Falta dinheiro na guerra a mosquito da dengue

Minas tem metade das prefeituras sem verbas para combate ao Aedes aegypti

Em meio ao surto tríplice que assusta o país, prefeituras reclamam de atraso na liberação de dinheiro do Ministério da Saúde para salários de agentes que combatem o mosquito. Problema no cadastro de agentes complica cenário

Daniel Camargos
Por causa da demora na transferência dos recursos federais, municípios têm dificuldades para pagar agentes de saúde responsáveis pelo extermínio dos criadouros do inseto - Foto: Beto Novaes / EM / D.A Press - 5/1/2016

Enquanto o país vive uma epidemia de dengue, o Ministério da Saúde atrasa o repasse da verba destinada aos municípios para o pagamento dos Agentes de Combates a Endemia (ACE). A primeira parcela, usualmente paga até o primeiro dia útil, ainda não foi repassada para a Prefeitura de Belo Horizonte, segundo informação da Secretaria Municipal de Saúde. O dinheiro seria destinado ao pagamento do salário dos agentes: R$ 1.014 para cada contratado. Além do atraso, outro problema dificulta o combate à dengue: estimativa da Secretaria de Estado da Saúde aponta que metade das prefeituras mineiras enfrenta problema para realizar o cadastro dos agentes e, assim, receber o repasse.

A quantidade de agentes por município varia de acordo com o perfil epidemiológico de cada cidade, que leva em conta o número de imóveis infestados. Em Minas, a capital tem o maior número de agentes pagos com a verba federal: 797. Apesar do atraso, a PBH informa, em nota, que os salários dos agentes serão pagos. Porém, a realidade de Belo Horizonte não é a mesma das cidades do interior, com menor capacidade financeira e extremamente dependentes dos repasses das verbas federais.

A técnica do Departamento de Saúde da Associação Mineira de Municípios (AMM), Juliana Marinho, explica que, como o combate a dengue e os outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti não pode parar, as prefeituras precisam arcar com os atrasos. “O mínimo que cada município pode gastar com saúde é 15% do orçamento, mas hoje a média está entre 25% e 30%, justamente por causa desses atrasos e reduções de verba.
A conta sobra para as prefeituras que são obrigadas a pagar”, detalha Juliana.

Outro problema que se soma ao atraso é a dificuldade das prefeituras em fazer os cadastros e conseguir os recursos do Ministério da Saúde. Durante reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Rodrigo Fabiano do Carmo Said, disse que 50% dos municípios ainda não receberam recursos nem realizaram concurso público para a contratação de agentes de controle de endemias, principalmente por erros administrativos. “As cidades precisam regularizar seus cadastros junto ao Ministério da Saúde. Isso é essencial”, afirmou.

CADASTRO FALHO Em Bom Despacho, na Região Centro-Oeste, os casos de dengue mais que dobraram na comparação entre janeiro e fevereiro, passando de 105 notificações para 234. Por uma falha ao fazer o cadastro dos agentes de endemia, a prefeitura deixou de receber a verba relativa ao pagamento de 20 agentes durante um mês. “Fizemos o cadastro dos agentes como funcionários temporários, mas tinha que ser como funcionário definitivo”, explica a subsecretaria de Saúde, Joselene Aparecida Pinto. Com isso, a prefeitura pagou os agentes com recursos próprios.  Juliana Marinho explica que o erro mais comum das prefeituras é justamente a vinculação incorreta dos agentes de endemia. “Os municípios precisam regularizar a situação, com concurso ou seleção, para receber os repasses”, detalha.

De acordo com o perfil epidemiológico, a Prefeitura de Guaranésia, no Sul de Minas, tem direito a receber a verba do Ministério da Saúde para sete agentes epidemiológicos, porém recebe apenas para um agente. A reportagem do Estado de Minas conversou com o chefe de Atenção a Saúde da prefeitura, Antônio César Lopes, mas ele não soube dizer qual o problema. “Procurei a regional e eles pediram para mudar a maneira de contratação. Mudei, mas ainda não estamos recebendo”, explicou. Outro critério exigido no cadastro é que os contratos sejam de 40h semanais. Alertado pela reportagem sobre esse detalhe, Lopes disse que o problema pode estar aí: “Pode ser isso.
Alguns estão cadastrados como 44 horas semanais.”

Procurada diversas vezes pela reportagem do EM, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde não explicou, até o fechamento da edição, os motivos do atraso nem quando serão feitos os pagamentos atrasados para as prefeituras..