Prefeitura terá que investir em manutenção após despoluição da Lagoa da Pampulha

Gerente da Prefeitura de BH afirma que ações pontuais serão necessárias para garantir resultados esperados ao fim da limpeza química da represa

Guilherme Paranaiba
Água está mais limpa perto da Igreja de São Francisco de Assis - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS
Durante a apresentação dos primeiros resultados do trabalho de despoluição química das águas da Lagoa da Pampulha, o gerente de Gestão das Águas Urbanas da Prefeitura de Belo Horizonte, Ricardo Aroeira, ressaltou a necessidade de manter investimentos de manutenção na lagoa.

Aroeira explicou que a despoluição não termina com o fim do contrato de recuperação do espelho d’água, previsto para ser encerrado em dezembro de 2017. Ele também disse que não será necessário fazer tudo de novo depois de algum tempo, usando a analogia de um condomínio.

“Se eu não tiver alguém para cuidar da limpeza do prédio, em pouco tempo ele vai ficar imundo, deteriorado, precisando de manutenção. É importante dizer que, se BH quer a Lagoa da Pampulha em boa qualidade, nós temos que pagar o condomínio para que isso aconteça”, diz.

Para que a Pampulha se mantenha nos índices de qualidade esperados a partir de novembro de 2016 – que já começaram a aparecer em abril –, Aroeira comenta que será necessário fazer uma avaliação após o fim do contrato. “Teremos que ver qual será a lagoa lá em 2018. Um lago urbano vai sempre demandar um cuidado, um investimento. Seja com desassoreamento de manutenção, seja com ações do nível de qualidade da água, ou manutenção do recolhimento de lixo que chega à represa.
Então, investimentos do ponto de vista da manutenção serão sempre importantes. Evidentemente, esses investimentos serão em níveis decrescentes”, afirma o gerente.

Em outubro de 2014 a Prefeitura de BH concluiu um serviço de desassoreamento da lagoa que durou um ano. Foram retirados 850 mil metros cúbicos de sedimentos. Ainda em 2016, na atual gestão de Marcio Lacerda, o prefeito pretende lançar um edital que possibilite a manutenção desse desassoreamento, chegando a 115 mil metros cúbicos de sedimentos por ano, por um período de quatro anos.

Além disso, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) limpa diariamente o espelho d’água, usando dois barcos e uma balsa. O volume retirado de lixo todos os dias da represa chega a 10 toneladas na seca e a 20 toneladas durante o período chuvoso. Um dos pontos que mais concentrava sujeira é a barreira de tambores no meio da lagoa. Água já está com aspecto bem melhor no local - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS

O DESAFIO DO ESGOTO A técnica usada pela Prefeitura de BH para limpar a lagoa, segundo especialistas, é eficiente, mas o que continua a preocupar é a chegada de mais esgoto ao reservatório, que pode comprometer o serviço. “As técnicas tratam o material orgânico que está presentes na água. Mas, ao mesmo tempo, novas cargas de matéria orgânica chegam à lagoa. Então, acaba-se enxugando gelo, pois será preciso tratar essa carga novamente”, explica o biólogo Rafael Resck, especialista em recursos hídricos.

“São métodos para dar um choque na lagoa e fazer uma limpeza rápida, mas como é um serviço caro, não vale a pena ser feito de forma contínua”, completou. Para o especialista, o fim despejo de esgoto na lagoa deveria ser o primeiro passo para a limpeza. “Naturalmente, com o fim da descarga de esgotos haveria uma melhora no prazo de cinco anos, mesmo se nada fosse feito. É o que percebemos no Lago Paraoná, em Brasília, que deixou de receber esgoto e nesse prazo apresentou melhoria muito grande”, afirmou o biólogo.

Em nota, a Copasa informou que as obras de implantação de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras e construção de nove estações elevatórias de esgoto alcançaram índice de 96% de conclusão.
A implantação dos quatro quilômetros restantes, segundo a empresa, será terminada em dezembro, quando está previsto que o percentual de coleta, interceptação e tratamento dos efluentes gerado por imóveis de Belo Horizonte e Contagem chegue a 90%.

Para atingir os 95% de remoção, são necessárias intervenções no valor de R$ 11,3 milhões, de acordo com a companhia, para a implantação de mais 13 quilômetros de redes coletoras e interceptoras e interligação de 10 mil imóveis ao sistema oficial de esgotamento sanitário.

Para livrar completamente a lagoa de esgotos, a Copasa conta com o programa chamado Caça-Esgoto, que identifica lançamentos indevidos em galerias de água de chuva e em vias públicas. A empresa argumenta que o trabalho tem detectado, principalmente em vilas, aglomerados, favelas e em fundos de vales, problemas que exigem melhorias na urbanização, o que demandaria ações conjuntas com as prefeituras de Contagem e Belo Horizonte..