Há 18 dias, a rotina do Centro de Saúde São José Operário, no Bairro Nova Vista, na Região Leste da capital, era totalmente alterada para a visita do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, durante dia nacional de mobilização para combate ao Aedes aegypti. Passada a data, quando o primeiro escalão do governo federal visitou vários estados em uma ação que também contou com a participação de militares do Exército, nada mudou na unidade da capital mineira: retrato do que ocorre no restante da rede, o posto está sobrecarregado e pacientes reclamam do tempo de espera, aumentado pela pressão da demanda. Até o início da tarde de ontem, pelo menos 50 casos de suspeita de dengue, de quadros agudos ou reavaliações foram registrados na recepção, de um total de 240 atendimentos. Em todo o sistema, a sobrecarga observada nas unidades é indicativo da insuficiência das estratégias para fazer frente ao quadro de epidemia.
Balanço da Sala Nacional de Coordenação e Controle para Enfrentamento da Dengue, Chikungunya e Zika, do Ministério da Saúde, mostra que, até 25 de fevereiro, um total de 41,7 milhões de imóveis foram visitados em 2016, com o apoio de agentes de saúde e de militares das Forças Armadas. Em números absolutos, Minas Gerais teve 7,2 milhões de imóveis percorridos. Mas, ao mesmo passo que cresce o número de moradias visitadas, dispara a busca por atendimento para casos suspeitos das três doenças. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, houve aumento de 30% na demanda dos postos localizados em regiões onde há maior número de notificações.
Belo Horizonte tem 2.916 casos confirmados de dengue, segundo o último balanço divulgado pela prefeitura. O levantamento aponta a Região Leste como a quarta em diagnósticos confirmados, com um total de 352.
NO CHÃO Às 15h de ontem, a aposentada Teodorica dos Santos, de 65, saiu de ambulância do centro de saúde, depois de conseguir encaminhamento à UPA Leste. “Estou aqui há mais de cinco horas. Como tenho lúpus, minha situação é mais delicada e por isso vou ser transferida”, contou a moradora do Nova Vista, que esperava, sentada no chão, debaixo de uma árvore, a chegada do Samu. “É uma doença horrível, estou sentindo muitas dores no corpo, com febre e estou toda empolada”, disse.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o Centro de Saúde São José Operário, que tem população de 11.400 pessoas em sua área de abrangência, conta com três equipes de Saúde da Família (um médico generalista, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro agentes de saúde).
A pasta sustenta também que pacientes com dengue e que tenham qualquer sinal de alarme são encaminhados para unidades de pronto-atendimento, acrescentando que neste ano não houve registro de dengue hemorrágica na unidade da Região Leste. Até 15 de fevereiro, o Centro de Saúde São José Operário notificou 157 casos suspeitos de dengue, com 23 confirmações, 28 diagnósticos descartados e 106 em investigação. O plano de contingência de combate a dengue, elaborado este ano, prevê a ativação de serviços de saúde e incremento das equipes, de forma gradativa, conforme a demanda, segundo a secretaria.
Palavra de especialista
Antônio Carlos Toleto, médico infectologista e diretor da Sociedade Mineira de Infectologia
Medidas ineficazes
“O Aedes aegypti é extremamente complexo e tem capacidade de adaptação rápida ao meio. Ele não vai ser alcançado por meio das medidas que são tomadas todos os anos pelo governo. Os últimos 15 anos têm mostrado que a eficácia dos mutirões de limpeza, visitas as casas e ações de conscientização é limitada. São pontualmente importantes, porque quando ocorrem sabemos que reduzem potencialmente o número de casos, mas é preciso diversificar as estratégias, assim como o próprio vetor faz. Temos a questão do controle biológico e é preciso investir em pesquisas.
Mutirão no Horto
A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e a Regional Leste promoveram ontem mutirão intersetorial contra o Aedes aegypti, no Bairro Horto. Durante a atividade, 2.148 casas foram vistoriadas, em 42 quarteirões. Um pente-fino foi realizado nas moradias e foram apresentadas orientações aos moradores, com distribuição de material educativo. Doze caminhões fizeram coleta de aproximadamente 30 toneladas de material descartado pela população, com 35 pneus recolhidos. Hoje a regional fará nova operação de entrada forçada em imóveis abandonados. Serão dois endereços vistoriados, um no Bairro Colégio Batista e outro no próprio Horto..