As ruas de Belo Horizonte foram tomadas por uma “epidemia de febre amarela” há exatamente um ano. Mas não foi ataque do mosquito transmissor da doença. Em 14 de junho de 2014, Colômbia e Grécia fizeram a primeira partida da Copa do Mundo na capital mineira. O que se viu no Mineirão, na Savassi, no Expominas e em outros pontos de concentração foi um mar de torcedores vestidos de amarelo, mais do que o suficiente para batizar a multidão com a expressão “febre amarela”. Um ano depois da primeira invasão de uma torcida estrangeira em BH na Copa, estimada em 30 mil fanáticos, moradores da capital, comerciantes da Savassi, funcionários de hotéis e os próprios torcedores do país dos jogadores James Rodriguez e Falcao García lembram com nostalgia a festa que protagonizaram em BH, muitas vezes torcendo lado a lado com os brasileiros e unidos pela alegria e pela cor das duas camisas.
“Em Belo Horizonte, a Colômbia ganhou sua primeira partida depois de ficar 16 anos sem participar de uma Copa do Mundo. O estádio era uma festa só. Nas ruas, era só alegria. Pessoas de outros países celebravam o nosso triunfo.
Já Juan José Botero, 54 anos, colombiano que vive em Vancouver, no Canadá, é só elogios. “Ficamos com grandes amigos que nos abriram as portas e apresentaram a hospitalidade brasileira. Participar de uma Copa do Mundo como torcedor foi uma das melhores experiências da minha vida. E ter a chance de encontrar tantos brasileiros maravilhosos fez essa experiência ficar ainda melhor”, elogia. A felicidade de entrar no Mineirão foi indescritível. Um ano depois, de volta a Vancouver, Juan vestiu de novo a camisa amarela esperando um bom resultado na Copa América que está sendo disputada no Chile.
O ponto mais procurado pelos colombianos fora do estádio e da fan fest montada no Expominas foram os quarteirões fechados da Praça da Savassi. Os goles em copos de cerveja e as caipirinhas estreitavam cada vez mais os laços entre colombianos e brasileiros, mas uma das donas do bar e restaurante Baiana do Acarajé diz que a comida baiana pegou em cheio os turistas sul-americanos. “Eles batiam a mão na barriga e só diziam que estavam com fome. Muitos chegavam já com o nome do prato que queriam. Vendemos bastante acarajé para os colombianos”, conta Ana Lúcia Gomes Melo, uma das integrantes da família que comanda o restaurante. Como lembrança da passagem de um povo que ela classificou como tão animado, Ana Lúcia e o marido ficaram com um cachecol com as cores do país vizinho.
O irmão de Ana Lúcia, Odair José Gomes Melo, se lembra da festa protagonizada pelos vizinhos.
Aproveitando a presença maciça de torcedores estrangeiros em Belo Horizonte, o empresário Sílvio Cruz, de 32 anos, recebeu colombianos, argentinos, paraguaios, chilenos, norte-americanos e alemães em sua casa, no Bairro Jaraguá, na Pampulha. Três “súditos” de James Rodriguez e Falcao García passaram pelo quarto destinado aos hóspedes internacionais. Dois são moradores da Suécia e a outra mora em São Paulo. “A torcida colombiana bateu de 10 a 0 todas as outras. É claro que os argentinos empolgaram bastante pela forma de torcer, mas os colombianos eram os mais animados. Nem em jogo do Cruzeiro ou do Atlético vi a cidade tão vestida de uma única cor como aconteceu com a invasão colombiana em BH”, afirma.
ARRASTÃO
O lado negativo da festa em BH foi a prisão de um grupo de colombianos fazendo arrastão no Centro. Na madrugada de 18 de junho de 2014, 18 pessoas de Cáli foram flagradas por policiais militares roubando celulares, dinheiro, relógios e documentos. Eles haviam saído de um hotel na Rua Guaicurus, onde não pagaram a conta e ainda tentaram roubar toalhas e cobertores, segundo a direção do estabelecimento. Detidos com facas e estiletes, depois de agredir as vítimas, eles alegaram que estavam no Parque Municipal sem lugar para ficar e que teriam sido assaltados, o que teria motivado a reação para tentar recuperar os pertences roubados..