Pirapora – O dia a dia de Matheus Júnio Gomes da Silva, de 13 anos, está mais alegre desde 2012, quando ele aprendeu a tocar sax alto: “Até o meu desempenho na escola melhorou. Vou me esforçar para continuar músico e me formar em engenharia naval”. As notas de Ângela Helena Leal Alves, da mesma idade, também estão melhores desde 2013, quando ela começou a tirar o som do clarinete. Paralelamente à carreira de instrumentista, a garota sonha “ser oficial da Marinha”.
Matheus e Ângela são músicos da Sinfônica Jovem, braço cultural da Sociedade São Vicente de Paulo em Pirapora, no Norte de Minas, a 350 quilômetros de Belo Horizonte. A orquestra é um projeto social destinado a crianças e adolescentes, em sua maioria, moradores de áreas carentes. Atualmente, o programa beneficia 120 meninos e meninas de 10 a 16 anos, mas está ameaçado por falta de recurso, mesmo diante de apresentações contagiantes como a Sinfonia do Velho Chico, onde a meninada é regida no lendário barco Benjamim Guimarães.
“O principal objetivo é formar pessoas de boa reputação. Depois, bons músicos. O custo mensal gira em torno de R$ 18 mil.
A banda surgiu em março de 2011. De lá para cá, se apresentou em dezenas de cidades mineiras e de outros estados. O sonho da garotada é subir num palco no exterior, mas o desejo está condicionado à chegada de recursos, porque, como garante Oliveira, talento a meninada tem. Portas abertas também.
O cartão de visita é o famoso maestro Alex Domingos, um dos fundadores da vesperata, evento que atrai uma multidão de turistas a Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e cuja fama chegou aos outros continentes. Alex se mudou para Pirapora há quatro anos.
Nessa, os jovens músicos ocupam os três andares do Benjamim Guimarães, o único barco a vapor em atividade no planeta, enquanto o maestro, também rodeado pelo público, rege o grupo de um tablado no porto à margem direita do Rio São Francisco.
A apresentação reúne, no mesmo cenário, a banda de crianças e adolescentes e outros dois cartões-postais de Pirapora: o Velho Chico, o maior curso d’água exclusivamente brasileiro, com 2,8 mil quilômetros de extensão, e “o gaiola”, como ribeirinhos do Norte de Minas se referem ao Benjamim Guimarães, construído para navegar no Rio Mississipi (Estados Unidos) e adquirido por um empresário brasileiro na primeira metade do século passado.
NO LEITO DO RIO A próxima Sinfonia do Velho Chico ocorrerá hoje, às 20h – uma mesa com quatro lugares pode ser adquirida por R$ 80. O valor ajuda na manutenção da sinfônica. O repertório vai do clássico ao popular. Começa com Cisne Branco, de Antônio Manoel do Espírito Santo.
A canção é tida como o hino da Marinha – a corporação tem um quartel em Pirapora, tendo como uma das obrigações vigiar o leito do São Francisco, por se tratar de um rio que corta cinco estados: Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
O repertório inclui ainda sucessos populares de Tim Maia, Luiz Gonzaga, Jota Quest... O show dura cerca de uma hora e meia e encanta a orientadora educacional e psicopedagoga Bernadete Maria de Lourdes Rodrigues. Casada com o maestro Alex, ela é responsável por ensinar as partituras aos jovens da sinfônica. “É a parte da iniciação musical”, resume.
Joelma Santos, de 15, foi uma das primeiras a aprender a decifrar partituras na banda. Ela está no projeto desde o início.
Tom de Diamantina