Blocos de BH ganham fama e atraem visitantes de outras cidades e estados

Foliões do Nordeste ao Rio Grande do Sul escolhem fantasias e chegam à capital para curtir a folia

Gustavo Werneck
Analu Pimenta, que mora em Curvelo, ontem escolheu as fantasias com a amiga Lorena Rocha: capricho para curtir a festa "cheia de gente bacana" - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
A torre de chope está pela metade, a alegria da turma, nas alturas, e a vontade de curtir não tem limites. Na tarde de ontem, na mesa de um bar ao ar livre na Praça Sete, no Centro da capital, quatro estudantes – dois de Uberlândia e um do Paraná, ciceroneados por um de Belo Horizonte – mostravam que o carnaval da capital contagiou geral e “pegou”, no bom sentido, principalmente pela força dos blocos de rua.

Com um corte moicano e sorriso de quem está para brincadeira, o estudante de psicologia Victor Hugo Machado, de 19 anos, residente em Uberlândia, pretende sair hoje de manhã no Então, Brilha!, ao lado dos amigos. “Carnaval é pura magia. O melhor do carnaval daqui é que não tem corda para fechar os blocos, a gente pula mais livre”, conta Victor Hugo, que se fantasiou de fadinha, com varinha de condão e tudo. Ao lado, os amigos não perderam a piada e repetiram em coro: “Sa-fadinha!”.

Estudante de arquitetura também em Uberlândia, Caio Ferreira, de 19, faz sua estreia na folia belo-horizontina e está ansioso para sair no Então, Brilha! E, amanhã, no Pena de Pavão de Krishna. Mais um gole e um colar de havaiano comprado no camelô para colorir a tarde. O paranaense Matheus Volpatto, de 19, também saiu fantasiado de fadinha e diz que se divertiu muito e pretende dançar até quando tiver fôlego. “Viemos porque o Rafael nos convidou”, diz o rapaz residente em Umuarama (PR) apontando para o anfitrião Rafael César Assunção, de 18, morador do Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul.

No hostel Samba Rooms, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, o gerente Gladston Natal festeja a ocupação, que chegou a 100%.
E, para os foliões de última hora, ele oferece adereços para turbinar o visual, como chapéus de malandrinho e de mexicano. Frequentador do carnaval de BH desde 2012, o professor Marcelo Corrêa, de Governador Valadares, na Região Leste, já gostou muito dos blocos maiores, como o Chama o síndico, Alcova Libertina, Baianas Ozadas e Moreré, que não vai dar as caras este ano. “Estou preferindo os menores, com menos gente. Acho que a folia em BH é ótima, pois é na rua. E também não tem aquele clima de fim de mundo, com gente bêbada demais e azaração”, diz o professor, com seriedade. Ouvindo a conversa, o gerente

Victor Hugo, com os amigos Caio e Matheus, foi recebido por Rafael Assunção para brindar a folia - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PressGladston interfere com bom humor: “Mais ou menos...mais ou menos...”Recém-chegadas, as estudantes de direito de Porto Alegre (RS), Luíza Ochoa e Paloma Kerkhoff, ambas de 20 anos, não trouxeram fantasias, mas não vão sair de cara lavada. Ontem à tarde, as garotas testaram as maquiagens coloridas e gostaram do que viram. Um vermelho nas maçãs de Paloma para destacar a pele alva, e um azul nas pálpebras de Luíza para realçar os olhos. E estão prontas para brincar.

ESTRELAS No Centro, a sexta-feira quente teve como principal termômetro a folia, que – acreditem – começa oficialmente hoje. Na Loja Rapunzel, na Galeria do Ouvidor, jovens procuravam desesperadamente pelas melhores fantasias. Na frente do espelho, três rapazes fortões do Ceará fazem caras e bocas com perucas coloridas e boás roxos, vermelhos, lilás e laranja. Fazendo pose de Beyoncé, o mais alto deles diz que é “diva” e tem tudo para dar um show nas ruas. Se quiser, o trio pode virar celebridade no Garotas Solteiras, que sai na segunda-feira e homenageia grandes cantoras do mundo pop.

Fazendo sua estreia no reino de Momo, em BH, a estudante de engenharia civil Analu Pimenta, de 24, de Montes Claros, no Norte de Minas, e residente em Curvelo, na Região Central, veio seguindo o convite de amigos – “todo mundo diz que é cheio de gente bacana” – e diz que já está gostando por antecipação.
A amiga Lorena Assis Rocha, advogada residente em Santa Tereza, na Região Leste, ajudou Analu a escolher a fantasia, e as duas se divertiram muito provando boás, chapéus, máscaras com brilhos, óculos e grinalda de flores. “Somos filhas do carnaval de Diamantina e este ano decidimos ficar aqui para comprovar o sucesso”, afirmou Lorena numa referência à terra de JK e Chica da Silva, no Vale do Jequitinhonha, que tem fama eterna na folia.

Uma vendedora diz que vários artigos já estão no fim, como cílios postiços, mas o movimento tem clima de baile de carnaval de todas as gerações. Um rapaz barbudo, no melhor estilo lenhador, prova uma capa de chapeuzinho vermelho e ganha aprovação da namorada. Uma senhora leva um tridente para o neto e duas jovens prendem os cabelos com as guirlandas de flores, que, a exemplo do ano passado, devem enfeitar as cabeças neste fevereiro.

ATRAÇÕES
Os visitantes estão por todo canto e aproveitam para visitar pontos turísticos, como o Mercado Central, no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul. O casal de namorados Lucas Fonseca, estudante de engenharia mecânica e morador de Santa Bárbara, e Larissa Ramiro, de engenharia elétrica, residente em Paineiras, também na Região Central, curtiu os produtos ao lado da irmã de Lucas, Ana Carolina Fonseca, de 21, estudante de engenharia ambiental. “Já passei carnaval em Abaeté, mas lá é muito caro. Acho BH mais em conta”, disse Larissa. Para Lucas, o mais legal é ambiente de amizade, com muitas turmas nas ruas.

Eu, folião - Luiz Henrique Ribeiro do Couto 29 anos, publicitário

- Foto: Arquivo pessoal"Resolvi experimentar o carnaval de BH neste ano porque o do Rio já está muito saturado. Tem muita briga, muita confusão. Resolvi procurar outros lugares, com pessoas legais e diferentes.
Um amigo veio para BH em 2014, mas disse que ainda estava meio fraco. O deste ano promete. Já cheguei e gostei. O bloco Sexta ninguém sabe está muito cheio. Acho que este carnaval vai ser muito bom mesmo.".