Maioria das famílias de Bento Rodrigues já decidiu onde será terreno do novo subdistrito

Votação secreta encerra às 17h e vai definir onde desalojadas pela tragédia ambiental, provocada pelo rompimento da Barragem de Fundão, vão reconstruir suas vidas

Estado de Minas
Quatro urnas foram instaladas em local de acesso restrito no período da votação - Foto: Aluísio Carvalho/Samarco/Divulgação
Cerca de 80% das famílias de Bento Rodrigues já votaram pela escolha do terreno onde serão realojados, faltando menos de uma hora para o encerramento do processo. São as pessoas que tiveram seus imóveis devastados pelo rompimento da Barragem de Fundão, que varreu do mapa o subdistrito de Mariana, na Região Central do estado. A assembleia acontece desde as 8h deste sábado, no Centro de Convenções de Mariana, e encerra às 17h.

A Barragem de Fundão, da Mineradora Samarco,  rompeu em 5 de novembro de 2015, resultando na morte de 19 pessoas, destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues e afetou os distritos de Águas Claras, Ponte do Gama, Paracatu e Pedras e as cidades de Barra Longa e Rio Doce. A lama de rejeito afetou toda a Bacia Hidrográfica do Rio Doce.

Os moradores analisam três terrenos: Lavoura, de propriedade da siderúrgica Arcelor Mittal; Carabina, de propriedade de pessoa física que fica no perímetro de Mariana; e Bicas, área mais afastada de propriedade da Samarco. Ao todo participam da votação 226 famílias e cada uma delas tem direito a um voto. "O processo é mesmo demorado. Temos que ter muita certeza do local escolhido. Depois de escolhido o terreno, a construção começará daqui a um ano e meio.
Todo mundo queria mais rápido, mas esse é o processo", afirmou Antonio Pereira Gonçalves, conhecido como Da Lua, da Comissão de Atingidos de Bento Rodrigues.

A escolha do local precisa ter a aprovação de 60% das famílias para ser ratificada. "As pessoas entenderam que não tem como voltar ao passado. O Bento onde viveram um dia não vai voltar. Ficará só na lembrança. Porém, é um momento de esperança e o sentimento é acreditar na reconstrução de um novo Bento", afirma o prefeito de Mariana Duarte Júnior.

Mais de 200 famílias desalojadas foram ao Centro de Convenções escolher o terreno - Foto: Aluísio Carvalho/Samarco/DivulgaçãoAs famílias de Bento Rodrigues têm demonstrado interesse pelo Lavoura, terreno de 100 hectares a 12 quilômetros do Centro da cidade colonial e a 10 do subdistrito arrasado pela lama. A Samarco deverá adquirir a área da Arcelor Mittal. No entanto, antes da construção da nova comunidade, serão realizadas análises sobre a qualidade do terreno para diferentes lavouras e a quantidade de água disponível para o abastecimento das futuras moradias.

O prazo oficial para o anúncio do local se encerrou no fim de abril. O prefeito informou as residências terão tetos que aproveitam a luz solar, com calhas para coletar a água da chuva. "O novo Bento será referência de respeito ao meio ambiente não só para Minas como para todo o Brasil", afirma o prefeito.

A reconstrução da comunidade faz parte de acordo homologado pela Justiça Federal entre a Samarco, Vale e BHP Billinton, governos de Minas, Espírito Santo e o governo federal para recuperar e compensar os danos ao meio ambiente e às comunidades da Bacia Hidrográfica do Rio Doce causados pelo rompimento da Barragem de Fundão em 5 de novembro do ano passado. Além da construção da nova comunidade, o acordo prevê a realização de 40 projetos de recuperação socioambiental e socioeconômica. O gerenciamento ficará a cargo de uma fundação de direito privado que deve ser constituída até 2 de julho. O acordo não prevê os valores máximos que deverão ser investidos, mas, nos próximos três anos, fundação receberá R$ 4,4 bilhões para executar os projetos. .