Jornal Estado de Minas

Grades no edifício JK não são autorizadas

Landercy Hemerson

Gradil isola o conjunto da Praça Raul Soares. Fundação Municipal de Cultura diz que intervenção é irregular - Foto: Tulio Santos/EM/D.A Press

 

A instalação de grades em parte do Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de Belo Horizonte, foi considerada irregular pela Fundação Municipal de Cultura (FMC). Por meio de nota, a Diretoria de Patrimônio Cultural da FMC afirmou que não houve autorização para o cercamento que isolou o condomínio, mais conhecido como Conjunto JK, da Praça Raul Soares. A diretoria não confirmou se há denúncia formal em relação à intervenção no complexo arquitetônico, projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950, que é considerado integrante da área de proteção da Raul Soares. Em caso de queixa, a gerência da Regional Centro-Sul será acionada para fiscalizar e retirar o equipamento.

“A instalação foi feita irregularmente. O JK tem processo de tombamento aberto e qualquer intervenção deveria ser previamente aprovada pelo Conselho do Patrimônio”, destacou a nota. “Mesmo se não houvesse processo aberto, o JK faz parte do conjunto urbano protegido da Praça Raul Soares e, conforme a legislação urbanística, qualquer intervenção em área protegida deve ser precedida de aprovação pelo patrimônio”, completa o texto.

A administração do JK foi procurada, mas não se manifestou sobre a situação. Por meio de um funcionário do conjunto, que teve a parte extrena do Bloco B cercada, o Estado de Minas apurou que há pouco mais de um mês teve início a colocação das grades, como forma de impedir que moradores de rua fizessem do espaço abrigo e depósito de material reciclável que recolhem nas ruas.

O comerciante Elmano Elaoud, único estabelecido na área cercada, ficou surpreso com a informação de que a iniciativa da administração do conjunto não havia sido autorizada. “O objetivo da grade é a própria preservação do prédio.

Antes, aqui havia vários carrinhos cheios de papelão e moradores de rua colocando fogo, provocando ameaça de incêndio. Estou aqui há oito meses e, neste período, houve vários comunicados à prefeitura, mas nada foi feito para evitar os transtornos para os moradores e para pessoas que passam pela calçada, já que o espaço virou ponto de tráfico de drogas, banheiro público e local para pessoas manterem relações sexuais”, protestou o comerciante.

Uma moradora do prédio, que preferiu não ser identificada, conta que evitava passar próximo à área que tinha sido ocupada pelos moradores de rua. “Preferia dar a volta, pois me sentia intimidada. A grade os tirou das proximidades do prédio, mas eles foram para a praça (Raul Soares), onde à distância é possível ver que fazem uso de drogas durante todo o dia”, disse ela, que vive no JK há 20 anos e afirma que há um ano a situação no local ficou mais tensa, com a chegada de vários andarilhos.

A fisioterapeuta Terezinha Malta, de 42 anos, passa com seu filho, Gabriel, de 8, próximo ao espaço isolado quando vai buscá-lo na escola. “Os moradores de rua estavam depredando o espaço e não respeitavam quem passava pelo local. É uma pena ter que colocar a grade, mas ela trouxe segurança para quem passa pela calçada. Durante todo o dia, ficavam pelo menos 20 pessoas no local, fazendo uso de droga e até necessidades fisiológicas, em meio a um monte de sujeira”, descreveu.

Monumento

O Conjunto JK foi arquitetado por Oscar Niemeyer e construído graças ao então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, motivo pelo qual o edifício recebeu seu nome. O objetivo de JK era atenuar a crise de moradias que afetava a classe média, proporcionando habitações de alto padrão a custos baixos. A obra foi encomendada em 1952 e teve início no ano seguinte, porém, sua conclusão só foi ocorrer em 1970.

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