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Estado de Minas

Polícia vasculha vida de jornalista decapitado em busca de pistas sobre motivação do crime

Policiais estão atrás de pistas para esclarecer assassinato de Evany Metzker, que foi decapitado e tinha sinais de tortura. Filho fala ao EM e diz estar com medo de ser morto


postado em 22/05/2015 06:00 / atualizado em 22/05/2015 20:36

Local onde corpo do jornalista foi encontrado por militares foi visitado ontem por equipe de investigadores(foto: Valseque Bomfim /Lente do Vale/divulgação)
Local onde corpo do jornalista foi encontrado por militares foi visitado ontem por equipe de investigadores (foto: Valseque Bomfim /Lente do Vale/divulgação)

As publicações que o jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, fazia nos blogs Coruja do Vale e Lentes do Vale, as páginas que ele mantinha na internet e suas relações com políticos, autoridades e moradores da região dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri estão sendo vasculhadas pela Polícia Civil em busca de pistas que expliquem seu assassinato, ocorrido de maneira violenta. Desaparecido desde o dia 13, ele foi encontrado segunda-feira, na zona rural de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, decapitado e com sinais tortura. Metzker mantinha um blog na internet e no Facebook onde noticiava crimes violentos, roubos, assaltos, circulação de veículos roubados e carteiras falsas que vêm sendo registrados na região, principalmente em Padre Paraíso, e também críticas contra administrações municipais e cobranças para a melhoria da segurança pública na cidade.

Somente este ano em Padre Paraíso, foram registrados pelo menos quatro execuções. Duas delas foram de jovens baleados a luz do dia com tiros na cabeça. Um casal também foi executado em janeiro com tiros na testa e na nuca. Ano passado, uma família inteira foi chacinada na zona rural da cidade, entre elas um garoto de sete anos. Nenhum dos homicídios foi esclarecido. Em uma de suas postagens no Facebook, Metzker acusava o município de ser uma cidade sem lei. Seus textos eram, algumas vezes, alvo de comentários raivosos, tanto no Coruja do Vale quanto no Lentes do Vale, por “mancharem a imagem da cidade”.

No dia do seu desaparecimento, uma operação da Polícia Militar, determinada pela Justiça, cumpriu mandados de busca e apreensão na cidade em busca de armas e drogas. Padre Paraíso é cortada na zona urbana pela BR-116 e é tida como rota de exploração sexual infantil, tráfico de drogas e roubo de carga que, de acordo com moradores, sob controle de uma organização criminosa sediada no Rio de Janeiro. Relatam ainda que os criminosos promovem lavagem de dinheiro por meio da compra de grandes extensões de terra na região. O lugar onde o corpo de Metzker foi encontrado, segundo moradores, seria o mesmo onde são feitos pousos clandestinos de helicópteros.

TEMOR Nessa quinta-feira à tarde, o Estado de Minas localizou o estudante W. M, de 17, filho de Metzker, que, além de muito chocado, confessou estar amedrontado. Ele disse que tem convicção de que o pai foi morto por causa do trabalho e teme pela própria vida. “Tenho medo de ser o próximo alvo. O meu medo é que essa quadrilha que fez isso com meu pai, ao tomar conhecimento da minha existência, possa querer me eliminar também, até por achar que eu possa querer algum tipo de vingança”, disse o adolescente, matriculado no primeiro período de um curso universitário.

O estudante mora com a mãe, que viveu com Evany Metzker durante cinco anos, enquanto ele morou em Montes Claros, antes do jornalista se mudar para Medina (Vale do Jequitinhonha), há mais de 11 anos. O adolescente contou que teve muito pouco contato com o pai e que tomou conhecimento da morte dele pela televisão. “Mesmo com o pouco contato que tinha com ele, foi um choque muito grande. Afinal de contas, era meu pai”, afirmou. “Achei uma grande covardia ele ser morto com as mãos amarradas e ainda ter a cabeça decepada.”

Ele revelou ainda que ficou tão abalado e amedrontado, diante da crueldade em que o jornalista foi assassinado, que não fez esforço para ir ao sepultamento, que ocorreu em Medina, na madrugada de terça-feira. “Não fiquei sabendo direito onde e quando seria o enterro. Mas fiquei com muito medo e nem me interessei em ir ao sepultamento do meu pai”, declarou.

Repercussão internacional

A morte do jornalista Evany José Metzker causou repercussão internacional e foi noticiada em jornais da Espanha, Argentina, Inglaterra e Alemanha. A equipe do Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), enviada da capital para Padre Paraíso, por determinação do governo do estado, esteve ontem no local em que o corpo foi encontrado. Os policiais liderados pelo delegado Emerson Morais, o mesmo que investigou em 2013 a morte de dois jornalistas no Vale do Aço, mortos por integrantes da polícia, foram em busca de algum vestígio que possa ajudar na sequência das investigações, iniciadas, na segunda-feira, pela equipe da delegada de Padre Paraíso, Fabrícia Noronha.

Nesta fase da investigação, estão sendo ouvidas pessoas do convívio de Metzker, assim como há uma tentativa de reprodução dos últimos passos da vítima. Até agora, oito pessoas já foram entrevistadas e ouvidas formalmente em cartório, pelas duas equipes. Segundo o delegado Emerson Morais, os trabalhos continuam nos próximos dias, sem prazo previamente determinado para a conclusão, porque não há somente uma linha de investigação. “Nenhuma linha investigativa pode ser descartada. Temos de trabalhar com todas as possibilidades, com apuração detalhada, criteriosa e abrangente”, enfatizou.

Ainda de acordo com o delegado Emerson Morais, não há qualquer registro formal de ameaças que Metzker tenha recebido. No entanto, as possíveis ameaças serão investigadas, inclusive com novo depoimento da viúva, Ilma Chaves Silva Borges. O jornalista era considerado na cidade uma pessoa polêmica. Algumas relatam que ele investigava exploração sexual infantil ou afirmam que ele era “pouco cauteloso” no exercício da profissão e que vinha conquistando inimigos.Ele mantinha três perfis no Facebook. Um deles era lotado de páginas de meninas e jovens em poses eróticas.

O jornal inglês The Guardian entrevistou o coordenador de Comitê Internacional de Proteção aos Jornalistas, com sede em Nova York, Carlos Lauria. Segundo ele, nos últimos quatro anos, 14 jornalistas foram assassinados no país. "Por causa da retaliação ao trabalho, o Brasil é um país mito perigo para jornalistas”.


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