Os governos de Minas Gerais e da Bahia vão pesquisar seus arquivos em busca de documentos que esclareçam a negociação que, em 1910, transferiu ao patrimônio mineiro um filete do território baiano, de 12 quilômetros de largura por 142 quilômetros de extensão, mostrada ontem pelo Estado de Minas. Trata-se do que seria o acesso de Minas ao mar, em trecho que vai da divisa entre os dois estados à cidade histórica de Caravelas, incluindo seus dois distritos: Ponta de Areia e Barra de Caravelas.
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Quase 150 quilômetros de terras no litoral baiano podem pertencer a Minas GeraisCaravelas, o "mar mineiro"Familiares de mineiro morto na Bahia marcam manifestação pelo esclarecimento do casoForça-tarefa é escalada para esclarecer história do "mar de Minas"A curiosa história da abertura mineira para o Atlântico tem início justamente com a ferrovia. A Baiminas, como moradores antigos se referem à linha férrea, ligou Ponta de Areia (BA) a Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. A maria-fumaça começou a apitar no trecho em 1881, na época do Império. Em 1966, o governo militar decidiram desativá-la, pois acreditou que o asfalto garantiria à região progresso melhor do que o conduzido pelos trilhos.
O caminho de ferro foi construído e gerenciado pela Companhia de Estrada de Ferro Bahia e Minas. Para garantir a construção da linha pela iniciativa privada, dom Pedro II (1825-1891) concedeu à empresa a posse de seis quilômetros de terras devolutas em cada uma das margens dos trilhos (total de 12 quilômetros). Já a extensão vai de Ponta de Areia à divisa entre os dois estados (142 quilômetros).
No fim do século 19, a empresa hipotecou as terras ao Banco de Crédito Real do Brasil.
Na década de 1940, o estado enviou ofício ao governo da Bahia, reivindicando a posse das terras. O governo vizinho não se manifestou sobre o assunto. A atual administração baiana informou que vai consultar os documentos para emitir um parecer. Da mesma forma, o governo de Minas. A Prefeitura de Caravelas não de retorno ao pedido de entrevista.
Parte do terreno que pode ser patrimônio mineiro integra uma área que abrange vários mangues. De acordo com o pesquisador de solos Carlos Hernesto Schaefer, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Sul da Bahia “é composto pelo maior conjunto de manguezais do Nordeste, e um dos maiores do Brasil”.
Testemunho de Brant
“É o fim da nostalgia do mar.
As terras marginais da estrada de ferro Bahia-Minas, com extensão de 142 quilômetros por 12 (quilômetros), seis para cada lado da linha férrea, ligando a terra mineira ao Atlântico, abrangendo Caravelas, Barra e Ponta de Areia, pertenceriam ao estado de Minas Gerais. ‘Seria isso verdade?’, perguntará o ansioso mineiro.
Trecho da reportagem “Olha aí o Mar de Minas” de Fernando Brant, em O Cruzeiro de 23 de maio de 1973
Confira um vídeo feito pela equipe do EM nos locais das reportagens:
O desejo dos mineiros de ter um lugar ao sol à beira do Atlântico não é novidade. Mas o fato curioso de Minas Gerais ter adquirido uma faixa de quase 150 quilômetros pelo território baiano até o litoral aguçou o imaginário dos internautas. Cerca de 800 pessoas compartilharam a reportagem publicada pelo Estado de Minas no Facebook do EM, reivindicando o espaço que seria legitimamente mineiro. Outros 400 usuários da rede curtiram a publicação. Muitos parabenizam Minas pela conquista, que completa 105 anos e que quase ninguém conhecia. Entre os comentários, houve quem fizesse piada, como Hemerson Henrique: “Já que Minas agora tem mar, não vou pro bar”. Confira outras reações à reportagem: A "nossa praia" é sucesso na rede
"Agora sim, não falta mais nada neste estado maravilhoso!"
Leandro Rodrigues
"Isso sim é praia do mineiro. Chega de Guarapari!"
Charle Rocha
"Até que cairia bem um pedacinho de mar pra gente..."
Poliana Alves
"Seria muito bom Minas tomar posse da praia, para o futuro dos mineirinhos"
Luciene Breder
"Bem que podia ser verdade mesmo. Ia acabar a zoação contra meu lindo estado."
Thiago Vieira
"E aí, vamos para a praia de Minas?"
Dângelo Silva
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