No dia do acidente, o destino do avião era a Fazenda Sequoia, em Setubinha, no Vale do Mucuri. A intenção do voo era transportar um familiar dos donos da aeronave do interior para BH. Estavam a bordo dois tripulantes e um passageiro e os três morreram na tragédia. Segundo o relatório do Cenipa, por meio de conversas gravadas na cabine do avião entre o comandante Emerson Thomazine, de 43 anos, de São Paulo, e o copiloto Carlos Eduardo Abreu, de Piumhi, no Centro-Oeste mineiro, foi possível identificar que a tripulação tinha a intenção de fazer a decolagem “americana” . O carona era um policial civil Gustavo de Toledo Guimarães, de 38, que estava de folga e acompanhava os pilotos.
No endereço da queda estavam o aposentado José Maforte Knupp, de 74, e a dona de casa Maria Geralda Estanislau da Silva, de 56.
Eram 15h20, quando o casal que vive na residência há mais de 20 anos apreciava o fundo do quintal cheio de árvores e galos e galinhas, no sossego depois do almoço. “Aquele dia foi Deus que mudou o rumo de nossas vidas. Todos os dias, depois do almoço, a gente vai para o quarto descansar. Naquele, especificamente, eu quis vir para o quintal, naquele horário, para ouvir os galos cantarem”, lembra Maria Geralda.
O marido, que cerca com tela uma planta, conta que enquanto estiveram ali nenhum dos galos cantou. “De repente começou o barulho vindo do céu”, disse. Os dois saíram ilesos do acidente e foram socorridos por vizinhos, que quebraram parte do muro no quintal onde eles estavam. “Eu estava sentada embaixo da mangueira e vi toda a subida do avião. Quando ele desgovernou, eu disse: ‘Esse avião vai cair’. Só não imaginei que cairia aqui”, lembra a dona de casa. Apesar do susto com o barulho do avião e a explosão em sua casa, José Maforte estava mais que acostumado com o ronco dos motores de aeronaves. Curiosamente, ele trabalhou durante 31 anos na aeronáutica, sendo 11 deles no aeroporto da Pampulha. “Parece que ele deixou os aviões e eles vieram atrás do meu marido”, diz a mulher em tom de tranquilidade.
No meio das apurações, o Cenipa concluiu que houve um ato ilícito doloso, o que confirma uma conduta inadequada da tripulação. Por trabalhar com investigações que resultem em orientações para condutas preventivas, o órgão suspendeu o trabalho, já que nestes casos a recomendação é seguir as regras de segurança. De acordo com a Polícia Civil, a investigação ficou a cargo do Cenipa porque não houve indícios de crime. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi procurada na noite de ontem e informou que vai apurar se ainda há registros de manobras americanas no aeroporto.
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