Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, onde o jornalista Evany José Metzker, 67 anos, foi decapitado no dia 14, era uma cidade pacata, onde a população deixava portas, janelas e carros abertos e as pessoas andavam nas ruas sem medo. Mas a tranquilidade foi substituída pelo medo e pela violência. E não é um caso isolado. O crescimento do número de homicídios, assaltos à mão armada, roubos, explosão de caixas eletrônicos e tráfico de drogas, entre outros, que já atormenta os grandes centros, chegou as pequenas cidades do Norte de Minas e dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, as mais pobres do estado, onde a falta de estrutura e o baixo efetivo das polícias Militar e Civil facilitam a escalada da violência.
Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) indicam que, nos primeiros quatro meses deste ano, a 15ª Regional Integrada de Segurança Pública (Risp), de Teófilo Otoni, que abrange Padre Paraíso, registrou 677 crimes violentos (homicídios e estupros tentados e consumados, assaltos, roubos, sequestros e cárcere privado), um média mensal de 169. Em 2014 inteiro, a média mensal foi de 141 crimes.
Em Padre Paraíso, foram 35 crimes violentos de janeiro a abril, média de 8,7 por mês, excluindo o assassinato de Metzker, e outras ocorrências já registradas neste mês. Em todo o ano passado, foram 49 crimes dessa natureza no município, média de quatro por mês. O número de assassinatos deste ano, incluindo a morte do jornalista, já bateu o do ano passado, quando ocorreram três. Este ano, já são quatro assassinatos.
O avanço da violência interrompe projetos de vida.
Ele lembra que o primeiro assalto à casa lotérica ocorreu no fim de 2013, quando, próximo ao horário do fechamento, dois homens armados renderam o gerente e um funcionário – ele não se lembra quanto foi levado. Em novembro de 2014, ao meio-dia de um movimentado sábado, dia de feira livre na cidade, dois homens armados não se intimidaram com a grande fila na lotérica, renderam funcionários e levaram R$ 1,8 mil. Em seguida, fugiram numa moto.
Segundo o aposentado, no início deste ano, além de assaltos à agência dos Correios e à casa lotérica, os moradores também foram aterrorizados por uma quadrilha, que na madrugada de 12 de maio, explodiu o caixa eletrônico de uma agência bancária na cidade. Na fuga, os bandidos atiraram nos vidros dos carros estacionados perto da agência.
O aumento da criminalidade na cidade também assusta o comerciante Roberto Caires, dono de uma mercearia. “Vivemos um clima de insegurança. Na cidade, existem poucos policiais e ficamos reféns dos criminosos”, lamenta Caires, lembrando que o município tem um pelotão da Polícia Militar com apenas dois veículos.
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