Pesquisadores buscam minas de ouro no Centro-Oeste de Minas

Localizar ex-jazidas que abasteceram a economia local é um grande desafio, já que a maioria das entradas foi fechada pela vegetação ou por antigos donos. Grupo também quer transformar locais em pontos turísticos

No último sábado foram encontradas quatro ex-jazidas, em Onça do Pitangui - Foto: Vandeir Santos/Divulgação
Onça do Pitangui – Moradores e pesquisadores de Onça do Pitangui, pacata cidade do Centro-Oeste mineiro, com pouco mais de 3 mil habitantes, estão mapeamento a região para identificar e catalogar dezenas de minas de ouro que abasteceram a economia local na época do Brasil império (1808-1889) e ajudaram a povoar o então inóspito sertão da Gerais. Preservá-las é manter viva a história de um estado que carrega no próprio nome o local de onde é retirado o cobiçado metal. Localizar as dezenas ex-jazidas, entretanto, é o maior desafio enfrentado pelos estudiosos e voluntários, pois as entradas foram fechadas pelo crescimento da vegetação ou pelos antigos donos, receosos de que os tesouros fossem encontrados por estranhos.


Além de mapear a região, o grupo de pesquisadores está garimpando documentos sobre as antigas jazidas. As primeiras foram cavadas nos sopés de montanhas, na segunda metade dos anos 1800, quando bandeirantes já haviam explorado o ouro de aluvião, retirado com facilidade de rios, córregos e encostas. Foi naquela época que terras que hoje pertencem a Onça do Pitangui se transformaram em palco da última batalha da Revolta da Cachaça, um dos primeiros motins de brasileiros contra a Coroa Portuguesa.

Após a Proclamação da República, em 1889, outras cavernas foram abertas por investidores estrangeiros, sobretudo, alemães. A intenção dos pesquisadores vai além da localização exata das minas. Eles querem transformar as jazidas em pontos turísticos, como afirma Vandeir Santos.

No sábado, pesquisadores e turistas interessados em conhecer um pouco mais da história do estado visitaram quatro minas na companhia de pesquisadores e turistas. Uma delas foi descoberta por acaso, há poucos meses, durante a construção de uma praça próxima ao Centro do município.

O local, à frente de um córrego canalizado, fica debaixo de um bambuzal. “Talvez tenha sido feito para prospecção”, acredita Santos. A ex-jazida tem menos de cinco metros de extensão. Já as outras três têm mais de 120 metros cada. A altura delas é de aproximadamente 1,7 metro, mas há trechos em que a distância entre o teto e o chão obriga uma pessoa dessa altura a se abaixar. Para chegar a elas, os pesquisadores se embrenharam na mata.

No percurso, tucanos, seriemas e outras aves puderam ser vistos e acompanharam de longe a movimentação do grupo. Já nas cavernas, a quantidade de morcegos chamou a atenção. “Não há iluminação e a umidade é muito grande, mas há bichos que vivem nesse ambiente”, explicou o geólogo William Campos, enquanto iluminava um shaft. Trata-se de uma espécie de túnel vertical, que liga a mina ao ambiente externo. “Em inglês, significa poço. É usado, por exemplo, para ventilar o local”, esclareceu o geólogo. Cláudio Faria acrescentou informações sobre a jazida em que estavam. “Nessa mina, por exemplo, há duas galerias, uma sobre a outra.
A de baixo mede uns 15 metros. A de cima, uns 30 metros”, calculou.

Algumas minas têm mais de 120 metros de extensão - Foto: Vandeir Santos/Divulgação

POLÊMICA Há quem diga que as minas são importantes e que o primeiro nome da cidade foi inspirado na unidade de medida massa usada, entre outras, para pesar ouro. Uma onça troy, segundo o Banco Central,  corresponde a 31,1035 gramas do metal. O assunto é polêmico.

No livro Sinhá Braba, que romanceia a vida de Joaquina de Pompéu, uma empreendedora do Centro-Oeste mineiro, o autor não descarta a possibilidade de o nome ser associado ao metal precioso. Na página 16, Agripa Vasconcelos escreveu: “Bueno, com o ouro apertado na mão, repetia delirando: – Uma onça e oito oitavas! Essa medida de peso daria nome ao futuro Arraial de Nossa Senhora da Conceição da Onça”.

Vandeir Santos, porém, contesta a veracidade do caso narrado pelo romancista. Para ele, o nome se deve ao Ribeirão do Onça Brava. Ele cita uma pesquisa do historiador Sílvio Gabriel Diniz, baseada em documentos oficiais. “O historiador transcreveu das páginas do livro de guardamoria, da segunda metade do século 18, o seguinte: ‘Provisão de água e datas minerais concedidas a Romão da Mata Botelho, na passagem do caminho que vai para o Ribeiro da Onça Brava, chamado o Caxingó, por umas capoeiras até suas nascenças, de uma e outra parte’”, pontua o pesquisador.

BATALHA CONTRA PORTUGUESES

Em 1719, Portugal determinou o estanco da aguardente em Pitangui. Dessa forma, apenas a coroa poderia vender cachaça na região. A decisão irritou os bandeirantes, pois a bebida era gênero de primeira necessidade à exploração do ouro: era o “combustível” dos escravos.
O estanco encareceu a exploração do ouro. Os bandeirantes se rebelaram e ocorreram mortes. A última batalha foi às margens do Rio São João, em terras que hoje pertencem a Onça do Pitangui, em 1720. Mais de 400 pessoas morreram.

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