Jornal Estado de Minas

BH faz mapeamento de bueiros para evitar alagamentos

As obras viárias que se espalharam por Belo Horizonte para a Copa do Mundo de 2014 não apenas mudaram o transporte público e o trânsito da capital mineira, como também alteraram a dinâmica dos pontos de alagamento da cidade. Com isso, de acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), surgiram novos pontos de acúmulo de água em ruas e avenidas ampliadas, modificadas ou que sofreram sobrecarga com a implantação de estruturas recentes. Por esse motivo, a superintendência requisitou uma atualização do mapeamento das bocas de lobo mais sensíveis a entupimento para intensificar a limpeza desses pontos, levantamento que está em andamento nas Gerências de Manutenção das nove regionais administrativas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), mas ainda não tem prazo para ser concluído.

A reportagem do Estado de Minas apurou que já foram identificados pontos em trechos de vias com intervenções recentes na Região Noroeste, no Barreiro e em Venda Nova, sendo que nesta última regional o entupimento das drenagens pode ter contribuído para o alagamento da Avenida Vilarinho, no fim de outubro, quando cerca de 40 imóveis foram atingidos e 60 veículos arrastados.

Só na Região de Venda Nova, a mais castigada pelas chuvas desta temporada, o número de bocas de lobo e bueiros aumentou 5%, com cerca de 200 estruturas construídas ou adaptadas para as obras do BRT/Move e dos corredores do complexo da Avenida Vilarinho/Dom Pedro I. De acordo com a assessoria de imprensa da regional, as bocas de lobo mais novas estão nas avenidas Desembargador Felipe Messi (continuação da Avenida Dr. Álvaro Camargos, no Bairro Santa Mônica), Dom Pedro I e Vilarinho. Todas as vias desembocam justamente na área que ficou alagada pela chuva no dia 27 do mês passado. Com a conclusão do levantamento, bocas de lobo sujeitas a sobrecargas, acúmulo de lixo e entulho seriam limpas com maior frequência, como já ocorre nas 5.675 do último mapeamento, feito em 2012. O número representa quase 10% das 60 mil estruturas existentes nas vias de BH e que, por serem consideradas sensíveis a inundações, recebem operações de limpeza que podem chegar a quatro vezes por semana, enquanto as demais tendem a levar até dois meses para receber a manutenção.

As avenidas Vilarinho e Dr.
Álvaro Camargos apresentam lixo e detritos se acumulando dentro e sobre as novas bocas de lobo. Na Avenida Desembargador Felipe Messi, além do lixo, há entulho de construções e podas sendo carreadas para dentro da drenagem, a menos de três quilômetros dos pontos de inundação.

Em frente ao comércio de ferramentas e depósito de construção do comerciante Cláudio da Silva, de 57, a construção do rotor de ligação das avenidas Vilarinho, Dr Álvaro Camargos e Dom Pedro I foi preocupação desde o início. “Isso daqui é um fundo de vale. Quando fizeram essa rotatória com poucas bocas de lobo e que nunca vi sendo limpas, limaginei que com uma chuva mais forte viriam alagamentos como o recente”, afirma. O comerciante teve a loja invadida por mais de um metro de água de enxurrada.

PREJUÍZOS Romário Calafenger, de 60, vizinho de loja, não tinha comportas no portão de seu comércio de móveis e teve um prejuízo de mais de R$ 5 mil. “A grelha da boca de lobo se soltou e veio navegando até bater na minha porta de aço. Abriu um rombo e a água veio entrando”, conta.
No rotor da Vilarinho, o EM constatou que mais lixo e entulho já se acumulam no interior das drenagens novas e voltaram a ser despejados nas mais antigas.

Na Região Noroeste, pelo menos quatro conjuntos de vias com de bocas de lobo sensíveis foram identificados em fundos de vales onde o acúmulo de água das chuvas tem sido grande problema. No Complexo da Lagoinha, a sujeira retida pela drenagem é de restos de alimentos, embalagens, garrafinhas e lixo. Na Antônio Carlos com a Avenida Américo Vespúcio, entre os bairros Cachoeirinha e Aparecida, um misto de lixo doméstico e dos comércios locais acumula no fundo das bocas de lobo.

TEMPO Ontem, a Grande BH teve chuvas isoladas de intensidade moderada a forte durante o dia, mas não houve registro de alagamentos ou danos. A chegada de uma frente fria vai manter o quadro durante a semana em várias regiões do estado. Na capital, a temperatura vai variar de 19 a 26 graus e não está descartada a possibilidade de granizo.

Locais críticos podem aumentar

Com o mapeamento das bocas de lobo que exigem limpeza mais frequente, o número de pontos de alagamento em BH – atualmente são 88 identificados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) – pode aumentar. De acordo com a Regional Barreiro, locais mais críticos receberam intervenções preventivas para esse período chuvoso. Um deles é a Avenida Olinto Meireles, próximo à Rua Caetano Pirri, que passou por desobstrução de bocas de lobo, há cerca de 40 dias. “A Praça José Verano, no Bairro Miramar, Praça José Raimundo, no Tirol, e as avenidas Afonso Vaz de Melo e Senador Levindo Coelho também são pontos de atendimento prioritário”, informou o texto.

A Regional Pampulha informou que as bocas de lobo que merecem mais cuidado estão localizadas próximo às avenidas Otacílio Negrão de Lima e Heráclito Mourão de Miranda.
Por meio de nota, a PBH indicou que a limpeza a Avenida Atlântica foi feita início deste mês. Já na Regional Centro-Sul, são consideradas áreas críticas para entupimento de bocas de lobo a Avenida Prudente de Morais com Rua Joaquim Murtinho, no Cidade Jardim; e as ruas Alvarenga Peixoto, Curitiba e Marília de Dirceu, no Bairro de Lourdes. “A limpeza de bocas de lobo no Hipercentro é feita uma vez por semana, já nas demais áreas da Centro-Sul, uma vez por mês e a cada 15 dias nos pontos de atenção”, afirma a administração regional.

A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou, por meio de nota, que “iniciou em julho os serviços e obras de recuperação estrutural das paredes, lajes de piso e teto de cinco galerias no Município. Serão recuperadas as galerias dos córregos do Acaba Mundo, da Avenida Olinto Meireles, da Serra (Rua Trifana), do zoológico (Rua Pernambuco) e São José”. (MP)

ALERTA NO CHÃO

5,6 mil - Bocas de lobo sujeitas à sobrecarga de lixo já são limpas com maior frequência na capital para evitar alagamentos

200 %2b Bueiros ou bocas de lobo foram construídos ou adaptados em Venda Nova para as obras do Move, um aumento de 5%

60 mil - Número de estruturas deste tipo em BH. Quase 10% delas estão sujeitas a um acúmulo maior de lixo

88 - Pontos de alagamento já foram identificados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) na capital .