Delegado explica como agia grupo que fez ataques racistas a famosas

Polícia Civil do Rio de Janeiro identifica grupo acusado de injúrias raciais pela internet que tem ramificações em sete estados, incluindo Minas Gerais. Ao menos cinco foram presos

Guilherme Paranaiba Valquiria Lopes
Atrizes e jornalista foram atacadas pelo grupo nas redes sociais - Foto: João Miguel Jr./TV Globo -1/10/15 Marcelo Martins/Extra - 7/4/14 Zé Paulo Cardeal - 18/5/15 Gil Rodrigues/Esp. Aqui/ DA Press - 24/10/13
As injúrias raciais proferidas pela internet contra as atrizes Taís Araújo, Cris Viana e Sheron Menezes e também à jornalista Maria Júlia Coutinho foram feitas por um mesmo grupo de agressores espalhado por vários estados do Brasil. A informação é da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que ontem começou a desmontar o esquema de ofensas, com a prisão de cinco pessoas e apreensão de aparelhos eletrônicos em sete estados. Além de Minas Gerais, a ação teve desdobramentos no Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. Segundo o delegado titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática do Rio de Janeiro, Alessandro Thiers, que coordenou a operação, o grupo foi criado com uma única finalidade: fazer ataques de cunho racista a pessoas públicas para chamar a atenção em perfis de redes sociais e no aplicativo WhatsApp. Os membros criaram uma hierarquia e poderiam até ser excluídos da organização, caso não fizessem as ofensas da forma que havia sido combinado.


Ao todo, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão. Quatro mandados de prisão foram cumpridos em Sertãozinho (SP), Curitiba (PR), Itajaí (SC) e Brumado (BA). Um quinto homem foi preso em Porto Alegre, em flagrante, já que os investigadores que cumpriram um mandado de busca e apreensão encontraram vasto material pornográfico de crianças de 1 a 5 anos. Pedro Virtor Siqueira da Silva, Gabriel Sanpietri, Thiago Zanfolin Santos Silva e Francisco Pereira da Silva Júnior já tinham o pedido de prisão expedido.

Willian dos Santos Triste acabou preso em flagrante. “Pelo monitoramento das redes sociais, pudemos verificar que eles tinham representações em diversos estados do Brasil. Eles tinham um estatuto com determinadas regras. Se a pessoa não cumprisse aquelas regras, poderia até ser excluída”, afirma o delegado Alessandro Thiers.

PERÍCIA Para tentar disfarçar ou evitar a investigação da polícia, o delegado explica que eles se dividiam em diversos grupos e, assim, encontravam mais facilidade para fazer os ataques pela internet. “Se uma célula dessa fosse identificada pela polícia, eles migravam para as outras. Nesse primeiro momento, apenas os administradores foram identificados, mas há outras pessoas que serão apontadas no decorrer da investigação”, afirma o delegado. Responsável por cumprir um dos mandados de prisão, o delegado Weydson da Silva, de Itajaí, em Santa Catarina, conta que Francisco Pereira da Silva Júnior foi preso no trabalho, não disse nada, não ofereceu resistência e teve o celular apreendido. O equipamento será enviado para perícia no Rio de Janeiro. “Além de praticar as ofensas contra a atriz Taís Araújo, posteriormente ele também praticou atos de pedofilia, armazenando e divulgando imagens de pornografia infantil. Por isso, a investigação acabou englobando todos os crimes, incluindo também a formação de quadrilha”, afirma o policial.A Polícia Civil de Minas Gerais não soube informar em quais cidades os mandados de busca e apreensão foram cumpridos, argumentando que a PC do Rio de Janeiro não solicitou apoio à Superintendência da corporação no estado.

 

VÍTIMAS

 

Taís Araújo

‘Gente covarde


A atriz teve o seu perfil no Facebook atacado na noite de 31 de outubro do ano passado. Ela reagiu e anunciou que levaria o caso à polícia. Na rede social, escreveu: “É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar. Na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página.

Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. Não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça”. Em solidariedade, espalhou-se na web a hashtag #SomosTodosTaísAraújo.

 

 

Cris Viana

‘Tenho orgulho da minha pele’


A atriz Cris Vianna foi alvo de comentários racistas, na internet, em 29 de novembro de 2015, um mês depois das ofensas feitas à atriz Taís Araújo. Na ocasião, Cris informou, por meio de sua assessoria de imprensa, lamentar os ataques e que já estava tomando “todas as providências cabíveis” para que os responsáveis fosse punidos. Na sua página pessoal, a atriz escreveu: “Não posso me calar. Usarei minha voz por muitos que sofrem este tipo de ataque racista diariamente e voltam para casa, calados, cansados de não serem ouvidos, para chorar sozinhos. A vergonha e a tristeza que sinto hoje são por estas pessoas pequenas, pobres de espírito e de coração vazio. Tenho orgulho da minha pele, do meu cabelo, da minha origem.”

 

Maria Júlia Coutinho

#SomosTodosMaju


Conhecida como Maju, a jornalista da TV Globo sofreu ofensas racistas em julho em uma publicação com a sua imagem na página oficial do “JN” no Facebook.

Alguns internautas fizeram piadas e publicaram comentários pejorativos e racistas. Revoltados, internautas, telespectadores, famosos, colegas de Redação e profissão saíram em defesa da jornalista, publicaram comentários de repúdio e subiram a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho.

 

Sheron Mennezes

Atitude recriminada

A atriz negra foi vítima de comentários racistas em redes sociais em 5 de dezembro. Ela foi agredida verbalmente por vários comentários preconceituosos numa foto que postou. Na madrugada do dia 7 do mesmo mês, Sheron fez um desabafo em uma de suas redes sociais e recriminou a atitude. A atriz também informou na publicação que iria tomar as providências cabíveis para identificar os responsáveis pelas ofensas racista.
 

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