Uma combinação de problemas que isoladamente já seriam o bastante para travar Belo Horizonte esgotou a paciência de quem precisou se deslocar pela capital na sexta-feira, dia em que normalmente a circulação já é cheia de obstáculos. Os problemas começaram com a paralisação dos transportes pela manhã, aumentaram com novos protestos ao longo do dia e atingiram o ponto alto à noite, quando a Praça Sete foi fechada, transformando em um inferno a volta para casa de quem trabalhou o dia inteiro. Cerca de 350 representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e dos servidores técnico-administrativos da UFMG e do Cefet-MG haviam se concentrado na Praça Afonso Arinos, durante a tarde, e depois seguiram pela Afonso Pena, que ficou totalmente fechada no sentido rodoviária. Outros manifestantes engrossaram o ato e, de acordo os organizadores, milhares de pessoas se concentraram no cruzamento das avenidas Amazonas e Afonso Pena por cerca de 30 minutos. Tempo suficiente para gerar reflexos nos principais corredores de acesso à área central, como as avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado e Nossa Senhora do Carmo. Ao todo, segundo o site Maplink, foram 103 quilômetros de congestionamento na cidade na noite de ontem.
Logo pela manhã já havia uma amostra do que seria a sexta-feira na capital. A paralisação dos metroviários, desobedecendo decisão judicial que determinava escala mínima, deixou as 19 estações do metrô na Grande BH fechadas e obrigou 220 mil pessoas a usarem o sistema de ônibus. Aproveitando o dia nacional de greves e paralisações em protesto contra as terceirizações e o ajuste fiscal, rodoviários de BH também entraram no movimento e fecharam as estações Vilarinho, Pampulha, Barreiro e Diamante.
E ela começou a ser preparada bem cedo, às 5h15, quando as portas das estações do metrô não se abriram. Sem os trens, uma das opções foi o Move, sobrecarregando estações como a Vilarinho, em Venda Nova, que tem a integração entre os dois meios de transporte. O problema é que a catraca de acesso entre o metrô e o Move não contava nem mesmo com fiscais do Transfácil no início da manhã. Agentes da BHTrans não foram vistos antes das 8h. Perdidos, passageiros que ainda não conhecem o Move perguntavam onde pegariam os ônibus até o Centro e também para a Avenida Cristiano Machado, principais destinos de quem ficou sem a opção do metrô. “Saí de Lagoa Santa (Grande BH) e estou totalmente perdida. Não faço ideia de onde pego o Move para a Cristiano Machado”, afirmava a comerciária Fernanda Guedes, de 38 anos. “É a primeira vez que entro nesta parte da estação. Não sei onde passa o ônibus que preciso”, dizia o auxiliar de eletricista Alcenir da Silva, de 22.
Passados os momentos mais tensos, quando a situação caminhava para a normalidade mesmo sem o metrô, um grupo de 30 pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de BH e Região Metropolitana fechou o acesso dos ônibus alimentadores à Estação Vilarinho. Rapidamente, a fila se estendeu pela Avenida Vilarinho e também afetou as linhas troncais. Durante meia hora, entre 8h26 e 8h56, o terminal ficou fechado, sem chegadas e partidas, gerando caos no entorno.
Na Estação Pampulha, o quadro foi o mesmo, embora tenha começado mais cedo. Segundo funcionários da BHTrans, desde 6h30 um grupo de rodoviários bloqueava o acesso das linhas alimentadoras, obrigando passageiros a descer na rua e caminhar até o terminal. Por volta das 7h, os manifestantes fecharam os dois lados da estação, travando a saída e a chegada de passageiros de linhas troncais. O trânsito na Pedro I e na barragem da Pampulha ficou caótico. Só com a presença da Polícia Militar os manifestantes liberaram o caminho. A BHTrans informou que só por volta de 9h40 a situação foi completamente normalizada na Pampulha. O mesmo problema foi observado nas estações Barreiro e Diamante, no do Barreiro.
Para engrossar o caldo, no Centro de BH dois grupos fizeram passeatas. O Movimento dos Sem-Terra (MST) fechou vias no entorno da Praça da Estação, antes de chegar ao cruzamento das avenidas Afonso Pena e Álvares Cabral, onde ocupou parte do prédio do Ministério da Fazenda. Servidores da Prefeitura de Belo Horizonte também resolveram dar sua contribuição para o bolo. Eles se reuniram no Centro, onde cerca de 250 pessoas saíram da Rua Rio de Janeiro e caminharam até a Praça Sete, deixando apenas parte das vias livre para a circulação do trânsito.
Um bolo em toda a BH
Confira o caos na capital, hora a hora
5h15 - 19 estações do metrô amanhecem fechadas na Grande BH
5h30 - Metalúrgicos fecham a Avenida Amazonas, na Cidade Industrial
6h - Rodoviários fecham as estações BHBus Barreiro e Diamante
6h30 - Rodoviários bloqueiam a chegada de ônibus de linhas alimentadoras à Estação Pampulha
7h - O bloqueio passa para as linhas troncais e a Estação Pampulha fica inoperante, provocando filas intermináveis na Avenida Antônio Carlos
7h - Metalúrgicos bloqueiam a BR-040, em Congonhas
7h30 - Integrantes do MST se deslocam da Praça da Estação para o Ministério da Fazenda
7h40 - Uma van derruba um semáforo na Avenida Amazonas, em frente o Cefet II, e ocupa duas faixas no sentido bairro
8h26 - Rodoviários bloqueiam o acesso de ônibus à Estação Vilarinho, desencadeando um congestionamento nas imediações
8h56 - Liberada a Estação Vilarinho
9h07 - Liberada a BR-040 em Congonhas
9h25 - Chegada dos integrantes do MST ao Ministério da Fazenda e ocupação da entrada do prédio na Afonso Pena com Álvares Cabral
9h37 - Normalização das estações Diamante e Pampulha
11h - Início do deslocamento dos servidores da Prefeitura de BH, da Rua Rio de Janeiro em direção à Praça Sete
11h30 - Chegada dos servidores à Praça Sete, sem fechamento de tráfego
17h - Início da passeata dos representantes da CUT e servidores da UFMG
18h - Fechamento da Praça Sete
18h30 - Liberação do trânsito