Jornal Estado de Minas

Tecnologia para identificar câncer de mama é discutida em Belo Horizonte

Referência mundial em imagens da mama, a médica norte-americana Elizabeth Morris falou ontem em Belo Horizonte sobre as indicações da tomossíntese, técnica de mamografia digital que aumenta em até 30% a acuidade visual e a possibilidade de detecção do câncer em estágio inicial. Com a palestra “Tomossíntese: é ético não fazer?”, a especialista foi um dos nomes de destaque nos dois dias do 13º Simpósio Internacional de Mastologia da Rede Mater Dei de Saúde, encerrado ontem com número recorde de 800 inscritos, entre residentes e médicos.

Coordenador do Serviço de Mastologia e presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador adiantou que a tendência desse tipo de exame, feito concomitantemente à mamografia, é entrar para o rol de procedimentos a serem aplicados em mulheres com maior risco de desenvolver o câncer de mama, especialmente as jovens, que tenham diagnóstico de mamas densas ou parentes em primeiro grau que adoeceram antes da menopausa.

“No Mater Dei, já oferecemos esse exame desde janeiro”, afirma Salvador. Segundo o presidente da Rede Mater Dei, se a mamografia dá o resultado em duas dimensões, a tomossíntese, com um corte de até um milímetro nas mamas, sem a necessidade de cirurgia, oferece imagem em três dimensões, o que aumenta a visibilidade do exame em quase um terço, além de reduzir bastante a chance de recall, quando a paciente é chamada a repetir o teste para conferir a imagem.

Chefe do serviço de imagem de mama do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova York, nos Estados Unidos, Elizabeth Morris defende a tese de que a mulher deve fazer mamografia com periodicidade anual, a partir dos 40 anos. “O risco de radiação é baixo, equivalente a receber os raios solares de um voo que atravessa os Estados Unidos da Califórnia a Nova York. O benefício de detectar um câncer no estágio inicial por meio do exame é muito maior”, compara a médica. Somente este ano, a doença deve atingir 58 mil brasileiras.

“Com a mamografia, conseguimos detectar quatro casos de nódulos ou indícios do tumor a cada mil mulheres. Com o uso do ultrassom de mamas, a proporção atinge sete a cada mil mulheres. Na ressonância magnética, mais indicada para pacientes de alto risco, a taxa chegaria a três a cada 100 mulheres”, compara Elizabeth Morris, lembrando que o custo do exame de tomografia é relativamente alto, equivalente a R$ 1,2 mil em média, quatro vezes mais caro em relação aos R$ 300 cobrados da tomossíntese.
“De tudo isso, o mais importante é lembrar as mulheres de fazer sempre a avaliação das mamas. Quem faz o rastreamento do câncer no início leva maior vantagem do que quem deixa passar muito tempo da doença”, reforça.

Outro nome de destaque que participou do simpósio foi o cirurgião Virgilio Sacchini, colega de Elizabeth Morris no Memorial Sloan Kettering Cancer Center. Na palestra, o especialista comentou que o “efeito Angelina Jolie” aumentou em 20 vezes o número de testes genéticos para a sensibilização do mesmo tipo de câncer da atriz, com mutação no gene BRCA1. Depois de perder a mãe, a avó e uma tia com a doença, e com mais de 85% de chances de vir a desenvolvê-la, Jolie se submeteu a uma mastectomia radical e à remoção dos ovários e trompas. “Esse tipo de decisão é mais normal entre as mulheres dos Estados Unidos. Elas são mais radicais para a cultura latina, que defende aproveitar mais a vida”, afirma o médico, que, durante a palestra, contou sobre a cirurgia de retirada total das mamas de uma jovem de 20 anos, de Nova York, que apresentou diagnóstico semelhante ao de Jolie. Ela congelou os óvulos para preservar a possibilidade de ter filhos..