Jornal Estado de Minas

Palestra de pastora para 'prevenir e reverter homossexualidade' gera revolta

A divulgação de uma palestra para "prevenir e reverter a homossexualidade", por uma igreja evangélica de Belo Horizonte, gerou revolta nas redes sociais. Vinte e seis anos depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças mentais, o evento recebeu tantas críticas que a página oficial da igreja se viu forçada a apagar a imagem original e trocar o nome da palestra.

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O conteúdo, ministrado por Isildinha Muradas, antes apresentada como psicopedagoga, sofreu mudança no tema: "Orientando pais sobre a sexualidade de seus filhos" é o novo título. O crédito profissional da palestrante, na nova divulgação, também mudou e agora se limita ao cargo de pastora. O perfil de Isildinha no Facebook foi apagado.


A reportagem tentou contato com a Igreja Batista Getsêmani Missão Portugal, do Bairro Jardim Atlântico, na Região da Pampulha, e conversou brevemente ao telefone com o pastor Clóvis Costa, organizador da palestra.

Ele informou que trata-se de uma pregação "que vai abordar o aspecto teológico por princípios cristãos, de acordo com a Bíblia". Questionado a respeito das mudanças na divulgação, disse que "foi em função mesmo da repercussão".

Em seguida, Clóvis interrompeu a conversa, solicitou as perguntas por e-mail, não atendeu mais as ligações da reportagem e até a publicação deste texto, não havia dado respostas relativas à mudança do cargo da palestrante.

O pastor também não respondeu como a igreja pretende reagir ao "beijaço" (protesto em que casais se beijam) organizado pela comunidade LGBTIQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Interessexuais e Queer) via redes sociais em repúdio ao evento, marcado para esta quinta-feira, às 19h30.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia seção Minas Gerais (ABPp-MG) comunica que a senhora Isildinha Muradas, que se intitula psicopedagoga, não se encontra na relação de associados. A ABPp-MG é contrária a qualquer tipo de discriminação, inclusive de gênero, e não apoia a utilização da área da psicopedagogia para promoção de qualquer evento dessa natureza.

Nota de repúdio

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais divulgou nota de repúdio à discriminação com base em orientação sexual.

No texto, o órgão "externa sua preocupação com o disseminação de ações tendentes a tratar a homossexualidade como um aspecto negativo da personalidade e disseminar a discriminação".

O Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) também se manifestou sobre o assunto e informou ter recebido diversos questionamentos da categoria e da sociedade sobre a palestra. O órgão esclareceu que a Isildinha não é psicóloga registrada no Conselho de Psicologia.

“No que tange a sua nomeação como “psicopedagoga”, esclarece-se que a psicopedagogia é uma das especialidades possíveis à(ao) psicóloga(o), conforme regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia, mas não é uma formação restrita a esta profissão. A Psicologia é uma profissão regulamentada no Brasil (Lei Federal nº 4119/62), o que não acontece com a psicopedagogia, a qual é compreendida como uma especialização interdisciplinar que necessita dos conhecimentos teóricos, dos métodos e das técnicas da Psicologia e da Pedagogia”, informou.


“Por fim, este Conselho repudia veementemente o tema da palestra e toda e qualquer discriminação e estigmatização referentes à orientação sexual e identidade de gênero, reiterando a constante defesa dos direitos da comunidade LGBT, refletida em diversas ações e posicionamentos desta autarquia e nos princípios e diretrizes apontados na Resolução CFP nº 01/99”, completa a nota. .