Foi assim que o curral e o pasto deram lugar a praças, igreja, escolas e a um manso comércio. A história de Pintópolis – cujo nome curioso é homenagem ao sobrenome de família – começa quase 70 anos depois da inauguração de Belo Horizonte, até então o único município planejado no estado, construído pela comissão chefiada pelo engenheiro e urbanista Aarão Reis (1853-1936), e inaugurado em dezembro de 1897, sucedendo Ouro Preto como capital de Minas Gerais.
Leia Mais
Cidade planejada no interior de Minas "ostenta" tranquilidade no trânsitoMineiros divergem sobre histórias de cidades planejadasNatural de Mocambo, um povoado da vizinha São Francisco, Germano passa boa parte do dia na companhia de familiares – viúvo, ele teve 11 filhos, 49 netos e “um tanto” de bisnetos, como contabiliza. O sertanejo sempre tem tempo para uma prosa com amigos, principalmente quando o assunto é a fundação do município. Afinal, como ressalta, foi uma tarefa difícil.
Vídeo: fazendeiro conta história da criação da cidade
Primeiro, o homem acostumado na lida com o gado rabiscou num papel uma linha reta. Era o esboço do que seria a avenida principal, batizada com o nome do fundador. Ele sabia que um dia ia ouvir o barulho de automóveis no lugar onde antigamente só passavam carros puxados por juntas de garrotes. Hoje, a frota do município é de 1.186 veículos.
Naquele mesmo “mapa”, o sertanejo desenhou um quadrado.
Para iniciar o povoamento, Germano doou lotes. “Também vendi uns, por preço bem em conta. Negociei até fiado”, recorda-se. À medida que a população aumentava, o fundador fatiava a fazenda. Resultado: surgiram mais vias, quarteirões, e o comércio cresceu “um cadinho”.
DELEGADO, JUIZ DE PAZ, VEREADOR Mas alguém ainda precisava garantir a segurança pública. Foi assim que Germano, fazendeiro, fundador, espécie de prefeito, virou delegado – naquela época, cargo que não exigia concurso público ou graduação em direito. A cadeia improvisada funcionava no lote de sua própria casa. Depois, também foi o juiz de paz. E por duas vezes foi eleito vereador. Hoje, o prefeito é um de seus netos.
Germano tem orgulho do lugar. Ele mora em frente à praça das palmeiras, onde fica uma das imagens do Cristo Redentor – outra foi erguida na entrada do município. Da calçada, o fundador observa o vaivém de gente. O censo de 2010, o último divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informa que 7.211 pessoas moravam na cidade – 3.778 homens e 3.443 mulheres.
Para quem acha que se trata de qualquer cidadezinha, a extensão territorial é de 1.243 quilômetros quadrados, quase quatro vezes mais que a área de Belo Horizonte (332 quilômetros quadrados). Por outro lado, a densidade demográfica (5,8 habitantes por km2) nem chega perto da registrada na capital (7.157 habitantes por km2).
Pintópolis foi “desenhada” por Germano em 29 de agosto de 1964 – acaba de completou 51 anos.
Houve quem defendesse o batismo como Noroeste de Minas. Outros sugeriram Germanópolis, o que também seria uma homenagem ao fundador. Mas o sertanejo, dono de um coração tão bom a ponto de doar suas terras a pessoas que não conhecia, explica que Pintópolis é uma homenagem mais ampla, pois alcança todos os seus familiares.