Samarco pede licença para remanejar rejeitos

Mineradora quer levar resíduos remanescentes do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, para duas cavas

Dos cerca de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro que estavam na barragem em 5 de novembro de 2015, 32 milhões vazaram - Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa Policia Civil de Minas

Quase quatro meses depois do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, no maior desastre socioambiental do Brasil, a Samarco encaminhou à Superintendência Regional de Regularização Ambiental Central Metropolitana (Supram), vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), pedido de licenciamento para a disposição de rejeitos remanescentes do estouro da represa.

Questionada, a Samarco não informou, até o fechamento desta reportagem, se deseja esvaziar a represa de Fundão. Dos cerca de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro que estavam na barragem em 5 de novembro de 2015, 32 milhões vazaram. De acordo com a Semad, a empresa, controlada pela Vale e a BHP Billiton, fez o pedido para colocar os rejeitos em duas cavas.

A Samarco pretende depositar a chamada substância fina na Alegria Sul. Já a arenosa, na cava da Germano. Desde 8 de novembro passado, as atividades minerárias da empresa estão embargadas pelo governo estadual. Ontem, diante do pedido da mineradora, a Supram determinou “diversos estudos técnicos, que instruirão o processo, a fim de embasar a decisão do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) do licenciamento”.

Em nota, a Semad informou que “o processo de licenciamento levará em conta o rompimento da barragem e suas consequências”. Vale lembrar que, em janeiro, cerca de 1 milhão de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro se movimentaram em Fundão. A movimentação da massa de rejeitos não ultrapassou os limites da represa, mas causou apreensão em moradores da região.

“A avaliação do pedido deverá considerar todas as discussões que a sociedade civil e os órgãos dos governos federal e estadual têm promovido desde o rompimento da barragem.
Deve haver um entendimento de que a disposição dos rejeitos nessas duas cavas realmente é o melhor caminho e, principalmente, se não haverá nenhum outro prejuízo para o meio ambiente e para a população da região”, disse o subsecretário de Regularização Ambiental, Geraldo Abreu.

A Semad informou que o processo de licenciamento levará em conta o rompimento da barragem e suas consequências. A lama de rejeitos de minério foi despejada na natureza, atingindo os rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce. A substância viajou mais de 600 quilômetros até chegar ao Atlântico. Pelo caminho, além de desabrigar mais de 300 famílias e destruir 1.469 hectares de matas ciliares, a lama matou 19 pessoas, dos quais dois corpos continuam desaparecidos.

Em razão das mortes, a Polícia Civil indiciou o diretor-presidente licenciado da Samarco, Ricardo Vescovi, e outros cinco diretores e gerentes da empresa, todos licenciados, por homicídio qualificado. Um engenheiro da VogBR, responsável por atestar a segurança da estrutura de Fundão, também foi indiciado.

O policial pediu à Justiça a prisão preventiva dos sete acusados. O promotor Antônio Carlos de Oliveira, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em Mariana, deverá apresentar hoje denúncia contra os indiciados. Ele não se manifestou se pretende avalizar o pedido de prisão preventiva. As defesas dos acusados discordam da tese do policial sob a alegação de que as empresas estão contribuindo com as investigações.

Há a expectativa, também hoje, de a Samarco e suas controladoras assinarem o acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU) para definir o cronograma e diretrizes de recuperação da Bacia do Rio Doce. .