A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve projetos de pesquisa relacionados à avaliação de danos e intervenções na Bacia do Rio Doce que poderiam contribuir para a recuperação da área devastada pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, mas não há sinalização de que autoridades buscarão parceria com a instituição. O alerta é do professor e biólogo Ricardo Motta Pinto Coelho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, para quem “o desastre de Mariana terá efeitos muito graves, a curto, médio e longo prazos”. “O governo deveria criar uma força-tarefa envolvendo pesquisadores”, defende.
O biólogo critica o que considera “falta de atenção” de autoridades com os desdobramentos da tragédia. Ele considera inadequada, por exemplo, a forma como é feito o monitoramento da água do Rio Doce. “É insuficiente. Foram divulgados dados de cerca de 15 pontos distribuídos ao longo do rio e nos tributários afetados. Dada a extensão do desastre, teríamos que trabalhar com um número muito maior de pontos de coleta”, defendeu.
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"Temos de aprender com o desastre", defende Leonardo Quintão, relator do novo Código da MineraçãoCartaz sobre assédio sexual dá a estudante da UFMG prêmio em Nova YorkProjetos Entre os projetos desenvolvidos com participação da UFMG que poderiam contribuir para avaliar e minimizar efeitos dos rejeitos de minério na natureza está uma sonda automatizada, capaz de realizar o monitoramento de alta frequência. Batizada de Hydro Nodee, ela permite medir as reais condições da água da bacia, transmitindo dados por telemetria. A sonda foi projetada e construída pelas equipes dos laboratórios de Gestão de Reservatórios e de Ciência da Computação da UFMG, em parceria com pesquisadores das universidades federais de Viçosa (UFV) e de Juiz de Fora (UFJF).
Além da sonda, o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG tem prontos outros quatro projetos de pesquisa que podem ser relacionados ao Rio Doce. Um deles é o estudo que se propõe a analisar as perdas da biodiversidade e diminuição de recursos pesqueiros. O autor, o pesquisador Rangel Eduardo Santos, doutorando em ecologia, explica que, devido ao derramamento de rejeitos de minério, será formada no Rio Doce uma “barreira físico-química, provocando o isolamento das populações de peixes”. “O objetivo é fazer coletas da ictiofauna para fazer análises biológicas e comparativos dos pontos situados na cabeceira e na foz do rio”, afirma Rangel.
Já a avaliação do acúmulo de metais pesados nos peixes do Rio Doce é tema de pesquisa de Fernanda Andrade, doutoranda em ecologia da UFMG.
Uma outra pesquisa do ICB/UFMG, de autoria do professor Rogério Fonseca, visa a implantação de unidades de conservação nas próprias áreas impactadas pelo vazamento da lama de rejeitos da mineração. “A ideia é usar mecanismos da legislação brasileira para implementar as unidades de conservação nas áreas degradadas e desenvolver ações para a recuperação dessas áreas”, diz Fonseca..