Matriz de Paracatu chega a seis meses de interdição sem perspectiva de resgate

Obra de igreja que tem 270 anos foi orçada em R$ 550 mil. Não há perspectiva de abertura aos fiéis e à visitação turística

Gustavo Werneck
A historiadora Terezinha Guimarães explica que a construção segue estilo jesuítico, com características mais próximas dos templos católicos de Goiás - Foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

Paracatu
– História interrompida, fiéis consternados e solução em compasso de espera. Ao completar 270 anos de construção, a Matriz de Santo Antônio, no Centro de Paracatu, na Região Noroeste, está com as portas fechadas, impedindo que católicos participem das cerimônias e os visitantes de ver um templo com características únicas no país. A interdição já dura seis meses. “Estou triste com a situação, pois sempre vim aqui para rezar. Este local marca a religiosidade da cidade e tem grande importância para nossa vida”, diz a fazendeira Tânia Maria Monteiro da Silva, de 65 anos, que mantém o hábito de longa data, fazendo as orações “no Santíssimo”, pequena capela lateral ligada à matriz.

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1962, a matriz em honra ao padroeiro de Paracatu tem seus maiores problemas na cobertura, com madeiras atacadas pelos cupins, afirma o titular da Paróquia Catedral de Santo Antônio, monsenhor João César Teixeira de Melo. Ele explica que a paróquia não tem recursos para bancar a reforma, orçada em R$ 550 mil, sendo necessário, portanto, que os fiéis se mantenham distantes para evitar acidentes.

“Dentro de alguns dias, o Santíssimo também será fechado”, diz o pároco, que foi obrigado a transferir missas e outras celebrações, como batizados e casamentos, para as capelas do Rosário e de São Vicente. O trânsito intenso é outro fator de risco para a matriz, favorecendo ainda a degradação, o deslocamento de telhas e a consequente infiltração da água de chuva. O Centro Histórico de Paracatu, cujo núcleo primitivo (Arraial de São Luiz e Santana da Minas do Paracatu) surgiu em meados do século 18, está sob tombamento federal desde 2010.
Após entendimentos, técnicos da autarquia federal, da prefeitura e a paróquia decidiram interditar o templo.

O secretário municipal de Cultura, Isac Costa Arruda, acredita que a obra de reforma do telhado deverá começar no mês que vem. Ele informa que o projeto já foi encaminhado à superintendência do Iphan, em Belo Horizonte, que sinalizou com recursos de R$ 160 mil, ficando a cargo da prefeitura local a contrapartida de R$ 400 mil. “O projeto contempla inicialmente a cobertura. Há alguns anos, foi feita a restauração dos altares, mas a prioridade deveria ser o telhado, a fim de evitar a deterioração”, diz o secretário.

O Iphan, via assessoria de imprensa, confirma que a autarquia federal vai assinar com a prefeitura convênio no valor de R$ 160 mil para a restauração da cobertura e dos beirais da igreja. No entanto, após análise pelos técnicos do órgão, foi solicitada à prefeitura revisão da planilha orçamentária e especificação mais detalhada dos serviços a serem executados. Os técnicos, agora, aguardam a revisão da administração municipal para dar seguimento ao processo.

HISTÓRIA Apaixonada pelo patrimônio cultural de sua terra e pelos fatos relevantes que marcam os quase três séculos de Paracatu, a historiadora Terezinha de Jesus Santana Guimarães, da Secretaria Municipal de Cultura, passa quase diariamente em frente à Matriz de Santo Antônio, e aguarda com muita esperança a reabertura. “Conforme as fontes que consultamos, a igreja foi construída pelo padre Antônio Mendes Santiago, em 1746, mas demorou 50 anos para ficar pronta”, conta Terezinha, que faz um trabalho de educação patrimonial com estudantes da rede municipal. “Ela é diferente da arquitetura barroca de cidades como Ouro Preto, seguindo o estilo jesuítico, com características mais próximas dos templos católicos de Goiás”, diz Terezinha.

Os estudos mostram que a igreja foi edificada em linhas sóbrias e de fachada austera do autêntico barroco, apresentando altares em cedro. Ela conta que o altar-mor pertenceu à primitiva Igreja de Sant’Anna, que ficava no Bairro Santana, o mais antigo do município. “Na década de 1930, com a degradação da igreja, os moradores retiraram o altar e o levaram, em carro de boi, para a matriz, de forma a não perder o acervo”, explica.

“O modelo arquitetônico pode ser considerado uma evolução dos projetos jesuíticos seiscentistas. A ausência de torres é característica marcante desse modelo. Na fachada, sobressai o corpo da nave, dominado pela grande portada, pelas janelas do coro e pelo óculo”, explica Terezinha. Já as naves laterais são marcadas por volumes mais baixos.

Numa reforma em 1950, a igreja perdeu a escadaria, os pilares e seu cruzeiro, mas a fileira de palmeiras continuou.
Uma curiosidade é que foram plantadas, uma a uma, pelo major Demóstenes Roriz, a cada vez que um filho seu nascia. A última intervenção ocorreu em 1988..