Jornal Estado de Minas

Intervenções do Mobicentro se arrastam e atrapalham pedestres

As intervenções, que deveriam durar 15 dias, já ultrapassaram o prazo e ainda não há data para a conclusão: risco para quem anda a pé - Foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A PRESS
Pedestres e motoristas que frequentam o Hipercentro de Belo Horizonte estão preocupados com o ritmo das obras de reorganização do trânsito no trecho formado por três esquinas: Afonso Pena com Tupinambás, Afonso Pena com Curitiba e Curitiba com Tupinambás. A previsão inicial de 15 dias de reformas no local não se concretizou. Passados 22 dias da primeira martelada, o avanço ainda é pouco visível, bem diferente dos transtornos. Pedestres passam no meio do canteiro de obras, o lixo se acumula nas valas abertas e os transeuntes perderam acessos antigos ainda sem ganhar novos. Uma fonte da BHTrans ouvida pela reportagem admite dificuldades para tocar as obras por conta da estrutura menos robusta da empresa responsável, a Construtora Alvarenga Santos. Um dos caminhos que a BHTrans busca para tentar ser mais ágil é uma licitação específica para as obras do Mobicentro, mas o edital foi suspenso ontem devido a questionamentos e impugnações dos participantes. Apesar disso, a BHTrans diz que não há problemas, já que existe um contrato que garante todas as obras necessárias para o trânsito da capital.

As modificações em questão fazem parte da segunda fase do Mobicentro no eixo Afonso Pena, cujas intervenções começaram em 28 de julho.
A previsão inicial de conclusão era 11 de agosto, mas ontem o cenário era de muito trabalho pendente. Na Curitiba com Afonso Pena, os avanços ainda são pouco visíveis. As valas indicam a nova geometria, mas o que se vê são entulhos que servem para juntar outros tipos de lixo, como pedaços de espelho amontoados. Já na Afonso Pena com Tupinambás, houve a retirada da faixa de pedestres antiga. Porém, como não há uma nova, as pessoas continuam atravessando no caminho antigo, que as direciona para a rua e não para o passeio. “Nesse ponto nós temos que redobrar a atenção. Sempre tenho que desviar de algum pedestre”, diz o taxista Jorge Augusto Rodrigues, de 23 anos, que critica a situação da obra que se arrasta, mas elogia as inversões do trânsito, que está fluindo melhor, segundo ele.

Já na esquina de Afonso Pena e Tupinambás, uma das frentes de obra está aberta para ampliar a calçada.
Como os carros agora entram na Tupinambás e não mais saem dela, é necessário mudar o formato da curva, avançando o passeio. Nesse pedaço, os pedestres andam no meio do canteiro de obras, o que preocupa a auxiliar administrativa Queila Marques, de 29 anos. “É claro que a gente tem a obrigação de olhar onde está andando. Mas, na correria da rotina, tem hora que eu me distraio e me assusto quando passo nesse pedaço. Às vezes tem alguma pedra solta”, diz.

Na esquina de Tupinambás com Curitiba, um dos problemas da obra que se arrasta é a ampliação da calçada sem a proteção de tela. O desenho da travessia joga as pessoas nesse ponto, ainda irregular pela falta de concreto. Dona de uma papelaria bem em frente, Cláudia Volpini reclama da situação. “Essa obra ilustra bem a falta de capacidade de gestão e planejamento.
Eles abrem várias frentes de obras em várias esquinas e não dão conta de tocar tudo ao mesmo tempo, prejudicando vários comerciantes”, afirma. Ela lembra que as intervenções também atrapalham a vida de pessoas que fazem tratamento na Associação Mineira de Reabilitação (AMR), que fica no Bairro Mangabeiras, Centro-Sul da capital. “Esse trecho é passagem entre o Move e o ponto de ônibus da Afonso Pena que vai para a AMR. Frequentemente meus funcionários precisam ajudar cadeirantes que não conseguem passar”, completa.


Lentidão repetida
Uma fonte da BHTrans confirmou à reportagem que a obra segue devagar por questões de estrutura da empresa responsável, que não tem condições de avançar de forma rápida em todas as frentes ao mesmo tempo, diminuindo o ritmo. Em abril, o Estado de Minas mostrou que a obra da primeira fase do eixo Afonso Pena do Mobicentro, nas ruas Espírito Santo e Tupis, arrastava-se da mesma forma. A responsável também foi a Alvarenga Santos. A reportagem procurou a construtora, mas ninguém foi encontrado para comentar o caso. Um dos funcionários ouvidos informou que a firma tem encontrado muita interferência para realizar os serviços, principalmente no que se refere ao remanejamento de tubulações subterrâneas de vários tipos. Outro problema seria a complexidade das pedras usadas nos meios-fios tombados pelo patrimônio municipal, que são muito pesadas e demandam a presença de máquinas para serem movidas.
“Nossa conversa com a BHTrans é para terminar a obra até dia 30. Vamos reforçar a equipe e intensificar as ações nos fins de semana para dar conta”, afirma.

A BHTrans afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que o adiamento do edital exclusivo para as obras do Mobicentro não preocupa, já que o contrato em vigor para tocar as obras no trânsito da cidade garante todas as intervenções que forem projetadas para reorganizar o tráfego no Centro de Belo Horizonte. A empresa sustenta que a interrupção foi determinada para esclarecer pontos levantados pelos participantes e o certame deverá ser retomado. Sobre as intervenções da fase 2 do Mobicentro na Afonso Pena, a empresa prometeu reforçar a segurança nos locais apontados pela reportagem, mas preferiu não firmar novo prazo.

Reorganização 


O Mobicentro é um programa de reorganização do trânsito na Região Central de Belo Horizonte desenvolvido pela BHTrans com o objetivo de aumentar a segurança dos pedestres nas travessias. Muitas das modificações previstas foram pensadas para reduzir os tempos de semáforo de três estágios para dois, aumentando o período destinado à circulação do transeunte em um cruzamento. Desde outubro de 2013, o projeto já viabilizou 21 modificações. Assim que as obras da Avenida Afonso Pena com as ruas Curitiba e Tupinambás forem concluídas, estão previstas mais duas mudanças. Uma é reordenação do tráfego no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena com a Rua Cláudio Manoel, no Bairro Funcionários, Centro-Sul da capital. A outra é uma modificação no cruzamento da Avenida Amazonas com a Rua Araguari, Bairro Santo Agostinho, na mesma região. O projeto conta com financiamento de R$ 50 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

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