Jornal Estado de Minas

Autoridades afirmam que grades no Túnel da Lagoinha podem evitar tragédias

O Túnel da Lagoinha, principal ligação entre a Avenida Cristiano Machado e o Centro de Belo Horizonte, começa a receber novas grades para evitar que moradores de rua se arrisquem dormindo perto do teto da estrutura. Há cerca de 15 dias, uma mulher de 34 anos ficou gravemente ferida ao cair. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tenta implementar a medida desde o fim do ano passado e as primeiras proteções, instaladas em março, foram arrancadas. Em outubro, a Defesa Civil de Belo Horizonte realizou uma vistoria e classificou a área como de altíssimo risco.

A própria engenharia entre a cobertura do túnel dos ônibus e o piso da parte superior, dos carros, criou os espaços onde os moradores de rua costumam se abrigar, uma espécie de caixote de concreto. Eles usam tábuas de madeira para acessar os lugares. Todos eles serão fechados nessa intervenção.

Em dezembro de 2015, técnicos da prefeitura e outros órgãos estiveram no túnel realizando um mapeamento e a medição dos locais para a instalação das barreiras nos vãos. “Em março, foram instaladas algumas grades, mas o pessoal furtou. Tivemos que refazer o planejamento e mudar o estilo das grades para que não haja furto ou acesso a elas.
Foi só uma reengenharia, no tamanho, a forma de chumbar a estrutura no viaduto”, explica o coronel Alexandre Lucas Alves, coordenador da Defesa Civil de BH.

Os trabalhos, que começaram  ontem, devem durar cerca de 10 dias e serão realizados das 10h às 16h (período considerado de menor movimento), com o apoio da BHTrans. Segundo o coronel, as obras seriam perigosas à noite ou durante a madrugada.

O coordenador da Defesa Civil explica que a medida adotada pela prefeitura segue recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) para prevenção de riscos. “A ação é de mitigação de risco, prevenção de desastre. Além da morte de um morador de rua, que já seria lamentável, imagine ele cair na frente de um ônibus, que bate em outro, com vários passageiros?”, diz.

Além da Defesa Civil, participam da ação equipes da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Regionais Leste e Nordeste, BHTrans, Guarda Municipal, Secretaria de Políticas Sociais, Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e Corpo de Bombeiros. Antes do início da instalação, a SLU realizou uma limpeza no local. Enquanto isso, a equipe de Políticas Sociais conversava com as pessoas encontradas no túnel. “Está sendo oferecida a eles toda a política de acolhimento para moradores de rua, em atenção e abordagem, inclusive de abrigamento”, disse o coronel Alexandre Lucas.
No entanto, segundo ele, a maioria recolheu seus pertences e seguiu para outros locais.

Vídeo gravado em dezembro mostra a situação no local. Assista:



“É importante ressaltar que é uma medida voltada para a proteção dessas pessoas. Não é higienização social, é que elas estão expostas a risco de vida e devemos protegê-las”, diz Soraya Romina, coordenadora do Comitê de Políticas pra a População de Rua de Belo Horizonte. Ela conta que o mapeamento feito pelo grupo identificou que as duas partes do viaduto abrigam entre 14 e 16 pessoas, sendo que há quem vá ao local somente para dormir, ou permanecer durante o dia. “Já tem cerca de seis meses que estamos lá com a nossa equipe de abordagem social, com psicólogos e assistentes sociais, conversando com as pessoas, tentando sensibilizá-las sobre o risco, oferecendo vagas no albergue, orientando que a situação ali é de alto risco de vida e fazendo os encaminhamentos possíveis”, detalha. “Mas agora chegamos à necessidade de construir uma barreira de contenção. Se acontecer um acidente, a prefeitura é responsável por isso. É a mesma coisa de uma área de risco de chuva: a prefeitura precisa intervir, senão a pessoa vai morrer e a responsabilidade é da prefeitura”, enfatiza.

Sobre a resistência dos moradores em ir para abrigos, Soraya afirma que o trabalho e acolhimento é constante, mas a condição social delas é complexa.
“É difícil, porque eles romperam com vínculos familiares, sociais e na rua têm uma falsa sensação de liberdade, bebem, comem quando é possível, organizam regras próprias deles. Ir para o abrigo é fazer o caminho de volta a uma sociedade de regras, porque eles romperam com a lógica de sociedade em que nós vivemos”, comenta.

Procurada, a Defensoria Pública de Minas Gerais informou que vai se pronunciar sobre o assunto apenas depois de conversar com os moradores de rua..