Secretaria de Saúde detecta predominância do H1N1 em casos graves de gripe

BH investiga o que pode ser o terceiro caso da doença, um bebê de 10 meses. Vigilância Epidemiológica do estado detectou predomínio da circulação do subtipo H1N1 sobre os demais vírus respiratórios em casos graves de gripe

Guilherme Paranaiba Carolina Mansur
Referência em pediatria, Hospital João Paulo II trata paciente com suspeita da gripe e temor é pela demanda no período crítico - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press
Diante da aproximação do período crítico para doenças respiratórias, a preocupação com o vírus da gripe A H1N1 aumenta, inclusive pelo provável impacto da demanda na rede pública de saúde. Ontem, o Hospital Infantil João Paulo II, referência no atendimento pediátrico no estado, informou que um bebê de 10 meses internado no último fim de semana na unidade foi diagnosticado por meio de um teste rápido com o subtipo H1N1 da influenza A. A confirmação depende de contraprova encaminhada à Fundação Ezequiel Dias (Funed), mas pode ser o terceiro caso da doença registrado em Belo Horizonte este ano. Porém, segundo o diretor do hospital, Luís Fernando Andrade de Carvalho, a criança veio de um município da Grande BH. A Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) informou que a Vigilância Epidemiológica detectou predomínio da circulação do subtipo H1N1 sobre os demais vírus respiratórios em casos graves de gripe. Por isso, decidiu recomendar a todos os municípios a antecipação da campanha de vacinação, anteriormente com início marcado para o dia 30, para a próxima segunda-feira.


O pré-diagnóstico do paciente com H1N1 levou o Hospital Infantil João Paulo II a reforçar o alerta já emitido na semana passada, para que casos menos graves de doenças respiratórias sejam encaminhados aos postos de saúde. Isso porque a instituição já trabalha com um aumento de demanda de 70% de pacientes nos primeiros três meses de 2016, na comparação com o mesmo período dos últimos quatro anos, sendo que a temporada de maior demanda para a transmissão de doenças respiratórias, inciada em maio, ainda não chegou. O quadro do bebê em tratamento na unidade para o subtipo H1N1 da gripe teve agravamento para pneumonia, mas é considerado estável e evolui bem, conforme o médico Luís Fernando de Carvalho.

Pacientes como ele costumam levar sete dias para ter alta do hospital, enquanto episódios menos graves podem demandar de três a cinco dias de internação.

O diretor do Hospital Infantil João Paulo II diz que neste ano a média de atendimentos na unidade bateu em 300 por dia, enquanto nos anos anteriores o número girava na casa dos 200. O mês de março registrou acúmulo de casos de dengue com o início das doenças respiratórias, mas de agora para frente a previsão é de que os quadros respiratórios dominem os atendimentos. Mesmo com o alerta diante da superlotação, Luís Fernando de Carvalho garante que a equipe está preparada para acolher os casos mais sérios. “Estamos com uma equipe estruturada que dá conta, mesmo que aumente a demanda, de atender tudo o que for grave. Agora, em quadros menos sérios, em que a criança estiver bem, vai aumentar o tempo de espera. A preocupação nesses casos é mais com o conforto”, afirma o diretor.

DIFERENCIAÇÃO Ele lembra que os próprios pais podem ajudar na hora de diferenciar casos mais leves de situações mais complicadas, encaminhado o que for simples para postos de saúde. “O resfriado é um quadro mais leve: o estado geral da criança é bom, a febre é baixa, o nariz escorre um pouco e tem tosse. A gripe já é um quadro mais intenso e mais importante. Há febre alta, com prostração e diminuição do apetite. A mãe percebe que a criança não está bem. E nessas condições o quadro pode se agravar para uma pneumonia e aí vai aparecer o cansaço para respirar e a baixa oxigenação do sangue”, diz o especialista.

Medo da doença levou Paula Roberta a procurar a unidade - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA PressPreocupada com a possibilidade de a filha desenvolver um quadro parecido, a monitora Paula Roberta, de 18 anos, procurou ontem o João Paulo II com Eduarda, de 4 meses. “Ela está gripada, com febre, tossindo e espirrando muito. Fiquei preocupada com essas doenças, como a influenza H1N1”, afirmou.
Ao avaliar o atendimento, Paula disse que teve a impressão de demorar mais do que esperava. “Cheguei por volta de 8h e me falaram que agora (11h30) tenho que esperar o resultado de um exame de sangue que leva perto de quatro horas”, disse.

Para evitar a transmissão do vírus e tentar minimizar o período de incidência das doenças respiratórias, o diretor do João Paulo II aponta alguns cuidados importantes. “Evitar contato com pessoas doentes, evitar locais de grande aglomeração de pessoas e sem ventilação, fazer a higiene da tosse, preferencialmente tampando a boca com o braço ao tossir, lavar bastante as mãos e não mandar crianças doentes para a escola para evitar o contágio são ações que ajudam bastante”, completa o médico.

Mortes têm alta no país

No país, as mortes provocadas por H1N1 aumentaram 50% em uma semana. Boletim do Ministério da Saúde com dados reunidos até o dia 9 mostra que 153 pessoas morreram em virtude de complicações provocadas pelo vírus. Em Minas são quatro mortes confirmadas – duas em Frutal (Triângulo Mineiro), uma em Lavras e uma em Andradas, ambas no Sul de Minas. Outros seis óbitos por influenza de outros tipos ocorreram em Guaxupé (dois casos), também no Sul; Astolfo Dutra, na Zona da Mata; além de Ribeirão das Neves e Santa Luzia, ambas na Grande BH. O sexto caso, segundo a SES, é de um paciente que vive em São Paulo, mas foi atendido em Frutal.

Em Minas, de 423 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), 19 amostras foram positivas para o vírus H1N1, 10 para influenza A sem subtipo definido e cinco para influenza B. Foi a predominância do subtipo H1N1 nos casos mais graves de gripe que levou a SES a recomendar aos municípios a antecipação da vacina – além da preocupação de evitar a demanda concentrada em cidades que decidissem isoladamente iniciar a imunização antes da data prevista.

Dessa forma, a vacinação contra a gripe no estado – incluindo a proteção contra o subtipo H1N1 –  está marcada para começar na segunda-feira, com 2,2 milhões de doses já encaminhadas aos municípios. A carga de imunizantes distribuída corresponde a 40% das 5,2 milhões de doses já enviadas pelo Ministério da Saúde. A meta é vacinar 4,9 milhões pessoas dentro do público-alvo: idosos a partir de 60 anos, crianças de 6 meses a 5 anos, trabalhadores de saúde, gestantes, mulheres até 45 dias após o parto, portadores de doenças crônicas, indígenas, população carcerária e servidores do setor.

A pediatra Gabriela Araújo Costa, da diretoria da Sociedade Mineira de Pediatria, lembra que, nos casos de pacientes infantis, quanto mais nova a criança, maior a chance de complicações, embora ela lembre que a situação em Minas ainda não caracteriza surto de H1N1.
“O risco é maior para crianças abaixo de 2 anos. Por isso, sempre que for percebido um comportamento diferente do habitual, principalmente no período sem febre, com prostração e alteração no ritmo de respiração, há a possibilidade de doença mais grave e é preciso que os pais procurem o médico, para que seja feito o diagnóstico correto”, diz.

Investimento em tecnologia

Um Centro de Tecnologia de Vacinas e Diagnóstico foi inaugurado ontem no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec). A unidade é resultado de uma iniciativa da Coordenação de Transferência de Inovação Tecnológica e Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz em Minas e governo de Minas, entre outros. Trata-se de um laboratório com infraestrutura para a geração e transmissão de conhecimentos relativos ao desenvolvimento e inovação tecnológica em vacinas e kits-diagnóstico, realização de testes, validação de novos produtos e outras ações em parceria com a iniciativa privada.
- Foto: Arte EM
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