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Estado de Minas

Reparações socioambientais estão estagnadas depois do desastre em Mariana

Especialista diz que lista de providências previstas segue no papel. Situação econômica e saúde física e mental de atingidos preocupam


postado em 13/05/2016 06:00 / atualizado em 13/05/2016 07:34

Ribeirinhos não têm perspectivas econômicas depois da tragédia que ainda contamina as águas e os peixes do Rio Doce, afirma biólogo(foto: Alexandre Guzanshe/EM )
Ribeirinhos não têm perspectivas econômicas depois da tragédia que ainda contamina as águas e os peixes do Rio Doce, afirma biólogo (foto: Alexandre Guzanshe/EM )
Quase nada de concreto foi feito para reparar os danos à natureza provocados ao longo da Bacia do Rio Doce e para socorrer as famílias atingidas pela maior catástrofe socioambiental da história do país, ocorrida há mais de um semestre. A denúncia é do professor e biólogo Ricardo Motta Pinto Coelho, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG), que alerta para o agravamento das condições de saúde física e mental dos afetados. “O Rio Doce ainda está com suas águas poluídas e os peixes, contaminados”, diz o especialista, lembrando que uma lista de ações que foram prometidas ou deveriam ser realizadas continua no papel.

O especialista lembra que, passados mais de seis meses da catástrofe que tirou a vida de 19 pessoas, diversas ações anunciadas para conter os danos ficaram somente na conversa. “Nunca se viu tanto blá-blá-blá na história do Brasil”, denuncia. Lembrando que até hoje “ninguém foi preso ou punido”, ele ressalta que a Samarco não pagou ainda nenhuma multa ao governo para recuperação ambiental. “Recursos congelados não despoluem o ambiente, e a deterioração aumenta a cada dia”, alerta.

Segundo o biólogo, vários problemas decorrentes do rompimento da barragem continuam sem solução. “Nos rios do Carmo e Gualaxo do Norte, os ribeirinhos sofrem com nuvens de poeira tóxica. A pesca em Regência (na foz do Rio Doce, no Espírito Santo) está interrompida”, exemplifica. Ricardo Motta Pinto Coelho aponta como um dos problemas mais sérios a falta de perspectivas econômicas para as milhares de famílias de pequenos produtores e pescadores atingidas pelo desastre ao longo do Rio Doce. Para ele, em vez de simplesmente pagar uma compensação mensal às famílias, deveria ser realizado um estudo para a realocação dos atingidos e para criar meios de renda para eles.

“É preciso oferecer alternativa econômica a essas pessoas. Podem pagar até R$ 5 mil para cada família que não resolve. É preciso repensar a relação do homem com o rio; é necessário elevar a autoestima das pessoas. Dar somente o dinheiro, sem novas perspectivas de vida, vai aumentar as taxas de suicídio, alcoolismo e de consumo de drogas”, alerta o biólogo da UFMG.

Conforme revelou reportagem do Estado de Minas, informações levantadas pela Secretaria de Estado da Saúde apontam que a tragédia afetou gravemente as condições emocionais dos atingidos pela lama e também dos trabalhadores da Samarco. A diretora de Saúde do Trabalhador da SES, Marta Freitas, informou que está sendo investigado o aumento do consumo de medicamentos para problemas psicológicos, bem como a elevação de suicídios e tentativas de homicídio na região.

A situação do pequeno agricultor e pescador Welson Freitas de Souza, de 41 anos, de Galileia, ilustra a baixa autoestima e a falta de perspectivas vivida pelos atingidos. Conhecido pelo apelido de “Lida”, ele conta que plantava milho, feijão, abóbora e quiabo em uma ilha do rio, que ficou quase toda coberta por uma camada grossa de rejeitos da mineração. Ele afirma que recebe auxílio mensal da Samarco, mas conta que a vida perdeu um pouco do sentido. “O dinheiro quebra o galho, mas a gente não tem mais o que fazer... Fica igual bobo. O Rio Doce era tudo. Hoje não tem diversão nenhuma. Não podemos pescar nem tomar banho na água. Está tudo sem graça”, lamenta.

ASSENTAMENTOS AFETADOS A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tumiritinga, Ivani Miranda de Faria, afirma que a lama prejudicou cerca de 500 famílias instaladas em áreas de assentamento da reforma agrária próximas ao Rio Doce no município. “O pessoal ficou sem poder plantar e manter as criações, pois as partes baixas dos terrenos foram afetadas pela lama. A Samarco fez o cadastramento para ajuda aos atingidos, mas nem todos foram cadastrados. Ainda existem muitos pequenos produtores passando necessidade, sem receber nada”, diz Ivani, dizendo saber de pelo menos 50 famílias de assentados em situação extrema.

 

 

 

 


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