 40 minutos - Foto: Ramon Lisboa/EM/DA PressChuvas muito acima do esperado e que somaram o maior volume dos últimos cinco anos deixaram prejuízos e alertas que precisam ser considerados com urgência em Belo Horizonte, uma vez que a Meteorologia espera volume semelhante de precipitação a partir deste mês de dezembro. Nas áreas de risco, houve remoções e vistorias em obras que mesmo depois de alertas da Defesa Civil e da Urbel sofreram danos ou acabaram interditadas nas regiões Oeste, Norte e Leste. Na noite de terça-feira, parte de uma casa ruiu no Bairro Juliana (Norte) e uma inundação interrompeu o trânsito e bloqueou o acesso a imóveis na Avenida Vilarinho, em Venda Nova. Em outras oportunidades no mês de novembro, drenagens deficientes ou saturadas por falta de manutenção causaram alagamentos em grandes corredores, como o Anel Rodoviário, a Avenida Vilarinho e a Avenida Francisco Sá, trazendo transtorno para motoristas, moradores e comerciantes do entorno.


Nos últimos 30 dias, na capital, foram 17 dias de chuva, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mas com registro de 273 milímetros, 20% acima da média, que é de 227,6 milímetros. O acumulado também ficou acima da média em grandes cidades como Juiz de Fora (%2b107,5%), Governador Valadares ( 65,9%) e Barbacena ( 58,5%), ampliando a necessidade de medidas urgentes para outras regiões.

Depois das 10h de ontem, o Inmet fechou o balanço pluviométrico do mês de novembro, com um volume de chuvas que não vinham ocorrendo há cinco anos. “As comunidades precisam estar preparadas e tomar medidas urgentes, pois as chuvas estão muito próximas ou ultrapassando as médias históricas em todo o estado, o que também é esperado para dezembro”, advertiu o meteorologista Luiz Ladeia, do Inmet. O alerta serve também para as áreas de risco, onde a Urbel recomenda aos moradores que observem trincas e rachaduras em suas casas, assim como movimentações de terra, e que sigam as orientações de técnicos especializados.

“O processo do risco é dinâmico, por ser uma soma de fatores humanos e eventos naturais. Uma combinação que pode trazer risco de uma forma muito rápida.
Temos situações sendo monitoradas e que estão estáveis, mas que depois evoluem para risco grave, por causa de um desses fatores”, afirma a diretora de Manutenção em Área de Risco da Urbel, Isabel Queiroz Volponi. “O cidadão é parte essencial na criação e na erradicação das áreas de risco. Por isso, pode requisitar um monitoramento de suas obras pelos técnicos da Urbel. Com isso, essas pessoas são orientadas sobre como fazer as intervenções nos terrenos sem trazer ameaças e também sobre as épocas apropriadas”, disse.

ESTRUTURA FALHA
A combinação entre os temporais e a falta de infraestrutura, seja do poder público, seja da própria população, para lidar com os efeitos das chuvas voltou a produzir estragos na terça-feira. Depois de chover um terço do que era esperado para todo mês em cerca de 40 minutos, durante a noite, ontem o dia foi de limpeza nas regiões Norte e Venda Nova. Esta última, que sofre com gargalos clássicos na drenagem urbana, voltou a apresentar problemas pela combinação de muita água e pouco escoamento. O resultado foram alagamentos em pelo menos dois pontos: nas imediações da Estação Vilarinho e no cruzamento com a Avenida Baleares, onde carros ficaram submersos.
Em pouco mais de 40 minutos, Venda Nova registrou 82 milímetros de chuva (87,6mm ao longo do dia).

Imagens produzidas pelo comerciante Gleysson Cesar, de 48 anos, mostram que o encontro das avenidas Vilarinho e Baleares, no Bairro Europa, virou um córrego durante o temporal. Carros ficaram retidos e motoristas tiveram que se abrigar em um posto de gasolina para evitar o pior. “Quando começou a chover eu corri para minha loja para ver o que ia acontecer”, afirma ele, enquanto mostra que a água chegou quase ao limite da porta de aço que colocou para se prevenir das enchentes. Mesmo assim, uma pequena quantidade passou a barreira e atingiu mercadorias. Não houve prejuízo, mas ele teve que limpar todo o comércio antes de abrir ao público na manhã de ontem. “Toda vez é a mesma coisa. Tem 17 anos que eu pego enchente na Vilarinho”, conta.

- Foto: Arte EMJá nas imediações da Estação Vilarinho, o Corpo de Bombeiros precisou atender a oito ocorrências de pessoas ilhadas em carros e em ônibus. Todas foram retiradas sem ferimentos.
A Regional Venda Nova informou que entre 3 e 14 de novembro fez a limpeza de 481 bueiros da região mais sensível aos alagamentos e retirou duas toneladas de lixo. A pasta acrescentou que a concentração de chuva em pouco tempo na noite de terça-feira prejudicou o escoamento.

A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que não há previsão de liberação de recursos para os projetos executivos de obras nos córregos Brejo Quaresma e Joaquim Pereira, com impacto direto no escoamento da Vilarinho. Outra obra importante para a região é o controle das cheias da Bacia do Córrego do Nado, incluindo as sub-bacias dos córregos Lareia e Marimbondo, nos bairros São João Batista e Santa Mônica. Essas intervenções chegaram a ser licitadas, mas empresas interessadas no edital conseguiram liminar na Justiça contra a desclassificação. Segundo a PBH, como o julgamento do mérito poderia demorar dois anos, a administração municipal preferiu cancelar a licitação. Novo edital está previsto para o 1º semestre de 2017.

DESMORONAMENTO Já a Região Norte registrou 68 milímetros no momento de pico da chuva de terça-feira, com acumulado de 75mm ao longo do dia. Lá, a falta de infraestrutura de um imóvel e a concentração de chuva causaram destruição na casa do operador de betoneira Antônio Gonçalves, que foi acordado com a força da água derrubando uma das paredes, no Bairro Juliana. “A água veio com força do alto do morro, entrou na casa e eu tive que tirar meus dois filhos. Abri a porta para tentar escoar, mas quase fui empurrado pela enxurrada.
Perdi geladeira e televisão”, afirmou o morador da Rua Vaqueiro de Búfalo. Por sorte, o cômodo atingido funcionava apenas como quarto de despejo e ninguém dormia no local na hora do acidente.

Para limpar toda a sujeira, o jeito foi contar com os vizinhos. A faxineira Cláudia Magalhães, de 38, e a dona de casa Márcia Maria Rosa dos Santos, de 39, ajudaram a puxar a água e a lama acumuladas. Já o pedreiro José Wilson Melo Filho, de 37, auxiliou na remoção do entulho. Segundo a mulher do morador, Maria José Gualberto, a Defesa Civil disse que não é seguro permanecer no imóvel, mas a intenção é fazer intervenções e continuar no lugar.

A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil informou que  a construção foi erguida sobre a canalização clandestina de um córrego. “Com as fortes chuvas, o córrego trasbordou e causou desabamento de paredes. O imóvel está parcialmente interditado e os moradores foram notificados a não expor a sua vida e de terceiros a risco”, informou o órgão, acrescentando que o caso foi repassado à Urbel e à Regional Norte.

Estrada reparada

A cratera na MGC-451, que liga o município de Marilac ao distrito de Chonim de Cima, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, a 350 quilômetros de BH, não existe mais. O Departamento de Estradas de Rodagem consertou a pista (fotos), danificada pelo temporal da madrugada da última sexta-feira. Até a restauração, os moradores precisavam dar uma volta de quase 20 quilômetros.

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