Jornal Estado de Minas

Cirurgias bariátricas na rede particular supera EUA e no SUS agrava estado do paciente


De um lado, a balança que atesta o desafio da obesidade no país. De outro, a que pesa prós e contras das operações para tratamento do excesso de peso, as chamadas cirurgias bariátricas – especialmente em pacientes considerados jovens e nem tão obesos – feitas em taxas que chegam a superar as norte-americanas. Enquanto o procedimento cresce qualquer que seja o universo considerado e em níveis que chegaram a 23,3% em um ano no maior plano de saúde da capital e a até 94% no SUS em Minas, estudo da Universidade Federal de Minas Gerais levanta discussão sobre a multiplicação de procedimentos pagos, mas também sobre a dificuldade de acesso no sistema público e as complicações dessa demora.


De acordo com pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da UFMG, o índice de massa corporal (IMC) médio dos pacientes que recorrem ao procedimento na rede particular é considerado muito próximo do limite mínimo, que é de 40, e a faixa etária dos operados, classificada como baixa. O trabalho avaliou 4.344 pacientes, entre 2001 e 2010. Tinham, em média, 34,9 anos e IMC de 42. Desses, 79% eram mulheres. O IMC, calculado a partir da divisão do peso pelo quadrado da altura, é usado como uma das referências para indicação para o procedimento. Na rede pública, foram avaliadas 24.642 pessoas operadas, para análise da taxa de mortalidade.


Enquanto na rede particular o tempo de espera para a operação pode variar de um mês a dois anos, no Sistema Único de Saúde o paciente pode ficar na fila de oito a 10 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

O estudo da UFMG apontou espera de quatro anos em BH. A demora resulta em outro problema constatado na mesma pesquisa: pacientes operados pelo SUS são mais velhos, mais pesados e mais doentes. “A dificuldade de acesso dos pacientes do SUS à cirurgia talvez explique o maior IMC, idade mais alta e o maior acometimento por comorbidades. Por outro lado, o acesso imediato dos pacientes assistidos pela saúde suplementar está gerando taxas de cirurgia por 100.000 assistidos muito acima até mesmo daquelas observadas nos Estados Unidos, que têm população obesa bem superior à nossa”, afirma a coordenadora do trabalho, a médica e pesquisadora Silvana Bruschi Kelles, especialista em saúde do adulto.

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